terça-feira, 29 de junho de 2021

CHARGE

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Narcisismo é forte ingrediente da agressividade e violência

Redação do Diário da Saúde
Narcisismo é forte ingrediente da agressividade e violência
Outro estudo recente mostrou que o principal componente do narcisismo é a insegurança, não um ego inflado.
[Imagem: Mohamed Hassan/Pixabay]

Narcisismo e agressão

Uma análise abrangente de 437 estudos científicos, feitos em diversas partes do mundo, forneceu as melhores evidências até o momento de que o narcisismo é um importante fator de risco para a agressão e a violência.

A conexão entre narcisismo e agressão foi encontrada para todas as dimensões do narcisismo e para uma variedade de tipos de agressão.

Os resultados foram semelhantes independentemente do sexo, idade e nacionalidade dos voluntários, e se eles eram estudantes ou adultos fora do ambiente acadêmico - a meta-análise envolveu um total de 123.043 participantes.

Além dessas conexões, uma descoberta adicional importante é que, para ter um impacto sobre a agressividade, o narcisismo não precisa estar em níveis tão altos a ponto de ser patológico. Os resultados mostraram que, mesmo quando o narcisismo estava dentro do que é considerado uma faixa normal, as pontuações mais altas dentro dessa faixa normal estavam associados à agressão.

"A ligação que encontramos entre narcisismo e agressão foi significativa - não era trivial em tamanho. As descobertas têm implicações importantes no mundo real," destacou a professora Sophie Kjaervik, da Universidade Estadual de Ohio (EUA).

Narcisismo

O narcisismo é caracterizado por um senso exagerado de convencimento e auto-importância. O principal componente do narcisismo é o "achar-se no direito", uma perspectiva avantajada do automerecimento.

O narcisismo também tem dois componentes periféricos: grandioso (aqueles com alta autoestima) e vulneráveis (aqueles com baixa autoestima). Todos esses componentes estão ligados à agressão.

Nos estudos analisados, o narcisismo mostrou-se relacionado a todas as formas de agressão medidas, incluindo física, verbal, bullying, direta ou indireta e deslocada para alvos inocentes.

"Indivíduos com alto teor de narcisismo não são particularmente exigentes quando se trata de como atacam os outros," disse Kjaervik.

De fato, os resultados mostraram que o narcisismo está ligado tanto ao cyberbullying, nos ambientes virtuais, como ao bullying nos relacionamentos reais.

 

A vida dos mais pobres é cercada de elevados níveis de estresse

Ainda existe o mito de que há na pobreza uma certa leveza, mas cada vez mais a ciência tem evidenciado a relação entre os mais pobres e a infelicidade

Pedro Fernando Nery*, O Estado de S.Paulo

29 de junho de 2021 

Radiante, o diretor de A Vida é Bela encerrava o discurso no Oscar lembrando a família: “Gostaria de agradecer aos meus pais, que me deram o melhor presente: a pobreza”, disse Roberto Benigni, para gargalhadas. O momento simpático alude a um dos mitos mais comuns sobre a pobreza: o de que há nela certa leveza. Para alguns, uma despreocupação, a ausência dos estresses cotidianos que acompanhariam rendas maiores. More money, more problems. É um mito cada vez mais iluminado pela ciência, que tem descrito a relação entre a pobreza e a infelicidade.

Para uma exploração inicial, consideremos o The World Happiness Report, publicação que classifica os países de acordo com a felicidade dos seus cidadãos – ou de acordo com o seu “bem-estar subjetivo”. Embora se exija alguma cautela na comparação (culturas diferentes podem ver felicidade de forma diferente), o fato é que o indicador de felicidade acompanha bastante o nível de renda. São líderes países como Finlândia e Suíça, e estão entre os mais infelizes Haiti e Zimbábue

A abordagem da economia da felicidade é uma lente para a questão (há um livro novo e em português sobre ela, do professor Carlos Alberto Ramos). Mas uma lente também relevante para o atual momento brasileiro são os estudos especificamente sobre o cérebro da população na pobreza.

Crianças em situação de pobreza
Conforme especialista, 'viver na pobreza exaure a sua capacidade mental'. Foto: Bruna Justa/Estadão

Achados popularizados pelos Nobel Abhijit Banerjee e Esther Duflo indicam que a vida dos mais pobres é, na verdade, cercada de elevados níveis de estresse. E o mais relevante é que há aí uma espécie de armadilha da pobreza. Sem espaço mental para programar o futuro, tendo de lidar com as ameaças do dia a dia, esses indivíduos não têm como tomar as decisões que os ajudariam a progredir. A relação entre pobreza e tomada de decisão, tendo como canal o estresse, tem sido objeto de muitas pesquisas relevantes nos últimos anos.

Não apenas transferências de renda, mas intervenções do Estado voltadas para lidar com essa limitação aparecem como possíveis políticas públicas – como indica pesquisa publicada pelo Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo. Luis Henrique Paiva, um dos seus autores, sintetiza o problema: “Viver na pobreza exaure a sua capacidade mental e isso acaba conduzindo o indivíduo a tomar decisões ruins e com maior probabilidade de cometer erros. Isso retroalimenta a pobreza. O contexto da pobreza perpetua a escassez”.

Exemplos estressantes citados por Paiva incluem questões que não passam pela cabeça da população mais abastada, como “acordar pensando na qualidade da água que estamos bebendo ou como os recursos gastos no almoço vão fazer falta no fim do mês”. 

Perceba que o argumento corriqueiro de que programas sociais prejudicam os mais pobres, porque desestimulariam sua emancipação, partem de um diagnóstico incompatível com esses resultados. Nesse argumento, haveria oportunidades a serem exploradas pelos mais pobres, que deixam de ir atrás delas por comodismo ou por uma avaliação conservadora sobre os riscos de deixar um benefício social. Pressupõe, assim, que podem avaliar e planejar suas vidas como os mais ricos. 

Estudo na Science (Shah et al., 2012) mostra que dificuldades financeiras têm um impacto no cognitivo equivalente ao de uma noite sem dormir, ou a um QI 13 pontos menor. Há ainda a própria questão de saúde. Estudo do governo brasileiro, ainda na gestão Temer, já reportava em famílias do Bolsa Família índices elevados de crianças pequenas vivendo com mães com sintomas depressivos – um obstáculo ao próprio desenvolvimento delas.

Já no Brasil da pandemia chama atenção o novo trabalho da FGV Social coordenado por Marcelo Neri. O índice de bem-estar subjetivo monitorado pela FGV não caiu entre os brasileiros mais ricos. Somente os mais pobres estariam mais infelizes, segundo os números. São eles que puxam a média brasileira para baixo, para o menor nível da série que se inicia em 2006. 

O tamanho do buraco que temos de sair é aproximado pelo “índice da miséria”, outro indicador que contempla simplesmente duas variáveis econômicas: o desemprego e a inflação. A metodologia é diferente, mas há uma semelhança. Ele também mostra que estamos em nosso pior momento.

*DOUTOR EM ECONOMIA 

 

Imunidade das vacinas Pfizer e Moderna pode durar até três anos, aponto estudo suíço

Crédito: Reprodução/Divulgação

O estudo esclarece que a duração desta proteção dada pelas vacinas mRNA pode diminuir entre pessoas com mais de 75 anos de idade. (Crédito: Reprodução/Divulgação)

As vacinas contra a Covid-19 desenvolvidas com a nova tecnologia de mRNA mensageiro, atualmente produzidas pela Moderna e Pfizer/BioNTech, previnem casos graves da doença através da sua imunidade, que pode durar até três anos, de acordo com um novo estudo suíço.

A pesquisa, publicada pelo Grupo de Trabalho Científico do Governo Suíço contra a Covid-19, revela que estas vacinas criam uma resposta de anticorpos duas a quatro vezes superior do que a verificada por quem já recuperou da doença, o que implica uma proteção mais duradoura.

+ Anvisa encerra o pedido de uso emergencial da vacina fabricada pela CanSino

O estudo esclarece que a duração desta proteção dada pelas vacinas mRNA pode diminuir entre pessoas com mais de 75 anos de idade e, portanto, reduzi-la para entre 15 e 24 meses contra as formas graves de covid-19 e entre sete a 10 meses para versões moderadas.

A duração da imunidade imposta pela vacina é importante na organização de campanhas de reforço, determinando também a validade dos “certificados covid-19”, que pelo menos a curto prazo podem ser necessários para viajar ou participar em eventos em massa em outros países.

Os pesquisadores ressalvam ainda que os períodos de proteção estimados podem ser menores, embora ainda não se saiba exatamente quanto, sobretudo no caso da variante delta, que é muito mais contagiosa do que as estirpes anteriores da Covid-19 e também parece necessitar de uma quantidade maior de anticorpos.

 

segunda-feira, 28 de junho de 2021

O enigma do Alzheimer

Alzheimer 

Sem tratamento, incidência cai 16% a cada década

Enquanto todos os medicamentos falham, a ciência mostra que a demência não é uma desgraça inevitável na velhice, e sim uma enfermidade que pode ser prevenida em quase metade dos casos

O patologista Alberto Rábano examina cérebros humanos no Banco de Tecidos da Fundação CIEN, em Madri.Inma Flores / EL PAIS
Manuel Ansede 

O cérebro que criou as séries televisivas Verano azul e Farmacia de guardia repousa em formol numa prateleira do bairro de Vallecas, na zona sul de Madri. O diretor Antonio Mercero passou os últimos anos de sua vida com Alzheimer, mas continuou encontrando seus velhos amigos. Um deles, o cineasta José Luis Garci, recordou numa entrevista que um dia Mercero lhes disse: “Acho divertido o que vocês estão falando, apesar de não saber quem vocês são. Mas sei que gosto muito de vocês.” O criador, depois de uma década com demência, faleceu em 2018, aos 82 anos, e doou seu cérebro à ciência. Queria que sua matéria cinzenta ajudasse a iluminar a chamada “grande epidemia silenciosa do século XXI”.

Mais informações

O patologista Alberto Rábano caminha entre cérebros com carinho e respeito, como se conhecesse cada um deles. Dirige o Banco de Tecidos da Fundação CIEN, com mais de mil órgãos doados à pesquisa das doenças neurológicas ―incluído o de Antonio Mercero. O cientista reflete sobre um grande paradoxo: mais de um século após a descoberta do Alzheimer, não se conhecem suas causas e não existe nenhum tratamento. Nada. E, entretanto, a incidência está caindo rapidamente nos países ricos, a um ritmo de 16% por década desde 1988, talvez graças a fatores como a educação e a saúde cardiovascular, segundo um estudo da Universidade Harvard (EUA).

“Não sabemos a causa do Alzheimer e nunca saberemos, porque não há uma causa, há muitas”, afirma Rábano. Até agora, os cientistas se centraram em dois grandes suspeitos. Nos cérebros das pessoas com Alzheimer, uma proteína chamada beta-amiloide acumula-se entre os neurônios. E uma segunda proteína, chamada tau, forma novelos dentro das células cerebrais. Ainda não está muito claro o papel dessas moléculas na enfermidade. Considerar que estas proteínas são as responsáveis pelo Alzheimer é como chegar à cena de um crime e acreditar que o sangue é o culpado pelo homicídio, nas palavras do neurologista David Pérez, do Hospital 12 de Outubro, em Madri.

O patologista Alberto Rábano mostra um cérebro humano do Banco de Tecidos da Fundação CIEN.Inma Flores / EL PAIS

A busca por um tratamento, entretanto, esteve centrada em limpar a beta-amiloide do cérebro. Todos os fármacos experimentais fracassaram até agora, mas as autoridades dos Estados Unidos decidiram em 7 de junho autorizar um novo, o aducanumab, fabricado pelo laboratório norte-americano Biogen e vendido a um preço superior a 240.000 reais por paciente por ano. É a primeira vez que se aprova um tratamento que ataca as supostas causas do Alzheimer: o aducanumab limpa a beta-amiloide, mas não ficou demonstrado que isto implique um benefício clínico para os pacientes. Ainda não se sabe se funciona.

Rábano se detém diante de prateleiras que rompem a monotonia do banco de cérebros. “Este é o de um leão marinho que fazia um show fantasiado de caubói no Zoológico de Madri”, conta, apontando um frasco. “Este é o de um rinoceronte branco. Tive que usar um machado para arrancar”, rememora, mostrando outro recipiente. Os cérebros dos animais idosos que morrem no zoológico também acabam no arquivo de Rábano. Há leões, gnus, golfinhos, coalas, chimpanzés, girafas. O pesquisador mostra a imagem de um cérebro de tigre-siberiano cheio de proteína beta-amiloide. “Em muitos mamíferos vemos mudanças como a do Alzheimer, mas não desenvolvem a doença”, explica.

O patologista acredita que os erros de diagnóstico são uma das razões históricas para o fracasso na busca por um tratamento. “O Alzheimer nunca está sozinho. Temos que botar na cabeça que não basta diagnosticar o Alzheimer”, explica Rábano. Há no mundo 50 milhões de pessoas com demência, 65% delas com Alzheimer, segundo a Organização Mundial da Saúde. Mas há outras formas de demência, que frequentemente aparecem misturadas: a vascular, a por corpos de Lewy, as taupatias, a encefalopatia LATE. Rábano convida os cidadãos a se tornarem doadores de cérebro, para ajudar na pesquisa. Alguns ensaios clínicos talvez tenham falhado porque fármacos contra o Alzheimer foram testados em pessoas que não tinham só essa doença.

O patologista Alberto Rábano na mesa de autópsias da Fundação CIEN.Inma Flores / EL PAIS

A neurologista Raquel Sánchez Valle, do Hospital Clínic de Barcelona, se mostra otimista. “Mudamos de fase na pesquisa do Alzheimer”, opina. Sua equipe participou do Engage, um ensaio clínico internacional com 1.650 pacientes para provar o polêmico aducanumab. Os resultados não foram conclusivos, mas a pesquisadora salienta que a eliminação da proteína beta-amiloide no cérebro de fato melhorou os indicadores associados à morte neuronal, embora não se chegasse a observar uma melhoria clara nos pacientes. “Precisamos de ensaios mais longos, de muito mais tempo”, explica.

O aducanumab é um anticorpo monoclonal: são as defesas naturais de um idoso lúcido multiplicadas em laboratório. Sánchez Valle recorda que nos próximos dois anos sairão os resultados de outros três fármacos experimentais similares: gantenerumab (da companhia suíça Roche), donanemab (da norte-americana Lilly) e lecanemab (da japonesa Eisai). “Não podemos pretender passar de não ter nada a curar o Alzheimer. O aducanumab é um primeiro passo. E muitas vezes o primeiro fármaco que chega não é o que fica”, aponta a neurologista.

Outros pesquisadores são mais céticos. O neurologista Michael Greicius, diretor-médico do Centro para os Transtornos da Memória da Universidade de Stanford (EUA), acredita que a aprovação do aducanumab pode inclusive atrapalhar a pesquisa de outros tratamentos. “Os pacientes estarão menos dispostos a participar de ensaios clínicos se já estiverem tomando um novo medicamento aprovado que acreditam que funciona”, alerta. O pesquisador recorda também que o aducanumab provocou edemas cerebrais em 40% dos doentes tratados com uma dose alta.

Joaquina García del Moral, professora aposentada de 66 anos e com Alzheimer diagnosticado, recebeu o fármaco experimental aducanumab. Chencho Martínez

Joaquina García del Moral, uma professora aposentada de Motril (Andaluzia), participou de outro grande experimento internacional do aducanumab, o chamado Emerge, também com 1.650 pacientes. Surpreendentemente, enquanto o ensaio Engage não observou melhoria clínica nos participantes, seu gêmeo Emerge sugeriu uma desaceleração de 20% na deterioração cognitiva. García del Moral, de 66 anos, recebeu o diagnóstico de Alzheimer quando tinha 59. “Eu me esquecia dos nomes dos alunos e me perdia com o carro ou andando”, recorda. “Depois de cinco anos de tratamento com aducanumab, levo uma vida normal e me sinto capacitada para tudo. Mudou a minha vida. Mas não sei se isto é discutível, não sou cientista”, afirma.

Já seu neurologista, Eduardo Agüera, deixa a porta aberta a outras explicações. “O mais provável é que a melhoria de Joaquina seja atribuível ao aducanumab, mas não é 100% certo”, reconhece. Agüera, do Hospital Reina Sofía, em Córdoba, também pede uma chance ao medicamento. “Se a alternativa é não ter nada e deixar as pessoas morrerem lentamente com uma demência, e se com o aducanumab há uma pequena esperança, então que bom”, opina.

Joaquina García del Moral é membro do Painel de Especialistas de Pessoas com o Alzheimer, impulsionado pela Confederação Espanhola do Alzheimer (CEAFA). A organização pressiona as autoridades para que o aducanumab seja aprovado também na União Europeia. “Este medicamento tem que ser lançado de qualquer maneira na Europa. Somos muitos milhões de doentes que precisamos deste fármaco”, proclama a paciente.

Exame neurológico por imagem em uma paciente com Alzheimer, na Fundação CIEN.Inma Flores / EL PAIS

A presidenta da CEAFA, a socióloga Cheles Cantabrana, diz que a confederação recebeu “com alegria” a aprovação do aducanumab nos EUA. “O sofrimento que o Alzheimer provoca nas famílias é muito grande, e os custos são elevadíssimos. Há milhões de pessoas sofrendo. Vamos lhes dar uma chance, ou são pacientes de segunda categoria?”, pergunta-se Cantabrana, cujos pais morreram com demência. Sua organização calcula que o Alzheimer afete cerca de cinco milhões de pessoas na Espanha, entre pacientes e familiares cuidadores.

A Agência Europeia de Medicamentos já está estudando os resultados do aducanumab para avaliar sua possível autorização na UE. E a polêmica está garantida, na opinião do médico César Hernández, da Agência Espanhola de Medicamentos e Produtos Sanitários. “É uma discussão que dará muito o que falar na Europa. Há muitíssima controvérsia sobre se as placas de beta-amiloides realmente refletem o avanço da doença”, afirma. Dos 104 medicamentos experimentais que estão sendo testados no mundo contra as supostas causas do Alzheimer, 16 estão focados na proteína beta-amiloide, e outros 11 na proteína tau.

Em protesto pela aprovação do aducanumab nos EUA, três especialistas se demitiram do comitê independente que assessorava a FDA (agência reguladora de medicamentos). O neurologista David Knopman, da Clínica Mayo, foi um deles. Antes de renunciar, tinha afirmado ser “indefensável” autorizar um remédio sem benefício clínico claro após 18 meses de tratamento. “Em muitos aspectos, estamos ganhando a guerra contra o Alzheimer, mas numa luta de tão longo prazo não vamos ganhar todas as batalhas”, reflete.

Um cérebro humano dissecado na Fundação CIEN, em Madri. Inma Flores / EL PAIS

Nos últimos anos, Knopman pôs o foco sobre “o enigma da minguante incidência da demência”. O número absoluto de casos aumenta, porque a expectativa de vida cresce e há cada vez mais indivíduos de idade avançada, mas a percentagem de pessoas com Alzheimer na verdade está diminuindo. Inclusive nas autópsias de cérebros doados se veem menos acúmulos de proteína beta-amiloide. Os países ricos, obcecados em encontrar um remédio para o Alzheimer, conseguiram reduzir em 16% a incidência da doença a cada década, sem nem perceberem.

Uma comissão organizada pela revista médica The Lancet calculou no ano passado que modificar uma dúzia de fatores de risco pode evitar ou retardar 40% das demências. As 12 variáveis são: a falta de educação, a hipertensão, a incapacidade auditiva, o tabagismo, a obesidade, a depressão, a inatividade física, o diabetes, o isolamento social, o consumo excessivo de álcool, os golpes na cabeça e a poluição atmosférica. Na América Latina, o percentual evitável de casos de demência alcança 56%, segundo os mesmos autores.

Antonio Mercero dirigiu um filme sobre o Alzheimer – ¿Y tú quién eres? (“e você, quem é?”, 2007) – antes de sofrer ele mesmo suas consequências. Ao apresentar o filme, declarou: “É impressionante. Neste momento qualquer pessoa diz a você que tem um primo com Alzheimer, outro tem um tio, outro, o pai. É uma coisa impressionante. O Alzheimer já aparece por todo lado.” A Organização Mundial da Saúde calcula que o número de pessoas com demência triplicará e superará 150 milhões em 2050. Evitando os fatores de risco seria possível prevenir 40 milhões de casos, sem necessidade de nenhum medicamento milagroso. A neurologista Raquel Sánchez Valle, de 50 anos, acha também que o tratamento chegará mais cedo do que se imagina. Os países do G-8 se comprometeram oito anos atrás a terem uma cura ou uma terapia efetiva contra a demência em 2025. “Não teremos uma cura em 2025, mas espero ver um tratamento eficaz antes de me aposentar”, afirma a médica. “E não será o aducanumab.”

 

The Trust Project

 

Autor de 'Pai Rico, Pai Pobre' diz que 'maior crise da história' está vindo

O autor best-seller Robert Kiyosaki. (Foto: Matt Carasella/Patrick McMullan via Getty Images)
O autor best-seller Robert Kiyosaki. (Foto: Matt Carasella/Patrick McMullan via Getty Images)
  • Robert Kiyosaki, autor do best-seller ‘Pai Rico, Pai Pobre’, voltou a soar o alarme para o que ele enxerga como a ‘maior crise financeira da história’.

  • Ele acredita que é questão de tempo para crise irromper.

  • Ele sugere que pessoas comprem ouro, prata e Bitcoin.

O investidor e educador financeiro Robert Kiyosaki, autor do best-seller "Pai Rico, Pai Pobre", voltou a soar o alarme publicamente, por meio da sua conta no Twitter, para o que ele enxerga como a "maior crise financeira da história".

Leia também:

Não é a primeira vez que Kiyosaki fala sobre o assunto publicamente. Ele acredita que os mercados financeiros globais estão às vésperas de testemunhar o que ele descreve como o maior “crash” que os mercados já sofreram na história da humanidade – uma crise que teria consequências trágicas para a sociedade.

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O autor sugere que as pessoas se preparem para essa situação. Como? Na opinião do investidor, comprando ouro, prata e Bitcoin!

“O melhor momento para se preparar para uma crise é antes dela”, escreveu o autor best-seller em sua página no Twitter.

“O maior crash da história do mundo está vindo. A boa notícia é que o melhor momento para ficar rico é durante um crash. A má notícia é que a próxima crise será longa. Compre mais ouro, prata e Bitcoin enquanto você pode. Se cuide.”

Alguns investidores acreditam que o Bitcoin, junto com a prata e o ouro, podem ser considerados ativos "salva-vidas" em um cenário de extrema crise dos mercados tradicionais.

 

Brasil desperdiçou ciclo anterior de commodities e poder fazer o mesmo agora

Para José Gabriel Palma, da Universidade de Cambridge, ideologia do governo Bolsonaro virou problema econômico

DOUGLAS GAVRAS
Da Folhapress - São Paulo
José Gabriel Palma

É injusto chamar os anos de 1980 de “década perdida”, avalia o economista José Gabriel Palma, professor da Universidade de Cambridge (Reino Unido) e de Santiago, no Chile, e especialista em desenvolvimento dos países latinos.

Na visão do economista chileno, a verdadeira década perdida para o Brasil e a América Latina começa no início dos anos 2000 e se refere ao longo ciclo de commodities que beneficiou os países da região.

Os países latinos aumentaram suas exportações e o consumo, diz, mas não souberam aproveitar a entrada de recursos para aumentar a industrialização e a produtividade.

 

“Não houve aumento do investimento para gerar diversificação produtiva. Aquela oportunidade única de gerar nova capacidade produtiva e diversificação econômica foi desperdiçada”, disse Palma em entrevista à Folha.

Ao olhar o ciclo atual de alta de preços dos produtos básicos, puxados novamente por um aumento da demanda da China ao se recuperar da pandemia, ele lamenta que o Brasil possa estar jogando mais uma oportunidade fora.

Diferença e semelhanças entre ciclos
No boom [das commodities] anterior, a demanda começou a subir rapidamente e isso teve um efeito positivo sobre os preços, mas depois virou especulação. O mesmo acontece hoje, pois há muita liquidez no mercado internacional, mas poucos ativos sólidos que possam absorvê-la. Na lógica da loucura financeira, as commodities, que são ativos sólidos por natureza, levam vantagem.

E tudo indica que essa distorção deve continuar, pois o Fed [banco central dos EUA], o Banco Central Europeu e o japonês continuam injetando liquidez e comprando ativos financeiros. Eles ainda acreditam que para reativar a economia real é necessário primeiro reativar a economia financeira. Eles estão cometendo exatamente o mesmo erro de 2008.

A China era e ainda é o maior consumidor de matérias-primas e sua economia está se recuperando rapidamente. Acredito que sua demanda continuará puxando os preços e por isso os especuladores em busca de ativos seguros continuarão em busca de matérias-primas.

Erros do passado
O Brasil e o resto da América Latina perderam o ciclo anterior. A maior parte da renda adicional foi para consumo e não para investimento. Os grandes ciclos de commodities criam uma oportunidade única de gerar novas atividades produtivas para sustentar a atividade econômica quando os preços das matérias-primas voltarem a cair, o que não foi feito.

Se olharmos para a América Latina, excluindo os investimentos que foram feitos para continuar com o extrativismo ‘mais do mesmo’, não houve aumento do investimento para gerar diversificação produtiva. Por isso, a verdadeira década latina perdida não foi a década de 1980, mas a do superciclo das matérias-primas dos anos 2000. Aquela oportunidade única de gerar nova capacidade produtiva e diversificação econômica foi desperdiçada.

Erros do presente
As demandas sociais e a reativação econômica não estão sendo atendidas e é provável que o Brasil cometa exatamente os mesmos erros de antes. Embora a coordenação dos investimentos públicos e privados seja ainda mais necessária do que na crise anterior, é menos provável que os países latinos invistam na geração de nova capacidade produtiva e na ‘economia verde’.

O crescimento da produtividade na América Latina desde 1980 já era praticamente zero antes mesmo da pandemia, ou 0,3% na média anual entre 1980 e 2019. Precisamos criar urgentemente novos motores de produtividade, como a industrialização de matérias-primas e aderir ao ‘green new deal’ [conjunto de propostas para combater mudanças climáticas e desigualdade econômica]. Enquanto a produtividade no Brasil está estagnada há 40 anos, a da China aumentou 26 vezes. É preciso industrializar o setor exportador.

Tempo de duração do boom atual
São tantas as variáveis ​​que é impossível prever a duração desse ciclo. Todas as condições estão reunidas para que dure muito, mas há riscos ao longo do caminho, como uma possível alta dos juros internacionais, por motivos inflacionários. Dados os atuais níveis de endividamento de todos os agentes [governos, empresas e famílias], se as taxas de juros subirem, não só a recuperação desacelerará, mas poderemos cair em grande fragilidade financeira. Os países estão em uma situação tão frágil, que talvez mesmo um pequeno choque possa ter um efeito de bola de neve.

O Brasil como exemplo “verde”
Transformar energia suja em energia limpa e sustentável e a agricultura em algo mais orgânico leva ao aumento da produtividade. Queimar a Amazônia para produzir mais soja ou carne não é a solução. Uma agricultura que respeita cada vez mais o meio ambiente é o caminho. A demanda agrícola está mudando muito rapidamente nos países desenvolvidos, à medida que as pessoas estão mais conscientes do consumo saudável e sustentável. Investir na produção de alimentos orgânicos é altamente lucrativo, mas para isso é necessário mudar o tipo de investimento agrícola, e tornar nossas economias mais limpas e sustentáveis ​​é um grande motor para o crescimento da produtividade.

O Brasil como exemplo negativo
A ideologia do governo brasileiro, não só sobre a questão ambiental, mas sobre uma série de questões sociais e de saúde pública, tornou-se um problema econômico. A ideia de que o país pode crescer destruindo o meio ambiente é totalmente ultrapassada. É muito mais lucrativo fazer uma forte reconversão agrícola, e o Brasil poderia estar em uma posição vantajosa para fazer isso. Mas não vai ser pela 'mão invisível' do mercado. Todas as lições que os países desenvolvidos nos dão mostram que é preciso coordenar os investimentos públicos e privados nessa direção. Esperar que tudo aconteça automaticamente é ingênuo. Precisamos de estados inteligentes, como diz a [economista italiana] Mariana Mazzucato, governos que coordenam os investimentos privados e públicos para gerar novos modelos sustentáveis ​​e industrializar as matérias-primas —mas a América Latina carece de estados inteligentes.

Modelo Paulo Guedes
Sei bem como pensa o ministro 'Chicago boy' do Brasil, porque no Chile tivemos essa mesma turma durante a ditadura [de Augusto Pinochet] e foi o desastre que nos levou à crise de 1982, a pior da história do país. Ele é contra investimentos públicos, mas a ideia de que tudo deve ser feito com investimento público também é ultrapassada. O papel da política industrial é coordenar esse espaço entre o público e o privado.

No Chile, por exemplo, estamos propondo uma taxa de royalty diferente para o cobre, muito alta para a exportação do cobre concentrado, e que diminui à medida que ele passa por mais processos de industrialização [do concentrado ao fio]. Isso serve para forçar o setor privado a usar a renda dos recursos naturais de forma produtiva. O modelo nórdico nos ensina que para industrializar o setor exportador de matérias-primas, o estado precisa “empurrar” o setor privado.


  • RAIO-X
    Jose Gabriel Palma, 73
    é doutor em Economia pela Universidade de Oxford e pela Universidade de Sussex, além de professor da Faculdade de Economia da Universidade de Cambridge (no Reino Unido) e da Universidade de Santiago, no Chile

 

CHARGE

GD 

FONTE: GAZETA DIGITAL

domingo, 27 de junho de 2021

4 receitas com TOFU de dar água na boca

Sem graça? Jamais! Confira pratos deliciosos com esse queijo de soja

26 jun 2021 

Receitas deliciosas com Tofu!
Receitas deliciosas com Tofu!
Foto: Shutterstock / Alto Astral

Quem julga que tofu é sem graça, não está preparando ele direito! Esse queijo vegetal é um alimento de origem oriental com um sabor bem leve e cremoso. Além de ser muito usado nas cozinhas vegana e vegetariana, ele pode ajudar no controle do colesterol e ainda prevenir doenças cardiovasculares. Ele também contém importantes minerais para o organismo, como cálcio, zinco, ferro, magnésio e potássio.

Agora que você sabe o quão saudável e versátil o tofu é, nada melhor do que introduzi-lo em sua dieta, não é mesmo? Prepare receitas para além de deliciosas com esse ingrediente riquíssimo em benefícios. Confira: 

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Caldo de Ervilha, Hortelã, Gengibre e Tofu

Foto: Guia da Cozinha / Alto Astral

Tempo: 1h (+12h de molho)

Rendimento: 6 porções

Dificuldade: fácil

Ingredientes

  • 2 colheres (sopa) de azeite
  • 1 cebola picada
  • 2 dentes de alho amassados
  • 1 colher (café) de gengibre picado
  • 3 xícaras (chá) de ervilha congelada
  • 1 xícara (chá) de água
  • ½ xícara (chá) de folhas de hortelã
  • Sal e pimenta-do-reino a gosto
  • Cubos de tofu e ervilhas para decorar

Modo de Preparo

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Em uma panela, aqueça o azeite em fogo médio e refogue a cebola e o alho por 3 minutos. Depois, junte o gengibre e refogue por mais 2 minutos. Acrescente a ervilha e a água e deixe cozinhar por 5 minutos após levantar fervura. Espere amornar e bata no liquidificador com a hortelã para dar sabor de refrescância ao caldo.

Volte ao fogo para aquecer, tempere com sal e pimenta, transfira para cumbucas individuais e decore com tofu e ervilhas e sirva.

Tofu oriental com vegetais

Foto: Guia da Cozinha / Alto Astral

Tempo: 30min

Rendimento: 6 porções

Dificuldade: fácil

Ingredientes

  • 500g de tofu em cubos
  • 3 colheres (sopa) de farinha de trigo
  • 2 colheres (sopa) de óleo de soja
  • 2 cenouras raladas grosseiramente
  • 1 xícara (chá) de vagem em pedaços
  • 1 pimentão vermelho em tiras
  • 2 colheres (sopa) de molho de soja (shoyu)
  • Sal e pimenta-do-reino a gosto
  • Cebolinha verde para decorar
  • Gergelim branco torrado para polvilhar

Modo de preparo

Passe o tofu na farinha de trigo. Em uma frigideira grande, aqueça o óleo em fogo médio e frite o tofu até dourar. Retire e reserve em local aquecido.

Na mesma frigideira, coloque os vegetais e refogue por 5 minutos em fogo alto ou até ficarem crocantes. Retire e reserve. Junte o tofu, os vegetais, o molho de soja, acerte o sal, pimenta-do-reino e misture.

Decore com a cebolinha verde e polvilhe com o gergelim. Sirva em seguida.

Estrogonofe de tofu

Foto: Guia da Cozinha / Alto Astral
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Tempo: 30min

Rendimento: 4 porções

Dificuldade: fácil

Ingredientes

  • 1 colher (sopa) de manteiga
  • 1/2 cebola picada
  • 1 colher (sopa) de farinha de trigo
  • 1 xícara (200ml) de leite
  • 5 colheres (sopa) de ketchup
  • 1 xícara (chá) de requeijão light
  • Sal e pimenta-do-reino a gosto
  • 2 xícaras (chá) de tofu em cubos

Modo de preparo

Em fogo médio, aqueça uma panela com a manteiga e refogue a cebola por 3 minutos. Polvilhe a farinha e frite 2 minutos. Despeje o leite, aos poucos, mexendo até engrossar.

Adicione o requeijão, o ketchup, sal e pimenta e misture. Acrescente os cubos de tofu e cozinhe 2 minutos. Sirva em seguida acompanhado de arroz integral e salada verde.

Tofu com molho de coco

Foto: Guia da Cozinha / Alto Astral

Tempo de preparo: 10 min

Rendimento: 6 porções

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Dificuldade: fácil

Ingredientes

  • 1 colher (sopa) de azeite
  • 2 dentes de alho picados
  • 1 xícara (chá) de cebolinha picada
  • 1 colher (sopa) de gengibre picado
  • 2 colheres (sopa) de shoyu
  • 1 colher (sopa) de curry em pó
  • Sal a gosto
  • 2 vidros (400ml) de leite de coco light
  • 400g de tofu em cubos
  • 2 colheres (sopa) de manjericão fresco picado

Modo de preparo

Em uma frigideira grande, aqueça o azeite no fogo alto. Junte a cebolinha, o gengibre e o alho e mexa por cerca de 2 minutos.

Adicione todos os outros ingredientes, menos o manjericão, abaixe o fogo e deixe ferver por mais 5 minutos. Polvilhe o manjericão e sirva acompanhado de arroz branco.

Fonte: Guia da Cozinha

 

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Riqueza concentrada

Quase metade da riqueza total do Brasil, ou 49,6%, foi parar nas mãos do 1% mais rico no ano passado. Há 20 anos, o topo da pirâmide detinha 44,2%.

Entenda: os mais ricos sentiram menos a queda da atividade econômica e levaram vantagem na queda dos juros durante a pandemia, aponta o banco Credit Suisse, que produziu o relatório. 

O mesmo movimento também foi observado na maioria dos países analisados, e só na França e Alemanha a fatia concentrada pelo topo caiu. Entre dez países, apenas a Rússia tem a renda mais concentrada na elite que o Brasil.

Por que importa: o aumento da desigualdade durante a pandemia ampliou o debate sobre a regressividade tributária - mais ricos pagam percentualmente menos.

A maioria dos brasileiros é favorável a aumentar a tributação para financiar políticas sociais, apontou pesquisa do Datafolha para a Oxfam Brasil.

Organismos internacionais também têm essa opinião. O principal dirigente do FMI para a América Latina apontou que os governos da região devem fazer com que os ricos paguem “muito mais” impostos. A ONU também produziu relatório nesse sentido.  https://f.i.uol.com.br/fotografia/2021/06/24/162458186160d526e5328ac_1624581861_5x2_th.jpg
  

 


 
Números que explicam: 

  • 361 mil brasileiros devem estar entre os milionários até 2025. Hoje, são 207 mil.
  • 10% mais ricos concentram 82% da riqueza global.

terça-feira, 22 de junho de 2021

CHARGE

https://f.i.uol.com.br/fotografia/2021/06/21/162432600260d13f72d7107_1624326002_3x2_th.jpg

Latino-americanos mais ricos deveriam pagar muito mais imposto, diz FMI

Financial Times

Principal diretor da entidade para a América Latina argumenta que inquietação da sociedade reforça necessidade de distribuição de renda mais igualitária


Michael Stott
 
Londres | Financial Times

O principal dirigente do FMI (Fundo Monetário Internacional) para a América Latina instou os governos latino-americanos a fazer com que os ricos paguem “muito mais” impostos, dizendo que a região mais desigual do planeta não vai se desenvolver a não ser que atenda às demandas por um sistema econômico muito mais justo.

Em entrevista ao Financial Times enquanto se prepara para deixar o posto que ocupou por oito anos, Alejandro Werner, diretor do FMI para o hemisfério ocidental, disse que as recentes inquietações sociais na América Latina destacam a necessidade de uma distribuição de renda muito mais igualitária.

O FMI já havia apelado anteriormente para que as pessoas de alta renda de todo o planeta, que prosperaram por conta da pandemia, paguem mais impostos, temporariamente, a fim de ajudar os mais prejudicados.

A América Latina sofreu mais do que qualquer outra região, porque o coronavírus exacerbou problemas duradouros de baixo crescimento, alta desigualdade e pobreza.

Alejandro Werner, principal dirigente do FMI para a América Latina - Luisa Gonzalez - 28.out.19/Reuters

Werner identificou os impostos imobiliários “subutilizados” como um bom ponto de partida para a América Latina.

“É preciso adotar um sistema de tributação muito mais progressivo na região sob o qual os segmentos mais abastados da população paguem mais, e em seguida criar um sistema econômico no qual a competição seja muito maior do que é hoje”, ele disse.

“A América Latina não pode ser a região mais desigual do planeta e ao mesmo tempo avançar para o próximo estágio de desenvolvimento econômico”.

Antes de se transferir ao FMI, em 2013, Werner era funcionário de primeiro escalão do Ministério das Finanças mexicano, e trabalhou em um banco do México. Ele vai deixar seu posto no Fundo no final de agosto.

Os efeitos colaterais das medidas de estímulo dos Estados Unidos, o forte crescimento da China e os preços altos das commodities em todo o mundo ajudaram a região a obter uma recuperação mais rápida do que se esperava, depois da queda de 7% em seu PIB (Produto Interno Bruto) no ano passado, e o FMI, bem como economistas do setor privado, está mais otimista com relação às perspectivas latino-americanas.

Werner declarou que a atual projeção do FMI de um crescimento de 4,6% para a América Latina este ano deve ser revisada para mais, em parte porque as economias foram capazes de manter atividade econômica superior à esperada, a despeito do contágio continuado pela Covid.

“A correlação entre a atividade econômica e o ritmo de contágio é bem mais fraca agora do que no segundo trimestre do ano passado”, ele disse.

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As duas maiores economias da região, Brasil e México, deram prioridade a reabrir suas economias apesar do número elevado de mortes, o que as ajudou a registrar recuperação mais rápida do que os países vizinhos, que persistiram com os lockdowns.

Um estudo do Financial Times sobre mortalidade excedente constatou que países da América Latina registraram alguns dos índices mais elevados de mortalidade com a pandemia no planeta, e que a diferença entre os países que impuseram lockdowns severos, como o Peru e a Colômbia, e aqueles que não o fizeram, como o Brasil e o México, é relativamente pequena.

Os países latino-americanos também adotaram caminhos divergentes em termos de gastos adicionais, com Brasil, Peru e Chile entre os governos que assumiram carga substancial de dívida adicional a fim de apoiar as pessoas mais atingidas pelo coronavírus.

O México foi a exceção mais notável, e ainda que os bancos de Wall Street projetem, que o país crescerá mais de 5% este ano, isso não compensará a contração de mais de 8,5% registrada no ano passado. Werner disse que o México “teria sido muito mais bem servido” por um pacote de estímulo.

A política da região vem sendo turbulenta nos últimos anos, com ondas de protestos de rua abalando o Chile e o Equador em 2019. O Peru e, mais recentemente, a Colômbia também registraram protestos, o que polarizou a política e reforçou a posição de candidatos “outsiders” da extrema esquerda e da extrema direita, nas eleições.

No Peru, Pedro Castillo, candidato de um partido político marxista-leninista, parece ter vencido a eleição presidencial deste mês, ainda que sua oponente conservadora, Keiko Fujimori, tenha contestado a vitória dele e lançado acusações de fraude eleitoral.

“A oscilação que vemos nas escolhas políticas da população reflete a existência de uma forte demanda por um sistema muito melhor de distribuição de renda e, além disso, por um sistema econômico e social muito mais justo”, disse Werner.

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Em abril, a Colômbia tentou uma reforma tributária para ampliar sua arrecadação e alargar sua base tributária, mas o governo foi forçado a abandoná-la depois de apenas alguns dias, por conta de uma onda de protestos violentos em todo o país.

Werner disse que mudanças com o objetivo de elevar a arrecadação tributária eram necessárias para reparar as finanças públicas da região, mas acrescentou que a experiência de Bogotá demonstrava a necessidade de um acordo amplo sobre relações econômicas, que fosse além da classe política tradicional.

“O ambiente político é muito difícil para a implementação de reformas, e portanto os países terão de ser muito cuidadosos ao estruturá-las, promovendo o engajamento da população em geral e por fim gerando um consenso porque essas reformas são necessárias”, ele disse.

“Caso isso não aconteça, veremos instabilidade significativa que prejudicará o emprego, prejudicará a recuperação, prejudicará os indicadores sociais. É um cenário muito difícil”.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci



















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