Setor industrial é responsável por 20% do PIB brasileiro
Entre as atividades industriais, a principal queda veio dos veículos automotores
A digitalização vai entrando em cada espaço do processo industrial
Apesar de ser responsável por 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, o setor industrial passou por uma avalanche em 2020. Em meio a pandemia do novo coronavírus, esta importante área da economia brasileira teve algumas perdas significativas: primeiramente o desembarque da montadora automotiva norte-americana Ford e, depois, uma sequência de empresas de tecnologia, como Sony, LG e, mais recentemente, Canon.
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“Se você tem um barco fazendo água, se pega uma tempestade, a chance de afundar é muito maior”, diz o economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria, Renato da Fonseca, em entrevista ao Yahoo! Finanças. “A crise de 2020 é uma verdadeira tempestade. Nem havíamos saído totalmente da crise que começou lá em 2015 ou 2016 e agora começou mais essa. Além disso, o governo não nos ajuda a sair da crise”.
Crise em números
Dando uma olhada nos números do setor industrial, percebe-se logo como o período da pandemia impacta esta roda da economia. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a indústria brasileira fechou 2020 com uma queda de 4,5% em sua produção. No período de março e abril, quando houve as medidas mais duras de isolamento social para enfrentar a covid-19 em todo o País, a indústria recuou 27,1%.
Entre as atividades industriais, a principal queda veio dos veículos automotores, reboques e carrocerias (-28,1%). Outras contribuições negativas importantes para o setor vieram dos ramos de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-23,7%), indústrias extrativas (-3,4%), metalurgia (-7,2%), couro, artigos para viagem e calçados (-18,8%), outros equipamentos de transporte (-29,1%) e impressão e reprodução de gravações (-38,0%).
No primeiro trimestre de 2021, somente a indústria de transformação teve resultado negativo (-0,5%). Nos demais, houve avanço: indústrias extrativas (3,2%), construção (2,1%) e eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (0,9%). Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, a indústria cresceu 3%, com o desempenho da indústria de transformação (5,6%) — influenciado pela fabricação de máquinas e equipamentos; produtos de metal; produtos de minerais não-metálicos; e metalurgia.
No entanto, ainda não há espaço para comemoração. Afinal, outro problema: na retomada, há dificuldade em acompanhar a demanda. “Estamos com uma falta de materiais no mercado”, afirma o economista e analista do setor, Pedro Vasconcellos. “Várias indústrias simplesmente não conseguem alavancar a produção de seus respectivos setores pois não há matéria-prima no mercado. Desligaram a máquina. Demora para voltar a funcionar”.
Como sair da crise na indústria?
Quando se discute as possibilidades para escapar da crise que se impõe contra o setor industrial, há dois caminhos. “O pensamento mais liberal entende que reformas, para desregulamentar emprego e mercado financeiro, vai ajudar que o investimento retorne e aconteça”, diz o professor Mauro Rochlin, economista e professor da Fundação Getúlio Vargas. “Já o pensamento desenvolvimentista quer um Estado influenciando na indústria”.
No primeiro grupo, está o economista-chefe da CNI, Renato da Fonseca. “A gente tem um problema grave de Custo Brasil, que onera o setor industrial e puxa a competitividade cada vez mais para baixo”, diz o executivo, quando questionado sobre os caminhos para a recuperação. “Há indicativos de que o Custo Brasil drene R$ 1,5 trilhão por ano das empresas instaladas no território nacional, o que representa 22% do Produto Interno Bruto”.
Para Fonseca, a saída é apostar em uma ampla reforma tributária. “É preciso resolver o Custo Brasil. Começamos a bater esse bumbo em 1995, mas a velocidade é pouca”, diz “O problema é que as pessoas não percebem que abrem mão para ganhar algo lá na frente. Hoje, todos os setores pagam o mesmo imposto e isso é muito difícil. Hoje, temos um custo burocrático muito alto nas empresas, principalmente as de cadeias longas. Precisa mudar”.
Pedro Vasconcellos, analista do setor, segue por um outro caminho — mas também de olho na redução do Custo Brasil. “Hoje, não consigo ver com sucesso uma reforma tributária profunda, com foco social”, diz o especialista. “Eu arriscaria um Estado fazendo aberturas para investimentos mais flexíveis, mas com uma presença forte para criar abrir zonas abertas, investimentos mais coesos, participações estatais que giram a roda do dinheiro”.
Oportunidades na pandemia
Apesar da queda de produção, na crise, surgiram oportunidades. Primeiramente, uma coisa óbvia e que afeta todos os setores da economia: a automação. “Há segmentos que vêm ganhando força e indicando um aumento importante de demanda, como alimentos, medicamentos, produtos de limpeza e higiene pessoal. Para estas indústrias, felizmente é necessário produzir ainda mais e, para isso, a automação é a resposta para melhorar a eficiência dos processos”, explica Denis Pineda, gerente regional da Universal Robots.
Com isso, muitas empresas começaram a adotar ainda mais máquinas, robôs e até inteligência artificial. Além disso, o professor de economia e analista industrial, Ricardo Barata, afirma que há digitalização nos processos. “Empresas que antes tinham uma organização extremamente analógica passaram a entrar na onda da indústria 4.0”, diz. “Até mesmo aquelas empresas industriais menores encontraram espaço pra digitalização”.
Assim, aos poucos, a digitalização vai entrando em cada espaço do processo industrial. “A automação e a tecnologia começam com coisas mais superficiais, como uma máquina que agiliza a fabricação de alguma coisa ou facilita um processo específico”, diz Pedro Vasconcellos ao Yahoo! Finanças. “Logo depois, com a empresa já no mundo digital, fica mais fácil dar o passo para digitalizar a logística, por exemplo. Entramos de vez no 4.0”.
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