Países desenvolvidos como Coreia do Sul estão reduzindo limites de horas semanais trabalhadas para 'melhorar qualidade de vida da população'; mas a cultura de horas longas de trabalho persiste em muitos países.
1 mai 2018
Em março, a Assembleia Nacional da Coreia do Sul aprovou uma lei que
reduzirá a carga de trabalho de sua população: o limite máximo de horas
trabalhadas por semana passará de 68 para 52.
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), a Coreia do Sul é o país desenvolvido com o maior número de
horas trabalhadas.
A nova regra passará a ser aplicada em julho de 2018, mas iniciará com empresas grandes antes de chegar a negócios menores.
Apesar da contrariedade de alguns empresários, o governo do país
acredita que a lei é necessária para melhorar a qualidade de vida, criar
mais empregos e impulsionar a produtividade.
Exceção à regra
O governo sul-coreano também acredita que a medida pode ajudar a
aumentar a taxa de natalidade, que caiu substancialmente nas últimas
décadas.
No volume de horas trabalhadas por ano, a Coreia do Sul lidera entre os
países desenvolvidos: uma média anual de 2.069, segundo dados de 2016
compilados pela OCDE.
A análise se debruçou sobre dados de 38 países e mostrou que apenas o
México (2.225 horas no ano) e Costa Rica (2.212) trabalham mais.
O levantamento da organização não inclui o país. Mas, segundo o
escritório de St. Louis do Federal Reserve, o banco central americano,
em 2014, a média anual de horas trabalhadas pelos brasileiros foi de
1.771 horas. Esse dado colocaria o Brasil em 16º na lista da OCDE, logo
atrás dos Estados Unidos e à frente de países como Japão, Reino Unido e
Alemanha, quarta economia do mundo e último da lista.
Volume de horas trabalhadas por ano em países da OCDE
|
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---|---|---|
Posição
|
País
|
Média individual de horas trabalhadas por ano
|
1
|
México
|
2.225
|
2
|
Costa Rica
|
2.212
|
3
|
Coreia do Sul
|
2.069
|
4
|
Grécia
|
2.035
|
5
|
Rússia
|
1.974
|
5
|
Chile
|
1.974
|
14
|
Turquia
|
1.832
|
16
|
Estados Unidos
|
1.783
|
22
|
Japão
|
1.713
|
26
|
Reino Unido
|
1.676
|
38
|
Alemanha
|
1.363
|
Fonte: OCDE Employment Outlook 2017
|
A iniciativa da Coreia do Sul parece seguir na contramão do que ocorre
em outros países asiáticos. Muitos não têm limites para horas
trabalhadas por semana, inclusive o Japão, a terceira maior economia do
mundo.
O Japão tem um problema com as mortes por trabalho em excesso - algo
expresso não só pelas estatísticas, como também por uma palavra em
japonês que dá nome justamente a esse tipo de problema: karoshi.
O significado da palavra remete às mortes de empregados ligadas ao
estresse (como derrames e ataques cardíacos) ou a suicídios relacionados
à pressão sentida no trabalho.
A média anual de 1.713 horas trabalhadas não coloca o Japão no topo da
lista da OCDE. No entanto, para além deste dado, está o fato de que o
país não tem uma legislação que determine um limite para o número de
horas trabalhadas ou de horas extras.
Entre os anos de 2015 e 2016, o governo registrou um recorde de 1.456 casos de karoshi.
Grupos que defendem os direitos dos trabalhadores dizem que, na
realidade, os números são muito maiores - isto por conta, hoje, da
subnotificação.
Países com os maiores limites legais de horas trabalhadas por semana
|
|
---|---|
Tailândia
|
84
|
Ilhas Seychelles
|
74
|
Costa Rica
|
72
|
Nepal
|
68
|
Irã
|
64
|
Malásia
|
62
|
Cingapura
|
61
|
Fonte: OIT
|
Segundo estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT),
trabalhadores de países com renda baixa e média tendem a trabalhar por
mais tempo do que em países mais ricos. Isso graças a uma série de
fatores, como uma maior proporção de trabalhadores autônomos,
instabilidades no trabalho e questões culturais.
A OIT diz que a Ásia é o continente em que mais pessoas fazem as
jornadas mais longas de trabalho. A maioria dos países (32%) não tem um
limite nacional para o volume de horas trabalhadas por semana; outros
29% dos países têm valores considerados altos (60 horas semanais ou
mais). E somente 4% dos países seguem a recomendação da OIT de limitar o
valor em 48 horas semanais ou menos.
Nas Américas e no Caribe, 34% das nações não têm um limite legal -
entre elas, está os Estados Unidos. No Brasil, a Constituição determina o
limite de 44 horas semanais.
Mas é no Oriente Médio que os limites legais têm a maior abertura para
longas horas: oito entre dez países permitem que elas passem de 60 horas
semanais.
Na Europa, por outro lado, todos os países têm limites estabelecidos. Apenas na Bélgica e Turquia esse valor passa de 48 horas.
Cidades do batente
Enquanto isso, a África é a região do mundo em que o maior número de
países tem mais de um terço de sua força de trabalho atuando mais de 48
horas semanais. Essa é a situação de 60% dos trabalhadores na Tanzânia,
por exemplo.
Algumas pesquisas já identificaram a situação de cidades pelo mundo no que diz respeito às horas trabalhadas.
Em 2016, o banco suíço UBS publicou um estudo sobre a situação de 71
cidades. Hong Kong apareceu no topo, com 50,1 horas trabalhadas por
semana, na frente de Mumbai (43,7); Nova Déli (42,6) e Bangcoc (42,1).
Duas cidades brasileiras foram incluídas: Rio de Janeiro (33,5) e São
Paulo (34,9).
Os mexicanos, além de terem a maior soma de horas trabalhadas, também
têm um tamanho tímido de férias remuneradas: um mínimo de 10 dias, como
na Nigéria, Japão em China. Um valor bem distante do Brasil, que tem um
mínimo de 20 a 23 dias úteis.
Mas poderia ser pior: na Índia, não há limites legais para o volume de horas trabalhadas e nem um mínimo de férias remuneradas.
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