Convênios investem em redes próprias de atendimento e fazem parcerias com hospitais de referência
Novas operadoras têm tentado se desvincular dos modelos tradicionais de planos de saúde. Entre as novidades oferecidas, está a ampliação do serviço de médico de família, responsável por acompanhar o paciente, e a aquisição de clínicas e hospitais próprios.
Criada em junho de 2020 em São Paulo, a startup Alice disponibiliza uma equipe fixa para cada paciente, com médico de família, preparador físico, enfermeiro e nutricionista. O acompanhamento é feito por um aplicativo desenvolvido pela empresa e na clínica da operadora. Hoje, são atendidas cerca de 5.000 pessoas.
O usuário também tem acesso a um hospital de referência
escolhido por ele. Entre os parceiros da startup estão o Hospital Alemão
Oswaldo Cruz e o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Ricardo Queiroz, 30, especialista em inovação, é usuário do plano há um
ano e um mês. Ele realiza checkups trimestrais com seu médico e todo mês
tem consulta com nutricionista e preparador físico.
"Quando procurei a Alice, uma das coisas de que gostei é que não é um plano para tratar doenças. A empresa faz a gestão da minha saúde."
Por meio do aplicativo, o usuário tem acesso à sua equipe de especialistas. Em caso de urgência, há um canal na ferramenta que permite um atendimento mais rápido. Se houver necessidade, o paciente é encaminhado para um pronto-socorro de um dos hospitais parceiros.
Para cirurgias, as unidades hospitalares do convênio são usadas. Quando é preciso fazer exames, há a opção de usar laboratórios parceiros ou a clínica da startup, chamada de Casa Alice.
O espaço, em Pinheiros (zona oeste da capital), é uma casa-conceito, com ambientes ao ar livre e lanches que podem ser retirados após as consultas. Nos consultórios, os médicos não usam jalecos. A sala é composta por sofá e poltrona, onde o paciente e o profissional conversam.
Embora haja a intenção de construir outras unidades da clínica, o administrador Guilherme Azevedo, um dos fundadores da Alice, diz que é cedo para saber quando o serviço vai chegar a regiões periféricas. "A nossa visão a longo prazo é tornar o mundo mais saudável, começando pelo Brasil. Então, temos que criar produtos mais acessíveis. Mas isso leva um tempo."
Desde que começou a atuar, a startup já baixou o preço do plano para pessoas com 30 anos, que custava aproximadamente R$ 900 no modelo mais barato, para R$ 579. A opção mais cara para essa faixa etária sai por volta de R$ 1.400. Para pessoas acima de 60 anos, o preço pode passar de R$ 5.500, de acordo com simulação feita no site.
Todos os planos garantem acesso à Casa Alice e ao serviço digital; o que muda é o hospital de referência.
Com os dados coletados, é feita uma estratificação de risco, na qual são avaliadas abordagens para cuidar da saúde do cliente, explica Ricardo Casalino, diretor médico da startup. A partir disso, o usuário é vinculado a uma equipe composta por médico de família e enfermeiro.
Por meio do aplicativo do plano, o paciente consegue entrar em contato com os especialistas e fazer suas consultas. Ele também tem acesso a atendimento presencial em clínicas e hospitais parceiros.
A administradora de empresas Miriam Mitiê Iamamoto Viel Ferro, 40, está na sua segunda gravidez, e, como é uma gestação de risco, é monitorada pela enfermeira Renata Gama de forma remota.
Miriam contratou o serviço em março e já vê diferença em relação aos planos convencionais. "[O modelo tradicional] é mais impessoal, o acompanhamento não é tão de perto."
Outra operadora que aposta no contato direto com o paciente é a Leve Saúde, focada em pessoas com mais de 45 anos.
O plano atende no estado do Rio de Janeiro, nas cidades de Duque de
Caxias, Niterói, Nova Iguaçu e São Gonçalo, além da capital. Com mais de
um ano de operação, tem cerca de 11 mil associados.
Para aderir ao convênio, o contratante é submetido a uma entrevista.
Depois, fica com uma equipe médica à disposição. Segundo Claudio Borges,
diretor comercial da empresa, cada grupo de especialistas é responsável
por acompanhar 2.000 beneficiários.
Do total de usuários, 65% têm mais de 60 anos, sendo que 300 deles estão com mais 90. O preço médio para a última faixa etária é de R$ 730.
O aposentado Manuel da Silva, 77, já teve outros planos, que custavam cerca de R$ 1.700 mensais --hoje, ele paga R$ 800. Além do preço mais baixo, Silva diz que sente diferença no atendimento. Todo mês, a médica de família entra em contato com ele e, se preciso, o encaminha para a clínica. "Tenho um médico para chamar de meu."
A Leve Saúde também tem investido em uma rede própria. A empresa já
comprou duas unidades hospitalares, uma na Baixada Fluminense e outra na
zona norte, e quatro policlínicas na capital.
Embora o modelo de acompanhamento seja oferecido como um diferencial
pelas novas operadoras, algumas companhias tradicionais têm criado
serviços parecidos.
"Há empresas que já surgem nessa nova realidade, mas isso não é impedimento para que as mais tradicionais adotem esses recursos", afirma Paulo Rebello, diretor-presidente da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).
Esse é o caso da Seguros Unimed, que, junto da Central Nacional Unimed, criou a iniciativa Cuidando de Perto, que envolve uma série de programas de acolhimento.
Um deles é o de Covid, no qual a operadora oferece fisioterapia, apoio psicológico e outras formas de cuidado para quem já teve a doença.
Luís Fernando Rolin Sampaio, diretor-executivo da empresa, diz que houve crescimento de quase 100% do uso do plano nos seis meses após a alta desses pacientes. "Eles saem com sequelas que demandam cuidados.
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