sexta-feira, 27 de julho de 2018

Pesquisa mostra como pensam os eleitores de Bolsonaro

Imagem: Esther Solano, socióloga da Unifesp (Carta Educação)“Para combater um fenômeno como Bolsonaro, a primeira coisa que você tem que fazer é entender o que ele significa para as pessoas”. Foi com esse objetivo que, durante o ano de 2017, a socióloga Esther Solano, da Universidade Federal de São Paulo, entrevistou 25 simpatizantes de Jair Bolsonaro.As conversas foram longas – entre três e quatro horas cada -, e os interlocutores, variados: eram jovens e pessoas mais velhas, ricos e pobres. Com as entrevistas, Solano buscou compreender qual era o denominador comum, o que faz com que pessoas com perfis tão diferentes fossem atraídos pelo discurso populista e antidemocrático de Bolsonaro.O resultado das entrevistas foi complilado na pesquisa “Crise da Democracia e extremismos de direita”. Confira, a seguir, alguns dos principais pontos: 1 – Segurança Pública e direitos humanos para humanos direitosDe acordo com Esther Solano, apesar de o Brasil ser um dos países que mais encarcera no mundo, as pessoas continuam tendo uma sensação de impunidade e insegurança.Você pode ser morto a qualquer momento! Este país é horrível. Você tem uma filha, sai à noite e ela pode ser estuprada. Roubo, assalto, por todo lado. (Entrevistada E.)Uma fala recorrente de seus entrevistados foi a idéia de “vitimismo dos bandidos”, ou seja, de que “o ladrão virou a vítima”.Eu só sei que, hoje em dia, é melhor ser bandido do que cidadão de bem. A gente sai pra rua com medo e eles não. Eles têm mais direitos que a gente e, depois, vêm como esse mimimi, tentando dar pena na televisão. Pena de bandido? Pena da gente, que não pode viver em paz!  (Entrevistada M.). O endurecimento das penas, o fim da “vitimização dos bandidos” e um maior poder aos policiais é visto pelos eleitores de Bolsonaro com uma solução para esse cenário:A lei tem de ser dura. No Brasil, somos muito frouxos. Bandido na cadeia, pronto. Não quer cadeia, vá trabalhar. Fácil. (Entrevistada L.) Leia também:Bolsonaro é o candidato da “desesperança” . 2 – Corrupção: Segundo pesquisa do IBOPE em 2017, a maior preocupação para 67% dos brasileiros foi a corrupção e, entre os eleitores de Jair Bolsonaro, o quadro não é diferente. Há entre eles um sentimento “antipolítico”, e a idéia de que “política é sinônimo de corrupção”. Nesse sentido, eles vêem em Bolsonaro uma alternativa para esse cenário: Bolsonaro é um ícone de ética. O país vive numa crise ética e moral desde Collor. É indignante. Mensalão petista, tucano, Lava Jato. Ele não está envolvido, é ético. (Entrevistado J.) Bolsonaro não é corrupto e é diferente dos partidos que estão aí. PT e PSDB são a mesma coisa. No Brasil só existe o poder e o dinheiro. Bolsonaro é diferente porque não é corrupto (Entrevistado D.) Quando há denúncias de corrupção envolvendo o candidato, acreditam se tratar de uma “perseguição da imprensa”.A imprensa quer acabar com ele porque sabem que é muito forte. Ninguém segura. Vão fazer de tudo para acabar com ele, mas a gente sabe que ele é honesto. (Entrevistada E.). 3 – Meritocracia e Vitimismo. Durante as entrevistas, Esther Solano observou que há, entre os eleitores de Bolsonaro, um posicionamento que é, majoritariamente, a favor da meritocracia e contrário às políticas de redistribuição de renda. Para eles, o self-made man é o modelo de sucesso”, afirma a socióloga, e políticas como o Bolsa Família são negativas, “porque fomentam a preguiça, o clientelismo e fazem do cidadão alguém passivo, que parasita o Estado”. O ideal é que não exista o Bolsa Família. Pode ser importante para algumas pessoas, mas a verdade é que é utilizado como moeda eleitoral, para fazer as pessoas votarem sempre no PT, comprarem o voto delas mesmo. Por que acha que tanta gente no Nordeste vota no PT? ” (Entrevistado C.). O que tem de gente preguiçosa, que só quer mamar das tetas do governo. E a gente sustenta eles, né? Isso com Bolsonaro ia acabar. Quer comer? Trabalhe. Mas, não. É mais fácil dar uma de coitadinho. (Entrevistado A.) A mesma idéia se aplica em relação às cotas raciais: Por que negro tem de ter privilégio? Só porque ele é negro? Ele tem as mesmas oportunidades. É só ele se esforçar e estudar, se ele realmente quiser passar na universidade. (Aluna7, 16 anos)

Nenhum comentário:

Postar um comentário