Por Camila
Alvarenga | 28/07/2018 04:00
Professoras de meditação explicam dinâmica das
aulas e esclarecem benefícios da prática no dia a dia das crianças e
adolescentes que a praticam
A maioria
dos pais é extremamente a favor de as crianças passarem tempo brincando ou
praticando esportes para gastar energias e, por que não, ficarem calminhas no
fim do dia. Mas existe outra forma de tranquilizar os filhos: a meditação
para crianças. Mais do que só isso, a prática busca ajudar os pequenos a lidar
com seus medos, ansiedades e conflitos do dia a dia.
A
meditação para crianças busca oferecer recursos para que elas lidem com medos e
ansiedades do dia a dia
É o que
explica a professora de meditação para crianças budista do Centro de
Meditação Kadampa Mahabodhi, Margaret Balestrini. “A meditação ajuda a tornar a
mente mais estável, mais pacífica e mais calma, de forma geral. Com mais
aceitação das coisas e com menos medo. Crianças sempre têm muito medo, algumas
são agressivas, sentem muita raiva ou são muito competitivas. A gente busca
ajudá-las oferecendo recursos, por meio da meditação, para que elas consigam
lidar com esses sentimentos de forma pacífica”, diz.
Falando
sobre as aulas que ministra, Margaret afirma que elas seguem toda uma tradição
budista, porém existem tipos de práticas diferentes. Em seu caso, a
meditação para crianças propriamente dita não ocupa toda a aula e ela aceita
alunos e alunas de diferentes idades, desde os dois ou três anos até os 12, 13
anos.
“Todos as
aulas têm um tema que a gente vai trabalhar: generosidade, perdão, medo, algo
assim e sempre relacionado ao budismo. Aí, antes de começar, a gente faz uma
apresentação das crianças, pedindo que elas falem os nomes e idade pra se
conhecerem, e explicamos as atividades do dia”, começa a contar Margaret.
Em geral,
as atividades incluem aprender a fazer oferendas para Buda, com mandalas,
alimentos, água ou outros elementos. “Ou nós contamos histórias de Buda. Cada
história aborda um aspecto, pode ser sobre medo, generosidade, compaixão. Todas
elas têm como se fosse uma moral que, no fim, a gente desenvolve com as crianças.
Em geral, quando as aulas são de história, a gente pede que elas desenhem ou
pintem elementos do que foi contado, de coisas que elas entenderam ou
gostaram”, diz a professora.
A parte
de meditar vem por último e pode ser realizada de diferentes formas. Sempre
acompanhada de alguns exercícios de respiração , a meditação ainda
pode incluir a visualização de objetos ou de sentimentos.
“Por
exemplo, com a generosidade como tema, a gente pede que imaginem que do nosso
coração sem raios de luz que chegam em todas as pessoas do mundo. Às vezes a
gente imagina as cores entrando no nosso corpo, ou que Buda está na nossa
frente, ou que os nossos medos estão indo embora, saindo do nosso corpo. Tudo
isso com uma linguagem direcionada para as crianças, para que elas possam
entender e fazer de forma leve, levando aquilo para o dia a dia delas”, explica
Margaret.
Mas, é
claro, não são todas que se adaptam à meditação para crianças. A professora
afirma que, às vezes, uma criança que é agitada ou chega muito agitada não consegue
focar no exercício, “às vezes ela veio de alguma atividade que a deixou
acelerada ou vai fazer algo depois que ela quer muito, isso tudo atrapalha”.
“Às vezes
não dá para passar 15, 20 minutos meditando, quando as crianças estão muito
elétricas, mas a gente tenta sempre meditar pelo menos uns dez minutinhos. E
elas sempre saem com uma 'lição de casa', a gente não chama assim, mas é mais
ou menos no sentido de ser algo que a gente encoraja que elas pratiquem durante
a semana. Mantras, exercícios de respiração...E isso funciona, na aula seguinte
a gente sempre tem o retorno delas, do momento em que usaram, coisas
assim", conta.
Crianças
pequenas também enfrentam algumas dificuldades simplesmente por não entenderem
totalmente a instrução da meditação, ainda que esta seja feita de forma
bastante didática.
“Mas elas
sempre tentam fazer alguma coisa. As crianças sempre se engajam, acho que têm
mais facilidade até do que os adultos, principalmente quando têm que imaginar
alguma coisa. Esse aspecto lúdico fica mais fácil pra elas”, pondera.
Vale
ressaltar que, no caso das aulas de Margaret, não é necessário ser budista ou adepto da religião
para participar ou inscrever os filhos, pois, como ressalta Margaret, “o
budismo, muitas vezes, é mais uma conduta de vida do que uma religião”.
Meditação para crianças com mindfulness
Além da
vertente budista, a meditação para crianças pode ser hinduísta ou mesmo vir
acompanhada de mindfulness
Um outro
“tipo” de meditação para crianças e adolescentes é aquele que inclui mindfulness,
isto é, uma técnica que consiste em focar no momento, em “sentir o presente”,
como explica a professora especializada em mindfulness para jovens Daniela
Degani.
Ela
defende que a meditação e o mindfulness evita que as crianças ocupem suas mentes
“se deprimindo com o passado ou preocupados e ansiosos com o futuro”, ficando
mais relaxados e focados - o que permite até que lidem melhor com situações
extremas e/ou de risco.
Daniela
cita até o caso dos 12 estudantes tailandeses e seu professor que ficaram
presos durante dias numa caverna devido a inundações. Na ocasião, o professor e
técnico do time de futebol dos alunos contava com treinamento budista e ensinou
meditação aos meninos, permitindo que eles mantivessem a calma e pudessem lidar
melhor com a situação.
Pensando
nisso, a professora, que tem um projeto, o MindKids, que leva aulas de
meditação para crianças e mindfulness a estudantes, professores e pais em
escolas - até ensinando como estas práticas podem ser incorporadas na sala de
aula -, lista alguns dos benefícios delas
aos jovens.
“Melhora
a atenção e a concentração, auxiliando em várias tarefas do dia a dia. Melhora
a compaixão, porque quem pratica mindfulness também tende a ajudar mais
o outro, além de exercitar uma compreensão do que se passa com o outro e o que
acontece ao seu redor. E, claro, a meditação para crianças e
adolescentes dá mais calma e equilíbrio emocional ao jovem, diminuindo a
impulsividade, reduzindo o estresse e ajudando-o a lidar com ansiedades,
desconfortos e conflitos que ele possa enfrentar com outras pessoas, seja no
ambiente escolar ou familiar”, arguementa Daniela.
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