10 dez 2019
Apesar de subir uma posição no Índice de Desempenho perante as
Mudanças Climáticas em relação ao ano passado, país deixa a desejar em
termos de políticas ambientais. EUA são apontados como grandes vilões do
clima.O Índice de Desempenho perante as Mudanças Climáticas (CCPI, na
sigla em inglês), divulgado nesta terça-feira (10/12) pelo Instituto
NewClimate, pela ONG Germanwatch e pela rede Climate Action Network,
destaca as economias com a maior intensidade de emissões de gases
poluentes do mundo e indica quem está trabalhando mais em termos de
proteção climática.
O estudo analisou e comparou os progressos feitos em prol da meta
estabelecida pelo Acordo de Paris, de manter o aquecimento global abaixo
de 2°C, em 57 países, além da União Europeia (UE) como um bloco.
Juntos, esses Estados são responsáveis por mais de 90% das emissões
globais de gases de efeito estufa.
Os países foram classificados em quatro áreas: emissões de gases de
efeito estufa, parcela de energia gerada por fontes renováveis, consumo
de energia per capita e política atual e climática.
Apesar de ter avançado uma posição no ranking em relação ao ano
passado, passando do 22º para o 21º lugar, na classificação geral, o
Brasil aparece com desempenho "médio" em relação à proteção climática.
Em termos de energia renovável, o desempenho do país foi classificado
como "alto". Com mais de 70% de sua energia proveniente de
hidrelétricas, o Brasil foi o líder mundial nessa área.
No entanto, o país ficou entre os últimos colocados (em termos de
política climática. O relatório do CCPI aponta que, o Brasil tem uma
parcela comparativamente alta de energias renováveis, mas falta
planejamento para expandir essas fontes de energia.
Além disso, "especialistas apontam para a para a falta de políticas
de redução de emissões no longo prazo e para a eliminação progressiva
dos subsídios aos combustíveis fósseis", diz o texto.
"Especialistas estão preocupados com as taxas de desmatamento, as
mais altas da última década, e com os extensos incêndios florestais na
Amazônia, enquanto o governo do presidente Bolsonaro cortou o orçamento
da agência ambiental de prevenção de incêndios", prossegue o relatório.
Assim como o Brasil, os Estados Unidos tiveram sua política climática
avaliada como "muito baixa". Se houvesse uma segunda divisão para a
ação climática, o país seria rebaixado imediatamente. Já em declínio no
ranking de 2018, o país chegou neste ano ao fim da tabela.
"A política de proteção climática está em retrocesso", disse Höhne
sobre os EUA. Sob o presidente Donald Trump, muitas regras ambientais
foram descartadas e Washington deverá deixar o Acordo de Paris no
próximo ano. O consumo energético per capita no país é mais que o dobro
do da UE e dez vezes maior que o da Índia.
Além de Brasil e Estados Unidos, aparecem nas piores colocações em
termos de política climática: Malta, República Tcheca, Hungria, Romênia,
Polônia, Japão, Argélia, Bulgária, Turquia e Austrália.
Suécia no topo do ranking
Os cientistas envolvidos no estudo concordam que, até o final deste
século, a temperatura do planeta deve ficar pelo menos 3°C mais alta do
que era antes da Revolução Industrial - a menos que sejam reduzidas
drasticamente e rapidamente as emissões de CO2 produzidas pelo ser
humano.
Até agora, há pouco sinal disso, de acordo com o índice divulgado
nesta terça. "Tradicionalmente, o índice de proteção climática deixa em
aberto os três primeiros lugares", disse à DW Niklas Höhne, um dos
autores do relatório. "E eles não foram ocupados novamente este ano,
porque nenhum país fez o suficiente para cumprir o acordo climático."
Com nenhum país considerado digno de ouro, prata ou bronze, a Suécia
ficou em quarto lugar no ranking. A nação nórdica obteve boa
classificação em termos de política, na meta de alcançar o fornecimento
de 100% de energia renovável até 2040 e no imposto mais elevado sobre
emissões de carbono do mundo, com 114 euros por tonelada. Em comparação,
a Alemanha planeja introduzir um imposto de 10 euros por tonelada de
carbono emitido em 2021.
Atrás
da Suécia, Dinamarca e Marrocos ficaram em quinto e sexto lugares. A
Alemanha ocupou o 23º lugar. Atualmente, o maior perdedor climático da
Europa foi a Polônia, em 50º lugar. A China subiu no ranking em relação
ao ano passado, mas ainda está na metade inferior da tabela, na 30ª
posição.
Um movimento sutil na direção certa
As emissões totais estiveram caindo em mais da metade dos Estados
analisados, "particularmente os países industrializados menores e
aqueles em desenvolvimento", disse à DW Ursula Hagen, coautora do
relatório. "Esse é um aspecto positivo e nos dá esperança de uma
reviravolta."
"Vemos movimentos sutis na direção certa", afirmou Höhne. Mas as
maiores economias industrializadas do mundo, que fazem parte do G20,
"infelizmente ainda estão com um desempenho muito ruim". "Mais da metade
do G20 está na metade inferior do índice", apontou.
Logo atrás de seu vizinho nórdico, a vice-campeã Dinamarca é um país
pequeno com grande pontuação em política climática. O objetivo é reduzir
70% de suas emissões de CO2 até 2030, quando planeja eliminar
gradualmente o carvão.
O Marrocos também impressionou os pesquisadores. Já em 2015, ele se
tornou um dos poucos países em todo o mundo a começar a cortar subsídios
aos fornecedores de energia fóssil, diz o estudo. Também ganhou pontos
pelo baixo consumo energético e pelo desenvolvimento de energia
renovável, que deverá suprir 52% de sua demanda até 2030.
Neste ano, pela primeira vez, a Índia ficou entre os dez primeiros do
índice de proteção climática, obtendo notas altas pelo consumo
relativamente baixo de energia per capita e - ao contrário dos EUA e da
Europa - pelas baixas emissões de gases de efeito estufa. A Índia também
investiu pesado em energias renováveis, que deverão fornecer 40% de sua
demanda até 2030. "Acho algo extremamente impressionante para um país
nesse nível de desenvolvimento", afirmou Höhne.
Pontos foram retirados, no entanto, pelos planos da Índia de
construir novas termelétricas a carvão, a fim de atender parte do
restante de sua crescente demanda por energia.
"Em minha opinião, cabe à comunidade internacional ajudar a Índia a
evitar esse desenvolvimento, mudando, em vez disso, para fontes
alternativas de energia", acrescentou Höhne.
Europa e Alemanha precisam levar a sério
O relatório saudou os apelos da nova presidente da Comissão Europeia,
Ursula von der Leyen, no sentido de que a União Europeia eleve suas
metas de redução de emissões para 2030 de 40% para 55%.
"Essas metas são a razão pela qual atribuímos à UE uma boa
classificação em política climática", observou Ursula Hagen. "Assim como
o objetivo de neutralidade climática até 2050, isso agora deve ser
alcançado com medidas concretas. Até agora, há pouca ou nenhuma
estratégia de fato."
Atualmente, a UE não está a caminho de alcançar as metas climáticas
de Paris. Nem a Alemanha, cuja política climática Hagen descreve como
"inexpressiva" e "incompatível" com o Acordo de Paris.
Höhne descreveu o pacote de política climática adotado recentemente
pela Alemanha como "um passo na direção certa, mas muito pequeno",
acrescentando que o país precisaria de "um compromisso claro com a
neutralidade climática". Até lá, ele ocupará uma posição mediana no
índice, bem longe de um dos lugares vazios no pódio dos vencedores.
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