Coluna Checkpoint Berlim
Para quem vem de fora, todos os alemães parecem ser
craques na separação de lixo. Mas a introdução de contêineres para
resíduos orgânicos em Berlim mostrou a importância de campanhas
educativas.
Lembro-me muito bem de quando Curitiba deu início ao programa de
separação e coleta seletiva de lixo. Era o final da década de 1980 e
início dos anos 1990, e uma grande campanha educacional e informativa
foi lançada na cidade. Na minha escola, assistimos a palestras com a
Família Folha, que explicou como separar "o lixo que não é lixo" e a
importância disso.
Deveríamos repassar aos nossos pais o que
aprendemos. Houve também propagandas na televisão e distribuição de
folhetos explicativos. Tudo para que a população se conscientizasse do
novo sistema que estava sendo implantado na cidade.
A campanha
educativa parece ter surtido efeito. Hoje, a separação do lixo é algo
que faz parte do cotidiano de grande parte dos moradores de Curitiba.
Na
Alemanha, a separação do lixo começou em 1991. Basicamente, há quatro
tipos de lixo aqui: residual (comum), papel, embalagens e vidro. O país
também tem um sistema de garrafas de plástico e vidro retornáveis. Um
valor adicional que varia entre 0,08 e 0,25 centavos de euro é cobrado
quando se compram bebidas. Ao devolver as garrafas em supermercados, o
consumidor recebe esse valor de volta.
À primeira visita, o
sistema de separação de lixo parece funcionar muito bem. No entanto,
quando um novo contêiner de lixo surge repentinamente no prédio, os
limites desse conhecimento parecem vir à tona. Desde 1º de abril deste
ano, a separação do lixo orgânico é obrigatória em Berlim. A cidade
espera recolher cerca de 100 mil toneladas desse resíduo por ano.
A
mudança foi amplamente anunciada nos meios de comunicação, porém, no
meu prédio, por exemplo, os moradores não receberam materiais
informativos sobre o que é lixo orgânico e o que pode ou não ir para o
contêiner. Não havia o contêiner de lixo orgânico antes de ser
obrigatório. Ele apareceu no prédio do dia para a noite.
Como
acompanho o noticiário, eu sabia da mudança e fui buscar informações
sobre o que pode ser jogado no contêiner (basicamente restos de qualquer
comida, filtros de café e chá, papel toalha, flores, mas tudo sem
embalagens plásticas). Meus vizinhos, porém, aparentemente não se
informaram sobre a mudança, e o contêiner de lixo orgânico acabou
virando mais um de lixo comum.
Enquanto não houver a iniciativa
do dono do prédio ou de algum morador de buscar folhetos informativos
sobre a separação do lixo, provavelmente a situação continuará assim. Ou
até o lixo parar de ser recolhido, como acontece quando a separação não
está sendo feita corretamente – e nesses casos é cobrada uma multa.
Acredito
que a situação não seja exclusiva ao meu prédio. Cerca de 50 mil novos
contêineres de lixo orgânico foram distribuídos na cidade somente nos
três meses que antecederam a data da obrigatoriedade entrar em vigor. Eu
mesma, se não tivesse acompanhado o noticiário, não saberia o que jogar
no contêiner novo.
Essa situação revela a importância de
conscientizar a população da importância da separação do lixo, mesmo
quando isso parece já estar enraizado no cotidiano. Não adianta ampliar a
possibilidade de reciclagem sem uma campanha educativa, até mesmo entre
alemães e aqueles que já moram há anos na Alemanha.
Sei de
amigos estrangeiros que vêm de cidades onde não há coleta seletiva e
tiveram dificuldades de se adaptar à separação do lixo na Alemanha.
Seria tudo mais fácil se, junto com o contrato de aluguel de um imóvel,
viesse um folheto informativo sobre como funciona a reciclagem no país.
Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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