Extração de madeira, incêndios
florestais e secas destroem cada vez mais o habitat deste icônico marsupial,
que enfrenta risco de extinção. Muitos animais morrem ou ficam feridos em
queimadas.
Organizações temem que 350 coalas
raros tenham morrido num incêndio em Nova Gales do Sul, na semana passada
Ver os animais sofrendo após um
incêndio é uma das partes mais difíceis do trabalho de Cheyne Flanagan no
hospital para coalas de Port Macquarie, na costa sudeste da Austrália.
"O choro de um coala queimado é
um som tão triste", contou Flanagan, diretora clínica do hospital, à DW,
acrescentando que o calor radiante após um incêndio pode ser o mais prejudicial
para essa espécie única.
"O pobre animal fica
virtualmente cozido. É como estar num micro-ondas, derretendo seu pelo",
explicou Flanagan. E aqueles que saem vivos das chamas precisam suportar o
sofrimento durante todo o processo de recuperação. "As queimaduras são
realmente muito dolorosas", disse.
De acordo com um relatório do Climate
Council, uma ONG sediada em Melbourne e especializada em pesquisa climática, a
temporada de incêndios florestais começou mais cedo nos últimos anos e queimou
áreas que não esperadas.
Em setembro deste ano, os estados de
Nova Gales do Sul e Queensland, no leste australiano, sofreram os piores
incêndios da história. Teme-se que 350 coalas raros tenham morrido num incêndio
que atingiu uma área não muito longe do hospital de Port Macquarie, a cerca de
400 quilômetros ao norte de Sydney, na semana passada.
Na semana passada, nevoeiro de fumaça
de incêndios florestais a mais de 400 quilômetros de distância encobriu Sydney
Especialistas apontaram o
desmatamento para a agricultura em larga escala como uma das causas dos
recentes incêndios florestais na Austrália. As árvores derrubadas liberam
carbono na atmosfera, que alimenta o aquecimento, que, por sua vez, aumenta o
risco do fogo.
"O calor severo das mudanças
climáticas causa mais e piores incêndios", disse Stuart Blanch, diretor de
políticas de conservação de florestas e bosques da Austrália na ONG ambiental
World Wide Fund for Nature (WWF), em Sydney.
Blanch estima que o coala será
"funcionalmente extinto" nos próximos 50 anos. Isso significa que não
haveria mais populações saudáveis e geneticamente diversas suficientes na
natureza. Não apenas devido ao fogo, mas, sobretudo, devido à perda do habitat
natural.
Segundo a WWF, cerca de 395 mil
hectares de vegetação nativa foram devastados no estado de Queensland entre
2015 e 2016, o que causou a morte de cerca de 45 milhões de animais, incluindo
coalas, pássaros e répteis.
"A Austrália é o único país
desenvolvido que faz parte da lista global de focos graves de desmatamento da
WWF", disse Blanch à DW. Ele acrescentou que, enquanto Queensland continua
derrubar florestas "num ritmo alarmante", o governo de Nova Gales do
Sul flexibilizou as leis sobre a derrubada de árvores em agosto deste ano.
"Todos os dias nos últimos dois
anos, mais de 3 mil hectares têm sido devastados no último habitat remanescente
de coalas em Nova Gales do Sul", acrescentou Blanch.
Os marsupiais feridos e queimados em
incêndios são frequentemente levados ao hospital de coalas de Port Macquarie
Uma cura silenciosa para os coalas
Embora não possam salvar sozinhos as
espécies que sofrem ferimentos ou queimaduras, Flanagan e sua equipe encontraram
em 2013 um método que parece tratar com sucesso queimaduras em coalas se os
animais forem resgatados a tempo.
"Foi uma descoberta casual
depois de um incêndio que me ensinou que nutrição e tranquilidade são
essenciais no processo de cicatrização após um incêndio", contou Flanagan.
A especialista e um grupo de
voluntários levaram oito coalas com queimaduras relativamente leves ao hospital
de Port Macquarie. "Eles estavam enlouquecendo porque estavam com muito
medo", recordou.
Ela colocou os coalas em recintos com
muitas folhas para comer, água, sombra e silêncio. Embora o termo coala
signifique "sem beber" em algumas línguas aborígenes, eles bebem
quando estão doentes ou depois de um incêndio.
"Foi tão surpreendente que,
sem medicação, e apenas com alimentos de boa qualidade e um ambiente calmo,
eles começaram a se curar", recordou Flanagan.
Em poucas semanas, as patas e as
unhas queimadas dos coalas, que são de vital importância para escalar e viver
nas árvores, começaram a se curar. Os animais também pareciam ter poucas
infecções secundárias devido aos ferimentos.
Atualmente, Flanagan treina
voluntários de todo o mundo sobre cuidados com os coalas. O interesse e o apoio
de países como Alemanha, Estados Unidos e Suíça são vitais, pois podem levar a doações
essenciais para ajudar na preservação dos animais selvagens.
Mas, segundo Flanagan, a maior ajuda
de todas seria proteger o habitat natural dessa espécie icônica da Austrália.
"As florestas são tão cruciais. Precisamos parar de derrubar as árvores."
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