O meu blog é HOLÍSTICO, ou seja, está aberto a todo tipo de publicação (desde que seja interessante, útil para os leitores). Além disso, trata de divulgar meu trabalho como economista, escritor e compositor. Assim, tem postagens sobre saúde, religião, psicologia, ecologia, astronomia, filosofia, política, sexualidade, economia, música (tanto minhas composições quanto um player que toca músicas de primeira qualidade), comportamento, educação, nutrição, esportes: bom p/ redação Enem
quinta-feira, 19 de julho de 2018
O dólar e a indústria
Apenas em 2018, o câmbio interno viu a moeda norte-americana saltar 15,9%
Celso Ming,
O Estado de S.Paulo
18 Julho 2018 | 21h00
Ano após ano,
dirigentes da área empresarial e economistas protecionistas martelavam
que, além dos juros altos, a principal causa dos males da indústria
brasileira era o “câmbio fora de lugar”.
Queriam dizer com isso que o real excessivamente
valorizado em moeda estrangeira tirava competitividade do setor
produtivo, pois barateava em moeda nacional o importado e encarecia em
dólares o produto de exportação.
Apenas em 2018, o dólar saltou 15,9% em reais e, no entanto,
agora, a indústria se queixa de que a desvalorização do real, que se
pressupunha bem-vinda, encareceu insumos, máquinas e peças importadas,
aumentou a dívida externa em reais e, assim, passou a tirar
competitividade da indústria nacional. Ou seja, na crescente e
inevitável integração global, o castigo é com o câmbio valorizado ou com
ele desvalorizado.
O problema de fundo não está nem no câmbio nem nos juros. O
verdadeiro problema tem nome: baixa competitividade da indústria
brasileira. Atinge a todas, tanto as de capital nacional como as de
capital estrangeiro. O automóvel brasileiro, por exemplo, que é
produzido por empresas de capital estrangeiro, dotadas de tecnologia
avançada, não tem competitividade externa.
Imaginava-se que a deficiência de competitividade pudesse ser
compensada com tarifas aduaneiras altas e com câmbio desvalorizado. É o
baixinho querendo altura com sapatos de salto alto.
Não dá para ignorar o que explica boa parte dessa baixa
competitividade. É a alta carga tributária; a infraestrutura precária,
cara ou inexistente; a baixa qualificação da mão de obra; os juros
altos; e a instabilidade das regras de jogo.
Mas isso não é tudo. Ainda que enfrente alguns dos mesmos
problemas da indústria, o agronegócio dá show. Por que a Embraer é um
sucesso e tantas indústrias, até mesmo as modernas, não são?
Uma resposta para essas perguntas está nos vícios que impregnam a
administração de negócios no Brasil. É a notória tendência às soluções
de curto prazo, o apego ao jogo protecionista, às reservas de mercado,
às subvenções, desonerações, redução de impostos e as pressões
intermináveis para o próximo Refis (perdão de impostos).
Os programas provisórios de favorecimento adotados pelo governo
se perpetuam. A indústria de veículos tem mais de 70 anos no Brasil e
sempre espera novo pacote de bondades. A Zona Franca de Manaus,
instalada em 1957, daria viabilidade a empresas nascentes, mas depois de
60 anos não consegue deixar de engatinhar ou livrar-se do andador.
Políticas de favorecimento produzem enormes distorções. Quando o
governo elege setores ou supostos futuros campeões nacionais para
receber tratamento diferenciado, impõe condições concorrenciais
desiguais que, depois, criam novos pretextos para distribuição de
compensações que, em geral, não passam de novos “puxadinhos”.
Essas são algumas das razões pelas quais a indústria do Brasil
está sempre cambaleante. Qualquer alteração mais relevante dos juros e
do câmbio, como agora, é nova rasteira. As mudanças no setor produtivo
global, que vêm aí com a tecnologia da indústria 4.0, trazem graves
impactos à indústria que não souber andar com as próprias pernas.
CONFIRA
» É o risco Brasil
No gráfico acima, você tem o comportamento do principal indicador
de risco do Brasil percebido lá fora pelos investidores em títulos do
Tesouro do Brasil. Trata-se do Credit Default Swap (CDS), para títulos
de 5 anos. Ele mostra quanto o investidor está pedindo em pontos (cada
100 pontos equivale a 1%) acima dos juros para ficar com o título. Essa
curva mostra que a percepção de risco continua alta, embora já não tão
alta quanto há um mês, quando o nível de incerteza parecia razoavelmente
maior.
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