Certamente você não verá o maior e mais importante furo jornalístico do ano, a série de reportagens Vaza Jato —publicação do The Intercept Brasil em parceria com outros veículos, incluindo o EL PAÍS— nas retrospectivas das emissoras de televisão brasileiras. Esqueça. Melhor ver Mindhunter ou outra série favorita sobre monstruosas criaturas.
Outros textos de Xico Sá
O pecado da omissão televisiva ajuda preservar a imagem canonizada de Sergio Moro, que deixou o cargo de juiz para entrar no Governo Jair Bolsonaro
—sem escala ou quarentena moral. A alta popularidade, segundo a última
pesquisa Datafolha, confirma a tese. É como se Nelsinho fosse mostrado
apenas como o bom, correto e sonso “rapaz de família” e jamais na pele
de O vampiro de Curitiba, personagem do livro homônimo do gênio Dalton Trevisan.
Ministro
apenas protocolar no comando da Justiça, o ex-juiz foi flagrado
vampirizando a lei em uma trapaça nunca dantes vista na literatura
jurídica nacional. As revelações da turma de Glenn Greenwald são de fazer corar o mais indecente dos rábulas de porta de cadeia.
O dublê de Superman
—assim tem sua representação nas manifestações da extrema direita nas
ruas do Brasil— era bedel, juiz, promotor, delegado da PF, guru e xamã
dos procuradores. Tudo ao mesmo tempo agora. Cobrava escanteio e corria
para cabecear ao gol. Era árbitro de campo e da cabine do VAR no mesmo lance. Para o delírio do pupilo Deltan Dallagnol —outro vocacionado Nelsinho dos gabinetes curitibanos— em mais um transe religioso da Lava Jato.
O
advogado e jornalista Greenwald não titubeia ou tampouco se protege com
o escudo dos verbos no condicional quando trata do assunto: “Quando tem
um juiz corrupto na primeira instância, o processo é comprometido de
todas as formas porque este juiz corrupto está decidindo quais
evidências vão ser incluídas, quais testemunhas vão ser ouvidas. Então, o
processo total é corrupto. O STF está concluindo isto agora”.
“No
fundo de cada filho de família dorme um vampiro”, escreve Dalton
Trevisan. Cuidado. Sedento por prisões inconstitucionais, ele pode sugar
o sangue de inocentes nas próximas eleições presidenciais.
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