“O ideal seria um imposto único sobre valor agregado”, defende Lair Hanzen
Se o Brasil é o celeiro do
mundo, muito deve-se aos fertilizantes, que possibilitaram o aumento da
produção independentemente da expansão das terras agriculturáveis. Dos
anos 1990 até 2018, o consumo global subiu 40%, enquanto o uso nacional
de fertilizantes praticamente quadruplicou. Ano após ano, o agronegócio
verde-e-amarelo bate recordes no consumo de fertilizantes, mas boa parte
do que é utilizado no solo brasileiro vem de fora. Fatores como
tributação e indisponibilidade de recursos naturais fazem com que mais
de 80% dos químicos sejam importados.
A
alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de
Serviços (ICMS) de fertilizantes é um dos grandes impeditivos para a
competitividade do setor, defende Lair Hanzen (foto), presidente da Yara
Brasil, já que a venda interestadual é taxada em um percentual acima do
imposto que incide para os fertilizantes estrangeiros entrarem no país.
“O governo, em geral, está endereçando questões. Mas a maior batalha
será a Reforma Tributária, que interfere diretamente no agronegócio. O
ideal seria um imposto único sobre valor agregado”, acredita Hanzen.
Aliado à precariedade da infraestrutura e da logística local, também há a
questão dos fretes. “Balizar preços é fora da sintonia com uma economia
moderna. É um exemplo muito negativo da interferência do Estado”,
exemplifica. O executivo esteve no evento Tá na Mesa, tradicional evento
promovido pela Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul
(Federasul) nesta quarta-feira (27), em Porto Alegre.
Com
expectativa de crescimento entre 1% e 2%, o setor assiste de forma
positiva a alta do câmbio. Ainda que substâncias químicas, como cloreto
de potássio, nitrogênio e fosfato, sejam massivamente importadas, o
dólar favorece a comercialização de commodities. “Dólar forte é bom para
a agricultura. Mais preocupante que o valor, é a variação cambial. O
produtor está mais capitalizado e os bancos também estão vendo nisso uma
oportunidade”, acredita Hanzen.
Para
diminuir a dependência das importações, a Yara tem focado em dois
projetos. O Complexo Mineroindustrial de Serra do Salitre (CMISS), em
Minas Gerais, está em fase de conclusão da planta química, com entrega
total do projeto já no ano que vem. A planta permite substituir a
importação de 400 mil toneladas por ano do composto químico P2O5. Já no
Rio Grande do Sul, as obras do Complexo de Rio Grande (RS) devem
terminar na metade de 2020. O empreendimento está recebendo
investimentos de quase R$ 2 bilhões para ser transformado no maior em
fertilizantes na América Latina. “Vai duplicar a capacidade de produção e
mistura e será a nossa primeira planta totalmente automatizada. A
primeira do país com ensaque e carregamento sem contato humano. Queremos
terminar com o carregamento das sacas por trabalhadores em todas as
nossas novas plantas”, revela o presidente. A empresa pretende chegar a
2025 com capacidade produtiva anual de 2,6 milhões de toneladas. Hoje, a
Yara detém 25% do market share nacional e 35% do mercado gaúcho.
A
estimativa é que o complexo situado no Rio Grande do Sul suprirá a
demanda dos agricultores brasileiros de vários estados nos próximos 25
anos. O projeto prevê a inauguração de novos armazéns, instalação de
novas plantas de granulação, de acidulação e de ensacados (50 quilos) e
big bags (1 tonelada) totalmente automatizadas. Em produção, a Yara vai
passar, após a conclusão dos investimentos, de 750 mil de toneladas para
1,2 milhão de toneladas de fertilizantes/ano, enquanto em distribuição,
a empresa irá de 1,7 milhão para 2,5 milhões da capacidade de ensaque e
mistura (para o cliente final), além de mais 1 milhão de toneladas
endereçadas à outras unidades da Yara.
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