Meio ambiente
Relatório revela que estoque mundial de oxigênio dos
oceanos diminuiu 2% em 50 anos. Impulsionado por mudanças climáticas,
fenômeno enfraquece ecossistema marinho e pode prejudicar comunidades
que dependem da pesca.
Os oceanos estão sofrendo uma perda de oxigênio que ameaça a vida
marinha, a pesca e comunidades costeiras, alertou a União Internacional
para a Conservação da Natureza (IUCN) num relatório divulgado neste
sábado (07/12) na Cúpula do Clima (COP25), em Madri. A desoxigenação
oceânica é impulsionada pelas mudanças climáticas causadas pela ação
humana.
"À medida que os oceanos perdem oxigênio devido ao
aquecimento, o delicado equilíbrio da vida marinha se enfraquece",
afirmou Grethel Aguilar, diretora-geral interina da IUCN. "Para diminuir
a desoxigenação oceânica, os líderes mundiais devem se comprometer a
reduzir imediatamente e de forma substancial as emissões."
A IUCN
identificou 700 regiões marinhas com baixos níveis de oxigênio. Em
1960, eram apenas 45. Nesse mesmo período, o volume de águas
completamente sem oxigênio quadruplicou. O relatório revela também que,
entre 1960 e 2010, o estoque mundial do gás nos oceanos diminui 2%.
Pesquisadores estimam que até 2100 essa perda possa chegar a 3% ou até
4%, se as emissões continuarem aumentando no atual ritmo.
"A
exaustão do oxigênio nos oceanos está ameaçando os ecossistemas marinhos
que já estão sob estresse devido ao aquecimento e acidificação
oceânicos", advertiu um dos autores do estudo, Dan Laffoley, do programa
de Ciência e Conservação Marítima da IUCN.
Segundo o estudo, o
mais abrangente já realizado sobre o tema, a perda de oxigênio oceânico
está estreitamente relacionada ao aquecimento global e à acidificação
dos oceanos. Esses fenômenos são causados pelo aumento do dióxido de
carbono (CO2), por sua vez consequência das emissões de gases do efeito
estufa e da chamada fertilização oceânica.
A
maior parte do excesso do calor retido pela Terra é absorvida pelos
oceanos, o que inibe a difusão do oxigênio da superfície até a
profundez. A fertilização oceânica ocorre devido ao aumento de
nutrientes que chegam através dos rios, promovendo a proliferação das
algas e a consequente maior demanda de oxigênio à medida que elas se
decompõem.
Os oceanos absorvem também cerca de um quarto de todas
as emissões geradas por combustíveis fósseis, mas com o aumento da
demanda global por energia, teme-se que os mares cheguem a um ponto de
saturação. De acordo com a Organização Mundial de Meteorologia, os
oceanos estão 26% mais ácidos do que antes da Revolução Industrial.
O
relatório da IUCN indicou que a desoxigenação ocorre principalmente em
profundidades médias, entre 300 e mil metros, as mais ricas em
biodiversidade. O estudo ressalta que esse fenômeno está alterando o
equilíbrio da vida marinha, favorecendo espécies como micróbios,
águas-vivas e lulas, em detrimento dos peixes. Espécies como o atum,
tubarões e marlim são as que mais sofrem, devido a seu tamanho e
demandas de energia.
Ao afetar os ecossistemas marinhos, o
declínio do oxigênio também terá impactos negativos para populações que
dependem da pesca e comunidades costeiras. Até mesmo uma perda pequena
no nível do oxigênio pode gerar impactos significativos, com implicações
biológicas e biogeoquímicas complexas e de longo alcance. "Os impactos
pode se espalhar e afetar milhões de seres humanos", alerta o relatório.
O
relatório aponta ainda que o Mar Báltico e o Mar Negro são os maiores
ecossistemas marinhos semifechados com os menores níveis de oxigênio. A
desoxigenação também se expandiu drasticamente na maior parte do
Atlântico no último século.
CN/efe/afp/dpa/ots
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