O meu blog é HOLÍSTICO, ou seja, está aberto a todo tipo de publicação (desde que seja interessante, útil para os leitores). Além disso, trata de divulgar meu trabalho como economista, escritor e compositor. Assim, tem postagens sobre saúde, religião, psicologia, ecologia, astronomia, filosofia, política, sexualidade, economia, música (tanto minhas composições quanto um player que toca músicas de primeira qualidade), comportamento, educação, nutrição, esportes: bom p/ redação Enem
sábado, 23 de novembro de 2019
SEDENTÁRIOS e grudados a uma tela: o que mostra o maior estudo mundial sobre a atividade física de JOVENS
Segundo
os dados divulgados nesta sexta-feira, 80% dos adolescentes do mundo
não fazem o mínimo de exercício recomendado. Para as meninas, os números
são ainda piores
Menino na seção de doces de um supermercado.UNICEF/UNI209833/Karimova
Os especialistas já há algum tempo vêm alertando que os jovens não fazem todo o exercício físico
que deveriam. Agora temos a confirmação: 80% dos adolescentes (11 a 17
anos) em todo o mundo não fazem a atividade diária mínima para estarem
saudáveis. E os especialistas não falam só de praticar esportes, e sim
de ações básicas como caminhar até a escola ou jogar bola com os amigos
no parque. Os padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS) falam de uma hora diária de movimento. Estes dados ganham agora uma nova relevância se levarmos em conta a epidemia de obesidade que alcançou praticamente todos os países do mundo.
Quatro
cientistas da entidade acabam de publicar o maior estudo já feito,
tanto pelo tempo que abrange como pela população que examina, sobre a atividade física
nesta faixa etária. O grupo de pesquisadoras encabeçadas por Regina
Guthold analisou a evolução entre 2001 e 2016 de 1,6 milhão de jovens
estudantes em quase 300 pesquisas de âmbito escolar em 146 países e
territórios. Desse acompanhamento se extraem três conclusões principais:
avançou-se pouco ou nada num período de 15 anos, as meninas fazem menos
exercício e o sedentarismo é uma marca comum aos países pobres e ricos. A equipe publicou suas conclusões nesta sexta-feira na revistaThe Lancet.
O
país que apresenta melhor resultado é Bangladeh (66,1% de
sedentarismo), e o pior é a Coreia do Sul (94,2%). No caso do Bangladesh
e Índia (73,9%), as pesquisadoras atribuem os bons resultados à
profunda implantação de esportes nacionais como o críquete, que jovens
praticam diariamente em seus bairros, e ao fato de que se exige das
meninas que ajudem nas tarefas domésticas quando voltam do colégio –limpar o lar é uma atividade física. No outro extremo da tabela, 97,2% das garotas sul-coreanas não fazem exercício suficiente.
Embora
haja uma grande disparidade entre o primeiro e o último, os demais
países se encontram numa faixa muito semelhante. No Brasil, 83,6% dos
jovens são sedentários. “Estes hábitos vão fazer que os meninos tenham
pior saúde respiratória e cardiovascular, pior qualidade nos ossos e
menos probabilidades de se manterem em um peso recomendável”, afirma
Guthold por telefone da sede da OMS, em Genebra.
A
disparidade de gênero é muito chamativa em muitos países, mas nos
Estados Unidos e Irlanda alcança sua cota máxima, superior a 15%. Nos
EUA, “a educação física nas escolas é potente, há uma cobertura
esportiva enorme dos meios de comunicação e uma presença muito forte de
clubes e equipes esportivas onde eles podem se inscrever, especialmente
os que tradicionalmente são dominados pelos homens”. No total mundial,
77,6% dos adolescentes homens são sedentários, frente a 84,7% das
garotas. No Brasil, essa disparidade é de mais de 11 pontos: 78% dos
garotos não fazem o exercício mínimo recomendado, frente a 89,4% das
adolescentes.
O que está dando errado e levando tantas
jovens ao sedentarismo? “No futuro será preciso pensar campanhas
dirigidas especialmente a que as garotas pratiquem esporte. Temos que
entender o que as motiva. Também é necessário criar as condições.
Facilitar que haja, por exemplo, vestiários separados. E também educar a
comunidade: em algumas sociedades continua existindo o mito de que não é
seguro praticar exercícios durante a menstruação”. O estudo aponta
intervenções bem-sucedidas, como a campanha britânica This Girl Can, destinada a fomentar o esporte feminino.
Os
especialistas apontam a vida diante de uma tela como o principal dos
problemas. “A revolução digital transformou os padrões de movimento das
pessoas e o modo como de se trabalhar, se divertir, aprender e viajar”,
sentencia num artigo, também na The Lancet, Mark S. Tremblay,
especialista em vida saudável e obesidade do Instituto de Pesquisas do
Hospital de Ottawa (Canadá). “As pessoas dormem menos, passam mais tempo
numa cadeira, dirigem mais e fazem menos exercício”, explica.
Mas seria absurdo atribuir 100% da culpa aos celulares e tablets,
dado que há 15 anos alguns resultados não eram muito melhores. “É uma
mistura de fatores. Os pais agora têm menos tempo e não há ninguém que
vá com as crianças ao parque. Há menos espaços seguros nas cidades para
que os menores possam estar por sua conta. E a isto se soma que comemos
pior. Se queremos mudar a tendência temos que nos dar conta de que o
problema vai muito além de mudar o lanche”, afirma Nerea Martín-Calvo,
pediatra e professora de medicina preventiva e saúde pública na
Universidade de Navarra (Espanha). Assim opina também Guthol, a autora
principal do estudo: “Não podemos culpar o adolescente, ou abordá-lo só
de um ponto de vista de saúde, e sim nos fixar no sistema, na educação e
no planejamento urbano”.
Martín-Calvo dirige o Projeto Sendo,
que busca analisar o efeito da dieta e os estilos de vida sobre a saúde
infantil. “Os efeitos destas cifras já estão aí. Estamos vendo uma
epidemia de obesidade que nunca se viu. É o peixe que morde o próprio
rabo: se a criança come mal e ganha peso, não vai querer sair para fazer
esporte, torna-se menos desenvolta e ganha ainda mais peso. Mas tudo
isto estamos lhes ensinando desde pequenos. Se para conseguirmos que
fiquem tranquilos à mesa lhes damos um tablet, é o que exigirão quando
crescerem”, afirma.
O tema da falta de exercício dos
adolescentes não é novo, como mostra esse macroestudo, mas há um motivo
pelo qual agora isso adquire uma nova dimensão. “Há 20 anos não existiam
tantos ultraprocessados ao alcance de todo mundo, não tínhamos
identificado a atividade física como algo vital, mas agora é”, aponta
Ricardo Pérez Cuevas, doutor em saúde publica e especialista do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Segundo o último relatório anual do Unicef, centrado justamente na má
nutrição, 40 milhões de menores de cinco anos têm um peso acima do
considerado saudável. “E uma criança com sobrepeso será um adolescente
com sobrepeso”, observa o especialista.
Na América
Latina, só um país tem menos de 80% de sedentarismo: Antígua e Barbuda
(79,2%). “Na região ocorrem todas as tendências de nível mundial: falta
de infraestrutura para praticar esporte nas escolas, carência de
professores de educação física, um ambiente escolar cheio de alimentos
ultraprocessados, cada vez caminhamos menos e dirigimos mais, e há altos
índices de criminalidade que levam a não existir muitos espaços seguros
para que as crianças fiquem na rua”, resume.
Ele também
aponta as telas como o grande inimigo: “Crianças e adolescentes passam
em média três horas diante da televisão, na qual aliás anunciam bebidas açucaradas e produtos ultraprocessados.
A isso se soma o tempo que passam na frente do computador fazendo os
deveres”. Se formos além, Cuevas aponta um assunto que só agora está
começando a ser abordado: “A adolescência foi uma etapa bastante
esquecida do ponto de vista da saúde”.
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