O Brasil voltou a avançar, mas precisa ser bem mais rápido para acertar o passo com as grandes economias
Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
O
Brasil voltou a avançar, mas precisa ser bem mais rápido para acertar o
passo com as grandes economias. O País até fez bonito no terceiro
trimestre, com um Produto Interno Bruto (PIB) 0,6% maior que no segundo.
Foi um desempenho melhor que o da maior parte dos membros do Grupo dos
20 (G-20). China, Índia e Indonésia foram, sem surpresa, exceções. Mas o
desempenho brasileiro é bem mais modesto quando se assiste a um filme
mais longo, iniciado, por exemplo, em 2016. Nesse período, o País correu
no pelotão dos mais lentos, distanciando-se ano a ano dos competidores
mais dinâmicos. O Brasil foi deixado para trás pelos emergentes mais rápidos,
como China e outros grandes da Ásia, e também por vários países
avançados, como Estados Unidos, França e Canadá. A história começa na
fase final da recessão, em 2016, início de uma convalescença, mas esse
dado conjuntural é apenas parte da história. Baixa produtividade tem
sido um fator muito mais importante.
O Grupo dos 20, formado
pelas maiores economias do mundo, acumulou até o terceiro trimestre de
2019 um crescimento de 11% sobre a base do terceiro trimestre de 2016.
Nesse período, o PIB da zona do euro aumentou 5,8%. O dos Estados Unidos
expandiu-se 7,8%. O da França avançou 5,8%. O crescimento chinês
atingiu 20,4%. A Indonésia exibiu um resultado de 16,2%. O Brasil mal
conseguiu acumular nesses quatro anos um modestíssimo avanço de 4,4%.
A
recessão de 2015-2016 foi um desastre de gravidade incomum, maior
retração observada na economia brasileira em muitas décadas. Mas o
Brasil já estava atrasado na corrida global. Vinha perdendo espaço
também para economias sul-americanas, como Chile, Colômbia, Peru e
Paraguai.
A lista dos
entraves ao crescimento brasileiro é longa e bem conhecida. Os itens
principais são facilmente enumeráveis: economia muito fechada e muito
protegida, dinheiro público mal aplicado, tributação disfuncional,
burocracia excessiva, infraestrutura deficiente, crédito caro e mal
dirigido por muito tempo, investimento fixo muito baixo e formação de
capital humano insuficiente e mal planejada. Desajuste fiscal
persistente, irresponsabilidades em relação a preços e distorções
graves, como a política dos campeões nacionais, tornaram inevitável o
desastre de 2015-2016, complicando um quadro já muito ruim.
Baixa
produtividade resume várias das consequências dessa longa história de
erros. Só um setor, a agropecuária, exibiu sólido crescimento de
capacidade produtiva a partir dos anos 1990. Sua produtividade, medida
com base nas horas de trabalho, aumentou em média 6,8% ao ano entre 1995
e 2018, segundo estudo recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV). No
mesmo período a produtividade da indústria diminuiu em média 0,2% ao
ano. A queda anual chegou a 2,3% entre 1995 e 2002. Entre 2013 e 2018
houve modesta expansão de 0,5% ao ano, amplamente insuficiente para
aproximar a indústria brasileira dos padrões internacionais. Nos
serviços houve alguma expansão a partir de 1995, com ganho anual de
produtividade próximo de 0,3%. Essa média vale para o período até 2018,
mas na fase final, a partir de 2013, houve queda de 1,5% ao ano.
Foram
especialmente graves os casos das indústrias de transformação e de
construção, com recuos anuais de produtividade de 0,7% e 1%. Foi quase
como se o Brasil fosse uma economia em processo de desindustrialização
precoce.
Tudo isso se reflete nas projeções de crescimento
econômico. Segundo estimativas do mercado, o PIB deve fechar 2019 com
expansão de 1,12%. Para a produção industrial está prevista redução de
0,71%. Para 2020 o resultado previsto para a indústria acaba de ser
diminuído de 2,20% para 2,02%.
O fraco desempenho da indústria
afeta a qualidade do crescimento, com perdas no avanço tecnológico, na
difusão de estímulos entre segmentos e setores da economia e na geração
de empregos qualificados internacionalmente como decentes. Problemas
desse tipo, no entanto, pouco têm aparecido na retórica, nos planos e
nas análises do ministro da Economia e dos principais técnicos de sua
equipe.
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