sábado, 23 de novembro de 2019

Como falar sobre RACISMO com as crianças


Por Gisela Monteiro*, doutora em Psicologia Social pela USP, professora universitária, psicoterapeuta, escritora e palestrante

Em tempos de hashtags #somostodosalgumacoisa é importante lembrar que, na verdade, também somos muito diferentes. E está tudo bem, principalmente para as crianças, porque elas nascem não se importando com isso. Conforme crescem é que são lembradas pelos adultos destas diferenças!  
Neste 20 de novembro de 2019, Dia da Consciência Negra, precisamos lembrar que o preconceito não é algo natural nas pessoas, é aprendido por imitação, assimilado por meio da socialização e da cultura. Exemplos são poderosos.
As crianças que têm comportamentos preconceituosos e discriminatórios provavelmente aprenderam isso dentro de casa, no núcleo de socialização inicial, que é a família. Elas observam o comportamento dos pais, seja em relação a raça, credo, cor ou religião e tendem a repetir. A inferiorização de determinados grupos é uma construção histórica, social e cultural, por algum motivo, ou melhor, sem nenhuma razão.
O que temos que fazer é ter um comportamento sem qualquer tipo de preconceito e diferenciação para as crianças aprenderem isso. Mostrar a importância de respeitar as diferenças é uma lição que deve ser ensinada desde os primeiros anos de vida.
Não falo apenas sobre sermos racistas, mas temos que pensar também que podemos ser vítimas de preconceito, diante de tanta subdivisão e hashtags que circulam na sociedade real e digital.  
Então, como falar sobre um assunto tão delicado com as crianças? Seja clara, direta e objetiva. Use uma linguagem adequada à idade. Fique atenta a situações sociais nas quais manifestações de racismo aconteçam e aponte par seu filho, filha.
Esperar que a criança faça pergunta pode ser um caminho, pois algumas costumam questionar sobre o que as incomoda. Não existe hora certa, não precisa agendar o papo, aproveite as oportunidades que surgirem em desenhos, filmes ou na vida cotidiana.
Para perceber se seu filho ou filha está sendo discriminado, os pais devem ficar atentos em relação a sinais de desconforto, angústia, mudanças no padrão alimentar ou de sono. Não querer ir para a escola, por exemplo, pode ser um sinal. Nesse caso, devem perguntar o que está acontecendo e tentar compreender o que está havendo.
Usar histórias, livros, desenhos, recriar o acontecimento na hora da explicação podem facilitar a comunicação e o entendimento por parte deles. 
Explique também, que comportamentos discriminatórios são passíveis de denúncia, porque configuram crime. As crianças devem ser estimuladas a procurarem adultos de sua confiança para contarem sobre essas situações caso presenciem.
A escola, lugar valioso para formação das crianças, deve ser o epicentro da convivência com a diversidade, exemplo de cooperação e relações sociais amistosas. Escolha uma na qual verifique esse comportamento entre todos, equipe e alunos.
Não esqueça então, de ser você também um bom exemplo de tolerância e respeito à diferentes religiões, raças e culturas, passando pelo time de futebol e estilo musical A variedade é muito mais interessante, provoca reflexão e enriquecimento de repertório!
*Gisela Monteiro é doutora em Psicologia Social pela USP, professora universitária, psicoterapeuta, escritora e palestrante. Idealizadora da plataforma Falatório com Gisela (www.falatoriocomgisela.com.br), na qual apresenta a Psicologia de forma descomplicada.

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