A experiência dinamarquesa sugere que é possível ter porcos saudáveis e uso muito menor de antibióticos
Andrew Jacobs, The New York Times
BILLUND, DINARMCA - Quantas doses de antibióticos são necessárias para criar um porco
dinamarquês? Se é um dos 35 mil leitões criados a cada ano na fazenda
de Soren Sondergaard, é provável que ele tenha recebido apenas uma até
ir para o abate. "Quando eu era garoto, costumávamos despejar quilos de
antibióticos em seus cochos", disse Sondergaard, 40 anos, cuja família
tem propriedades na península da Jutlândia há gerações. "Isso é coisa do
passado."
Como o uso de antibióticos na pecuária disparou globalmente, contribuindo para o aumento de germes resistentes a medicamentos, a Dinamarca
provou que um país pode construir uma indústria próspera, ao mesmo
tempo em que reduz drasticamente o uso de antibióticos. Os produtores
americanos de carne suína usam antibióticos a uma taxa
sete vezes maior do que a dos agricultores dinamarqueses, de acordo com
um relatório de 2018 do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais.
O uso excessivo está dando aos germes mais
oportunidades para evoluir e superar os medicamentos projetados para
matá-los. As infecções resistentes a antibióticos são atualmente
responsáveis pela morte de 700 mil pessoas por ano em todo o mundo. Sem
uma ação ousada, as Nações Unidas estimaram que patógenos resistentes a medicamentos poderiam causar a morte de 10 milhões de pessoas em todo o mundo até 2050.
Funcionários da indústria de carne suína nos Estados Unidos
argumentam que os antibióticos são essenciais para manter os animais
saudáveis e os custos com alimentos baixos. Mas a Dinamarca demonstrou
que é possível criar um suprimento massivo de alimentos à base de carne,
preservando os antibióticos mais preciosos para as pessoas. As mudanças
na Dinamarca foram alcançadas por meio de regulamentações mais rígidas e, à medida que os agricultores aprendiam a criar animais dessa maneira, também os mantinham mais saudáveis.
Lance
Price, diretor do Centro de Ação de Resistência a Antibióticos da
Universidade George Washington, em Washington, disse que as críticas da
indústria suína americana a países que reduziram o uso de antibióticos são
frequentemente baseadas em uma análise seletiva e cínica dos dados.
"Pelo bem da humanidade, eles precisam assumir alguma responsabilidade
por seu papel nesta crise antes que seja tarde demais", disse ele.
Em resposta à mudança de opinião pública, redes de fast-food como McDonald's, Taco Bell e Wendy
não compram mais frango de produtores que fazem uso considerável de
antibióticos. Mais da metade das galinhas nos Estados Unidos agora são
criadas sem os remédios, de acordo com o Conselho Nacional de Frangos. A
experiência dinamarquesa sugere que é possível ter porcos saudáveis e
uso muito menor de antibióticos. "A maioria de nós tem filhos", disse
Sondergaard. "Queremos garantir que deixemos um mundo onde os
antibióticos ainda funcionem."
A Dinamarca, com seis milhões de pessoas, cria 32 milhões de porcos por
ano. Houve uma contração em 1995, quando o governo impediu os
veterinários de vender medicamentos antimicrobianos diretamente aos
agricultores, removendo um incentivo para prescrições desnecessárias. Os
regulamentos exigiam que os agricultores pagassem aos veterinários
visitas regulares, aliviando a oposição, disse Ken Steen Pedersen, da
Associação Veterinária Dinamarquesa. "Os veterinários perceberam que
poderiam ganhar dinheiro vendendo conhecimento e conselhos aos
agricultores, em vez de vender remédios", disse ele.
Desde 2010, o
governo estabeleceu metas para reduzir o uso de antibióticos em
animais, começando com 10% nos primeiros quatro anos e 15% nos cinco
anos seguintes. As fazendas que excedem as metas recebem um cartão
amarelo, um emblema de desonra que em 2018 foi distribuído para apenas
30 das 3,1 mil fazendas de porcos do país. Nos últimos anos, nenhuma
fazenda recebeu o cartão vermelho por incumprimento repetido.
Michael Nielsen, 55 anos, disse que mudou a maneira como criava suínos perto
de Copenhague. "Quero mostrar que podemos fazer produção industrial com
melhor bem-estar animal", disse ele. "Tentamos tornar a vida deles o
mais livre de estresse possível". Algumas táticas são baratas, como a
distribuição diária de palha fresca, que amortece o frio piso de
concreto e dá aos "adolescentes inquietos" algo nutritivo para mastigar.
Mas, para reduzir o estresse nos leitões que às vezes leva à
diarreia infecciosa, a maioria dos agricultores dinamarqueses permitiu
que eles fossem desmamados depois de um mês, uma semana a mais que a
média do porco americano. E, em um esforço para dar
espaço para as porcas que amamentam, Nielsen recentemente expandiu o
tamanho de suas gaiolas de confinamento em 50%, um sacrifício
significativo para os agricultores cujas margens de lucro geralmente são
muito pequenas.
Anders Rhod Larsen, um microbiologista do
Instituto Statens Serum, disse que "existe um senso de responsabilidade
compartilhado, de que precisamos resolver esse problema juntos". Muitas
das medidas adotadas pela Dinamarca estão sendo adotadas em toda a
Europa. Ainda assim, em países em desenvolvimento, onde o aumento de
renda está conectado a maior demanda por proteína animal, o uso de
antibióticos na pecuária continua crescendo.
Christian Fink
Hansen, diretor de pesquisa em suínos da Seges, uma cooperativa de
pesquisa financiada por agricultores na Dinamarca, disse que o impacto
da redução de antibióticos na pecuária será
limitado se outros países continuarem com o uso liberal dos
medicamentos. "Estamos fazendo todo o possível para combater esse
problema global, mas no final do dia, não podemos fazer isso sozinhos".
TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
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