Nunca como na CoP 25, que terminou domingo em Madri,
temas de economia se aproximaram tanto da agenda climática. Esta conexão
ocorreu nas negociações, com a tentativa de se fechar as regras de um
mercado global de carbono, mas transbordou nos eventos paralelos, mais
efervescentes do que as reuniões de negociadores a portas fechadas. A
área de influência ambiental das conferências de clima atingiu os
setores de finanças, comércio e negócios globais. As CoPs não são mais
algo restrito a “abraçadores de árvores”, como se dizia, com desprezo,
no passado. São tema de ministros de finanças.
A CoP de Madri iniciou com o anúncio de que o economista Mark Carney,
presidente do Banco da Inglaterra, será o novo enviado especial da ONU
para ação climática. O canadense sairá do banco em 31 de janeiro e tem
por tarefa mobilizar finanças privadas a ajudarem com o compromisso
global de se limitar o aumento da temperatura em 1.5°C, como está no
Acordo de Paris.
O vice-presidente da Comissão Europeia, o holandês Frans Timmermans,
deixou claro em sua primeira fala na CoP 25, que a União Europeia não
hesitará em adotar taxas de fronteira de carbono para proteger sua
indústria dos concorrentes externos.
Dias depois, quando a Europa anunciou a adoção da meta de
descarbonizar a economia em 2050, tuitou que “agora olhamos para o
aumento de ambição global na CoP 26, em 2020”. Na rota para tentar
salvar o clima, a Europa precisa se comprometer com metas mais
ambiciosas – de 50%, 55% ou até 65%, como querem ambientalistas – para
chegar em 2050 com sua economia zerada em carbono.
No início da segunda semana da conferência que se estendeu por 14
dias, pela primeira vez houve um encontro de ministros das finanças em
CoPs. Eles representam a coalizão de ministros de finanças para ação
climática, um grupo que reúne 51 países que respondem por 30% do PIB
global. Entre eles estão os ministros do Chile, da Argentina e da
Colômbia, da Alemanha, França e do Reino Unido.
“Temos que apoiar nossos governos a implementar o Acordo de Paris e
atualizar as NDC (a sigla para meta climática nacional) no ano que vem”,
resumiu Kimmo Tiilikainen, ministro da Finlândia.
“Finanças estão no coração das nossas economias e devem estar no
centro dos esforços para transformá-las”, disse Patricia Espinosa,
secretária-geral da Convenção do Clima. “São o sangue vital da produção e
consumo no mundo e têm que se transformar na semente da nova economia
global”, seguiu.
Os ministros das finanças anunciaram o Plano de Ação de Santiago, que
busca planejar estratégias de longo prazo para países que querem
descarbonizar suas economias em 2050. Um dos pontos é analisar com mais
profundidade como dar preço ao carbono.
“A mudança do clima afetará tudo com que ministros das finanças se
preocupam: crescimento econômico, produtividade, estabilidade
financeira, saúde fiscal, equidade social”, disse Leo Martinez-Diaz,
diretor do centro de finanças do World Resources Institute.
“Como atores-chave na formulação de políticas nacionais, os
ministérios das finanças devem desempenhar papel central nas NDCs e
ajudar seus países a criar resiliência contra os impactos da mudança do
clima”, continuou.
“A transição para a economia de zero carbono é inevitável”, disse
Nigel Topping, da coalizão We Mean Business, que trabalha com empresas e
executivos mais na vanguarda em ações para combater a mudança do clima.
“As economias que não estiverem nesta rota em 2030 não serão atraentes
para investimentos”, disse.
“Qualquer coisa que fizermos terá que respeitar a integridade
ambiental, qualquer coisa que fizermos terá que nos ajudar a implementar
planos mais ambiciosos para o futuro, qualquer coisa que fizermos terá
que mostrar para o mundo exterior que CoP quer dizer negócios”, disse o
vice-presidente da CE Timmermans.
Valor Econômico – 18/12/2019
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