sábado, 23 de novembro de 2019

Estamos educando nossos filhos para a igualdade?



Por Cláudio Henrique dos Santos*, jornalista, escritor e palestrante 

Nas minhas palestras, eu costumo fazer uma reflexão sobre algumas das coisas que aprendi sobre a igualdade entre os gêneros, nessa minha experiência de “executivo que virou dono de casa”. Uma delas foi perceber que os exemplos que damos aos nossos filhos são fundamentais. E nesse contexto, insere-se também a igualdade entre os gêneros. Ela deve ser ensinada em casa e muitas vezes os pais não percebem a importância que têm nesse papel.
Certos comportamentos que temos com os nossos filhos, por mais bobinhos e despretensiosos que sejam, podem estar reforçando a ideia de que homens e mulheres devem ter papéis diferentes na sociedade. Quantas vezes não dizemos para nossos meninos que “homem não chora” ou “não brinca de boneca”? Quantas vezes não ensinamos nossas filhas que “mulher tem que aprender a cozinhar” ou “jogar futebol é coisa de menino”? Quem nunca caiu nessas armadilhas, que atire a primeira pedra.
Todos nós podemos errar, mas é preciso lembrar que não há mais papéis predefinidos nem na sociedade, nem na casa da gente. Por isso, devemos estar atentos para não reproduzirmos com nossos filhos os mesmos conceitos que ouvimos dos nossos pais.
Um estudo realizado recentemente no Brasil pela Plan international, que é uma organização mundial que luta pelos direitos das crianças, traz dados concretos sobre como educamos nossos filhos e de como ainda estamos longe de promover a igualdade dentro das nossas casas.
Nesse estudo, intitulado “Por ser menina no Brasil, crescendo entre direitos e violências”, a Plan entrevistou 1.771 meninas entre 6 e 14 anos nas cinco regiões do País e os resultados mostram como nossas crianças ainda são educadas num cenário de absoluta desigualdade na distribuição das tarefas domésticas. Apenas para citar alguns exemplos,  81,4% das meninas relataram que arrumam a própria cama, tarefa que só é executada por 11,6% dos irmãos meninos. Entre as meninas, 76,8% das meninas lavam a louça e 65,6% limpam a casa. Nos meninos, esses índices foram de apenas 12,5% e 11,4%, respectivamente.
Essa pesquisa nos ajuda a entender os motivos pelos quais as mulheres ainda têm muita dificuldade de acesso a oportunidades iguais, a começar pela escola. Desde muito cedo, as meninas recebem esse papel de cuidadoras. Como elas gastam mais tempo com as tarefas domésticas, certamente sobra menos tempo para estudar, por exemplo. Na fase adulta, esse fenômeno acaba se repetindo também no mercado de trabalho.
Vale a pena refletir sobre a maneira como criamos nossos filhos e o que esperamos deles no futuro. A cooperação nas atividades domésticas é importante para o desenvolvimento de meninas e meninos e talvez, mais importante do que isso, seja uma boa ferramenta para ensinar a igualdade e o respeito.
*Cláudio Henrique dos Santos, jornalista, escritor e palestrante é autor dos livros “Macho do Século XXI” e “Mulheres modernas, dilemas modernos – E como os homens podem participar de verdade”. Participou do Papo de Mãe sobre homens que são donos de casa.

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