País sobe três posições com bom desempenho na área da educação e saúde. Dados de participação econômica e política, por outro lado, derrubam nota brasileira. Islândia é o país com maior paridade e Yêmen, o menor
Marco Antônio Carvalho, O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - Relatório divulgado nesta segunda-feira, 16, pelo Fórum Econômico Mundial
sobre desigualdade de gênero mostra o Brasil na 92.ª posição - ranking
onde a primeira colocação é ocupada pelo país menos desigual e a última,
pelo mais desigual -, entre 153 países analisados. A colocação é um
pouco melhor que a 95.ª posição alcançada no relatório anterior, e
mostra indicadores positivos no acesso à saúde e educação. A
participação econômica e o empoderamento político são as áreas onde a
diferença entre homens e mulheres são mais intensas, o que joga o País
para baixo.
O
relatório elabora um índice que mensura a lacuna entre as oportunidades e
serviços disponíveis aos homens e mulheres de países de todas as
regiões do mundo. O objetivo, segundo seus organizadores, é chamar
atenção para os desafios decorrentes das lacunas de gênero e as chances
que podem ser criadas com a redução dessa diferença. A análise,
acrescenta o Fórum, deve servir como base para implementação de medidas
efetivas.
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O
Fórum Econômico Mundial informa que houve avanço no combate à
desigualdade de gênero no mundo e isso ocorreu de forma mais espalhada:
dos 149 países analisados neste ano e no ano passado, 101 melhoraram a
pontuação. O tempo para se eliminar a desigualdade de gênero passou de
108 anos para 99,5 anos, a se manter o ritmo atual.
O top 10 de países com maior paridade de gênero é formado por quatro países nórdicos (Islândia em primeiro, Noruega em segundo, Finlândia em terceiro e Suécia em quarto), um país latino (Nicarágua,
em quinto), um da Oceania (Nova Zelândia, em sexto), três outros da
Europa ocidental (Irlanda, em sétimo, Espanha, em oitavo, e Alemanha, em
décimo) e um país africano (Ruanda, em nono).
Na parte que dedica ao Brasil, o relatório destaca que apesar de uma
melhora em relação ao ano passado, o País permanece com uma das maiores
lacunas de gênero da América Latina,
ocupando a 22.ª posição entre os 25 países da região, e quase 90
posições atrás da Nicarágua, que teve a melhor pontuação entre os
vizinhos.
“Apoiar a paridade de género é fundamental para
garantir sociedades fortes, coesas e resilientes em todo o mundo. Também
para os negócios, a diversidade será um elemento essencial para
demonstrar que o capitalismo das partes interessadas é o princípio
orientador. É por isso que o Fórum Econômico Mundial está trabalhando
com as partes interessadas de empresas e governos para acelerar os
esforços para eliminar a desigualdade de gênero”, disse em nota
divulgada à imprensa Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do
Fórum.
O Brasil figura nas primeiras posições de igualdade na
área de saúde e sobrevivência. O fato de a expectativa de vida da mulher
ser cinco anos mais longeva do que a de homens faz o Brasil se
posicionar bem nessa seção. A avaliação também leva em consideração a
proporção dos dois sexos em comparação com todos os nascimentos, visando
a observar o fenômeno chamado de mulheres desaparecidas, que é ligado a
uma prevalência pela escolha de um filho “homem forte” em muitos
países. O índice desse setor considera ainda a suscetibilidade à
violência, doenças e desnutrição. Nesse índice, a performance da maior
parte dos países é similar.
O País também vai bem quando são
analisados dados específicos sobre realização educacional. Aqui, são
levadas em consideração as taxas de alfabetização e a presença na
educação primária, secundária e terciária. O estudo aponta uma paridade
completa de gênero nesse quesito no Brasil, condição compartilhada por
35 países, entre eles a Austrália, o Canadá, o Chile e os Estados
Unidos.
O desempenho brasileiro vai na contramão do
desenvolvimento quando são observados índices como o de participação
econômica e oportunidades. É levado em conta aqui a porcentagem de
participação na força de trabalho, a equidade de salários para funções
similares e a renda média. O Brasil ocupa a posição 89 da lista, que é
encabeçada por Benin, Islândia e Laos. No fim dessa lista estão países
como Yemên, Síria e Iraque.
“A lacuna econômica, que permanece
larga, foi estreitada ao longo do ano passado. A baixa taxa de
participação feminina como força de trabalho combinada a persistentes
diferenças nos salários pesa nesse subíndice para o País”, cita o
documento.
A participação política entre os gêneros também leva o
Brasil a uma posição desconfortável. O subíndice mensura a quantidade
de mulheres eleitas para o legislativo, as mulheres em cargos de
ministro e a quantidade de anos que o país foi comandado por uma chefe
de Estado mulher. O País é o 104º, no ranking liderado pela Islândia,
Noruega e Nicarágua.
O estudo lembra que apenas duas das 22
vagas de ministro são ocupadas por mulheres no Brasil, o que coloca o
ministério do presidente Bolsonaro como um dos mais masculinos do mundo.
O mesmo padrão é notado em meio aos 18% de ocupação feminina no Congresso Nacional.
“Para
chegar à paridade na próxima década, em vez dos próximos dois séculos,
precisaremos mobilizar recursos, centrar a atenção da liderança e
comprometermo-nos com metas nos setores público e privado. Continuar a
agir da mesma forma de sempre não eliminará a desigualdade entre homens e
mulheres – precisamos agir para alcançar o ciclo virtuoso que a
paridade cria nas economias e nas sociedades”, disse em nota Saadia
Zahidi, chefe do Centro de Nova Economia e Sociedade e membro do
Conselho de Administração do Fórum Econômico Mundial.
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