Um novo episódio da já duradoura briga entre o Google
e seus funcionários ativistas apareceu hoje na internet: segundo o
Techcrunch, a empresa de Mountain View demitiu mais uma funcionária
envolvida com o ativismo trabalhista que permeia a empresa. Kathryn
Spiers atuava na equipe de programação e segurança do Google, escrevendo
códigos do Chrome para que funcionários recebessem, pelo navegador,
notificações referentes a prazos e compromissos de agenda.
De acordo com a própria Spiers, o Google determinou a sua demissão
porque ela escreveu um código de notificação que enviava pequenos
lembretes de direitos trabalhistas aos funcionários da empresa. Ela
confirma que desenvolveu o material, incentivada pelo conhecimento de
que o Google estaria firmando parceria com uma empresa de contra-ataque a
plataformas sindicais do estado da Califórnia, além de estar agindo com
demissões retaliatórias contra funcionários envolvidos em ativismo
interno.
Uma das notificações dizia “‘Googlers’ (sic) têm o direito de
participar de atividades e reuniões protegidas”. Trocando em miúdos: uma
lei estadual da Califórnia permite que funcionários se organizem em
grupos de ativismo trabalhista e mantenham reuniões protegidas — algo
que o Google vem atacando por meio de demissões nos últimos meses.
“Ao longo de meu período no Google, eu vi as pessoas irem de uma
completa confiança à empresa — sempre lhe dando o benefício da dúvida — à
empresa usando qualquer desculpa para atacar funcionários”, disse
Spiers ao Techcrunch. “A empresa perdeu esse sentimento dos
trabalhadores, e tomou repetidas ações que reduziram a sua confiança e,
como eu disse em meu blog, ‘um Google menos transparente é um Google
menos confiável’”.
Spiers refere-se a um post que ela publicou no Medium, onde também
alega que, em retaliação à sua ferramenta de notificação, o Google a
suspendeu sem aviso prévio, no mesmo dia em que demitiu outros quatro
funcionários por suposto ativismo (o Canaltech noticiou o caso, que
ficou conhecido como “Os Quatro do Dia de Ação de Graças”).
Mais além, a agora ex-funcionária alega que o Google a interrogou em
três ocasiões, questionando-a sobre organizações ativistas e se ela
tinha a intenção de “causar disrupção” no ambiente de trabalho.
“Esses interrogatórios foram extremamente agressivos e ilegais”,
Spiers escreveu no Medium. “Eles não permitiram consultar-me com
ninguém, incluindo um advogado, e me pressionaram sem descanso a
incriminar a mim mesma e a colegas com quem conversei sobre exercer os
meus direitos no trabalho”.
O Google não respondeu diretamente às acusações de Spiers,
limitando-se a dizer que demitiram, no último dia 13, “uma funcionária”
por “ter abusado de acesso privilegiado para modificar uma ferramenta
interna de segurança”, segundo porta-voz da empresa falou ao TechCrunch.
A pessoa ainda disse que isso “se tratava de uma violação séria”.
Spiers, porém, não aceitou a justificativa. Segundo ela própria
publicou no Medium, funcionários costumeiramente alteravam códigos de
algumas ferramentas no intuito de tornar suas funções mais
simplificadas, além de usá-las para compartilhar hobbies e interesses.
“A empresa nunca reagiu agressivamente em resposta a notificações como
esta no passado. Isso sempre foi celebrado como parte da cultura
[empresarial]”.
Spiers agora está acionando
advogados para entrar com um processo contra o Google, acusando a
empresa de tratamento injusto. Na ação ingressada dentro do órgão de
proteção trabalhista dos EUA (National Labor Relations Board), os
advogados da profissional argumentaram que “[a demissão de Spiers] foi
feita para de tentar impedir que ela e outros empregados assegurassem
seus direitos de se engajar em atividades trabalhistas protegidas”.
Em duas semanas, essa é a segunda ação trabalhista enfrentada pelo
Google, sob acusações similares de retaliação ao ativismo trabalhista.
Os chamados “Os Quatro do Dia de Ação de Graças” também abriram ação
conjunta contra a empresa por uma série de alegações: além das questões
de retaliação trabalhista, eles também questionam a forma com que a
empresa trata funcionários temporários, contratados e terceirizados,
sinalizando uma preferência da companhia dependendo do tipo de
contratação. Outro tópico mencionado na ação foi o envolvimento do
Google com o departamento de controle alfandegário e de imigração do
governo dos Estados Unidos.
No ano passado, uma passeata pelo campus
em protesto contra episódios de assédio foi organizada e executada por
funcionários do Google. O movimento atacou a forma como a empresa
abordou o caso de Andy Rubin,
criador do sistema operacional Android, que teria forçado uma
secretária a lhe fazer sexo oral em seu quarto de hotel durante uma
viagem de trabalho. Rubin foi “convidado a se retirar” da empresa, mas
levou para casa um pacote de rescisão contratual de US$ 90 milhões.
A medida foi vista por muitos como uma espécie de "recompensa" à má
conduta de Rubin, que saiu do Google para fundar a Elemental.
Poucos meses depois, Claire Stapleton e Meredith Whitaker, duas das
principais figuras de organização da referida passeata, disseram estar
sofrendo retaliações da gestão do Google, por meio de transferências
inexplicadas de departamento. Além disso, a companhia teria ordenando
que colegas de área as ignorassem. Elas pediram demissão por conta própria, mas alegam tê-lo feito somente porque os ataques sofridos tornaram o ambiente de trabalho insustentável.
Vale citar: a organização em células de ativismo trabalhista é uma atividade protegida por lei federal nos Estados Unidos.
Fonte: Canaltech
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