31 de outubro de 2016
Nas minhas palestras, eu costumo fazer
uma reflexão sobre algumas das coisas que aprendi sobre a igualdade
entre os gêneros, nessa minha experiência de “executivo que virou dono
de casa”. Uma delas foi perceber que os exemplos que damos aos nossos
filhos são fundamentais. E nesse contexto, insere-se também a igualdade
entre os gêneros. Ela deve ser ensinada em casa e muitas vezes os pais
não percebem a importância que têm nesse papel.
Certos comportamentos que temos com os
nossos filhos, por mais bobinhos e despretensiosos que sejam, podem
estar reforçando a ideia de que homens e mulheres devem ter papéis
diferentes na sociedade. Quantas vezes não dizemos para nossos meninos
que “homem não chora” ou “não brinca de boneca”? Quantas vezes não
ensinamos nossas filhas que “mulher tem que aprender a cozinhar” ou
“jogar futebol é coisa de menino”? Quem nunca caiu nessas armadilhas,
que atire a primeira pedra.
Todos nós podemos errar, mas é preciso
lembrar que não há mais papéis predefinidos nem na sociedade, nem na
casa da gente. Por isso, devemos estar atentos para não reproduzirmos
com nossos filhos os mesmos conceitos que ouvimos dos nossos pais.
Um estudo realizado recentemente no
Brasil pela Plan international, que é uma organização mundial que luta
pelos direitos das crianças, traz dados concretos sobre como educamos
nossos filhos e de como ainda estamos longe de promover a igualdade
dentro das nossas casas.
Nesse estudo, intitulado “Por ser menina
no Brasil, crescendo entre direitos e violências”, a Plan entrevistou
1.771 meninas entre 6 e 14 anos nas cinco regiões do País e os
resultados mostram como nossas crianças ainda são educadas num cenário
de absoluta desigualdade na distribuição das tarefas domésticas. Apenas
para citar alguns exemplos, 81,4% das meninas relataram que arrumam a
própria cama, tarefa que só é executada por 11,6% dos irmãos meninos.
Entre as meninas, 76,8% das meninas lavam a louça e 65,6% limpam a casa.
Nos meninos, esses índices foram de apenas 12,5% e 11,4%,
respectivamente.
Essa pesquisa nos ajuda a entender os
motivos pelos quais as mulheres ainda têm muita dificuldade de acesso a
oportunidades iguais, a começar pela escola. Desde muito cedo, as
meninas recebem esse papel de cuidadoras. Como elas gastam mais tempo
com as tarefas domésticas, certamente sobra menos tempo para estudar,
por exemplo. Na fase adulta, esse fenômeno acaba se repetindo também no
mercado de trabalho.
Vale a pena refletir sobre a maneira
como criamos nossos filhos e o que esperamos deles no futuro. A
cooperação nas atividades domésticas é importante para o
desenvolvimento de meninas e meninos e talvez, mais importante do que
isso, seja uma boa ferramenta para ensinar a igualdade e o respeito.
*Cláudio
Henrique dos Santos, jornalista, escritor e palestrante é autor dos
livros “Macho do Século XXI” e “Mulheres modernas, dilemas modernos – E
como os homens podem participar de verdade”. Participou do Papo de Mãe
sobre homens que são donos de casa.
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