E a direita moderna, liberal na economia e também no social, na cultura e nos costumes?
Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo
Após 20 anos de ditadura militar,
a balança se inverteu e o preconceito contra os militares passou a
andar lado a lado com uma onda de esquerda e centro-esquerda. Falar em
direita? Vade retro! Partidos conservadores mais aguerridos se diziam
“liberais”, até de “centro-esquerda”, mesmo depois que as Forças Armadas
passaram ao 1.º lugar de aprovação nas pesquisas.
O único político que tentou criar um partido nitidamente de direita foi Luís Eduardo Magalhães, grande promessa política que morreu aos 43 anos, em 1998. Sem ele, até PP, PTB e PL se apresentam como de “centro”. E viraram “Centrão”. Logo, a criação da Aliança pelo Brasil é um movimento importante e um teste sobre o tamanho e a identidade, ou alma, da direita brasileira, hoje mobilizada em torno de um “mito”, Jair Bolsonaro, e de uma novidade, o bolsonarismo. Seus nove partidos anteriores, como o PSL pelo qual se elegeu há um ano, foram apenas utilitários.
A grande pergunta, porém, é que direita é essa? Aquela direita de Luís Eduardo? Ou uma nova direita de cultos? A resposta pode definir uma linha clara entre os que apoiam o governo Bolsonaro por pragmatismo ou falta de opção e aqueles que realmente comungam as ideias, muitas delas beirando o absurdo, da nova onda de poder.
Filho do ex-governador e ex-senador Antonio Carlos Magalhães, o ACM, Luís Eduardo incorporava o que se pode chamar de uma terceira vertente da direita clássica brasileira. Depois do coronelismo bruto da era getulista e do caudilhismo mais envolvente, à la ACM, o jovem deputado baiano era a promessa de uma direita moderna, urbana, liberal no sentido mais amplo.
Já Bolsonaro é o quê? É conceitualmente de direita e comunga com as premissas clássicas do liberalismo? Ou apenas pensa, fala e age atabalhoadamente, embolando a defesa de Ustra, Pinochet e Stroessner, uma visão tosca sobre globalização, a mistura deletéria de política com religião, a obsessão por armas, a cultura do corporativismo, o desprezo por cadeirinhas e radares, o desdém pela pesquisa e a ciência, a falta de paciência com a ecologia, uma política externa personalista e belicosa, a mal disfarçada tese do “bandido bom é bandido morto”?
É nisso que desembocou a direita brasileira? Cadê a direita que equilibra o liberalismo na economia com o liberalismo social e cultural? Que combate o dirigismo estatal, defende a iniciativa privada e a política externa pragmática, simultaneamente à responsabilidade social, liberdade de expressão, igualdade de direitos, dignidade da pessoa humana, respeito à diversidade e a globalização? Ou a direita não pode ser generosa e inclusiva?
A Aliança pelo Brasil – aliás, um nome bom, de grande apelo – nasce como um partido familiar. Jair é presidente, Flávio é vice, Eduardo é ideólogo, Jair Renan é vogal, enquanto Carlos mantém-se na trincheira das redes sociais.
Pairando sobre a família e o auditório gritando slogans em tom evangélico, ou de seita, estavam lá o tal Olavo de Carvalho, o tal Steve Bannon, a tal obsessão ideológica, a tal visão tortuosa de mundo e uma guerra insana contra uma salada de fantasmas: comunismo, globalismo e nazi-fascismo. Uma barafunda que pode ser bastante útil para eleições, mas bem pouco convincente para articular solidamente a real direita brasileira, inclusive a empresarial.
E, mais do que as regras da Justiça Eleitoral, prazos e questões práticas sobre assinaturas digitais ou não, um grande risco para o novo partido vem da realidade internacional. Com o afastamento de Trump deixando de parecer absurdo nos EUA e processos se avolumando contra Netanyahu em Israel, os dois maiores ídolos do “direitista” Bolsonaro não só parecem ameaçados como ameaçam o discurso do presidente e do novo partido presidencial.
O único político que tentou criar um partido nitidamente de direita foi Luís Eduardo Magalhães, grande promessa política que morreu aos 43 anos, em 1998. Sem ele, até PP, PTB e PL se apresentam como de “centro”. E viraram “Centrão”. Logo, a criação da Aliança pelo Brasil é um movimento importante e um teste sobre o tamanho e a identidade, ou alma, da direita brasileira, hoje mobilizada em torno de um “mito”, Jair Bolsonaro, e de uma novidade, o bolsonarismo. Seus nove partidos anteriores, como o PSL pelo qual se elegeu há um ano, foram apenas utilitários.
A grande pergunta, porém, é que direita é essa? Aquela direita de Luís Eduardo? Ou uma nova direita de cultos? A resposta pode definir uma linha clara entre os que apoiam o governo Bolsonaro por pragmatismo ou falta de opção e aqueles que realmente comungam as ideias, muitas delas beirando o absurdo, da nova onda de poder.
Filho do ex-governador e ex-senador Antonio Carlos Magalhães, o ACM, Luís Eduardo incorporava o que se pode chamar de uma terceira vertente da direita clássica brasileira. Depois do coronelismo bruto da era getulista e do caudilhismo mais envolvente, à la ACM, o jovem deputado baiano era a promessa de uma direita moderna, urbana, liberal no sentido mais amplo.
Já Bolsonaro é o quê? É conceitualmente de direita e comunga com as premissas clássicas do liberalismo? Ou apenas pensa, fala e age atabalhoadamente, embolando a defesa de Ustra, Pinochet e Stroessner, uma visão tosca sobre globalização, a mistura deletéria de política com religião, a obsessão por armas, a cultura do corporativismo, o desprezo por cadeirinhas e radares, o desdém pela pesquisa e a ciência, a falta de paciência com a ecologia, uma política externa personalista e belicosa, a mal disfarçada tese do “bandido bom é bandido morto”?
É nisso que desembocou a direita brasileira? Cadê a direita que equilibra o liberalismo na economia com o liberalismo social e cultural? Que combate o dirigismo estatal, defende a iniciativa privada e a política externa pragmática, simultaneamente à responsabilidade social, liberdade de expressão, igualdade de direitos, dignidade da pessoa humana, respeito à diversidade e a globalização? Ou a direita não pode ser generosa e inclusiva?
A Aliança pelo Brasil – aliás, um nome bom, de grande apelo – nasce como um partido familiar. Jair é presidente, Flávio é vice, Eduardo é ideólogo, Jair Renan é vogal, enquanto Carlos mantém-se na trincheira das redes sociais.
Pairando sobre a família e o auditório gritando slogans em tom evangélico, ou de seita, estavam lá o tal Olavo de Carvalho, o tal Steve Bannon, a tal obsessão ideológica, a tal visão tortuosa de mundo e uma guerra insana contra uma salada de fantasmas: comunismo, globalismo e nazi-fascismo. Uma barafunda que pode ser bastante útil para eleições, mas bem pouco convincente para articular solidamente a real direita brasileira, inclusive a empresarial.
E, mais do que as regras da Justiça Eleitoral, prazos e questões práticas sobre assinaturas digitais ou não, um grande risco para o novo partido vem da realidade internacional. Com o afastamento de Trump deixando de parecer absurdo nos EUA e processos se avolumando contra Netanyahu em Israel, os dois maiores ídolos do “direitista” Bolsonaro não só parecem ameaçados como ameaçam o discurso do presidente e do novo partido presidencial.
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