O governo brasileiro precisa cuidar melhor da grande floresta. Mas responde a altura às críticas de outros países, já que muitas delas sequer procedem
A derrubada da floresta Amazônica não parou de crescer nos
últimos dois anos e tudo indica que só vai aumentar. No primeiro
semestre, perdeu-se uma área de 2.432 quilômetros quadrados, equivalente
a mais do que a soma dos municípios de São Paulo e Salvador, aponta o
levantamento Terra Brasilis, do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe), que monitora a integridade da cobertura vegetal da
região. Só em junho, a destruição da floresta atingiu quase mil
quilômetros quadrados, 88% maior que no mesmo período do ano passado. O
Pará é o estado mais afetado, sendo responsável por 48,6% de tudo que
foi perdido para motosserras e queimadas, precursoras da abertura de
pastos para o gado. Quase toda essa atividade é clandestina e tende a
aumentar com a chegada do período de estiagem, que vai de junho a
novembro.
Além do tempo seco, o fator político dá uma pesada contribuição à
devastação. A posição do governo brasileiro de afrouxar a fiscalização e
não destruir mais os equipamentos dos madeireiros e carvoeiros ilegais
ajudará a aumentar a produção de gases de efeito estufa e impedirá que o
Brasil cumpra as metas estabelecidas no Acordo de Paris, criado para
atenuar o aquecimento global. Pelo documento, assinado em 2015, o Brasil
se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. Por
isso, a atual postura trouxe dissabores ao País no encontro do G20, em
Osaka, na semana passada. A primeira-ministra alemã, Angela Merkel,
afirmou estar preocupada com os rumos da política ambiental brasileira. O
presidente Jair Bolsonaro rebateu a crítica, declarando que o Brasil é
alvo de uma “psicose ambientalista” por parte de países que destruíram
sua natureza de modo agressivo.
Grande compradora de commodities brasileiras, a Alemanha é uma das
mantenedoras do Fundo Amazônia junto com a Noruega. O programa destina
R$ 3,4 bilhões para ações de conservação na Amazônia, incluindo boa
parte do financiamento do Ibama, mas é alvo de críticas. O governo
brasileiro dissolveu o comitê organizador do fundo e quer mudar as
regras de aplicação desses recursos para indenizar proprietários rurais
cujas terras se situem dentro de unidades de conservação. Alemães e
noruegueses são contra essa ideia.
“Esses índices são manipulados. Se você
somar os percentuais que anunciaram até hoje de desmatamento, a
Amazônia seria um deserto” General Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI)
União europeia
Para ter acesso aos recursos, o Brasil deve manter sua taxa de
desmatamento anual abaixo de 8,1 mil quilômetros quadrados. Em 2018, a
depredação foi de 7,5 mil quilômetros e esse limite pode ser
ultrapassado em breve. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles,
afirmou na segunda-feira 1 que “esse assunto está em aberto ainda”. Já o
primeiro-ministro francês, Emmanuel Macron, foi enfático. Seu país não
assinará acordos econômicos com o Brasil caso Bolsonaro deixe o Acordo
de Paris. Entre as cláusulas com a União Europeia está o bloqueio de
produtos provenientes de desmatamento. O que pode prejudicar o
agronegócio é que um embargo desse tipo muitas vezes começa mediante uma
mera suspeita.
O governo tratou de revidar as críticas. Questionado sobre a política
ambiental de Bolsonaro, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), general da reserva Augusto Heleno, afirmou na
quarta-feira 3: “Quem tem de cuidar da Amazônia somos nós. Esses índices
são manipulados. Se você somar os percentuais que anunciaram até hoje
de desmatamento, a Amazônia seria um deserto”. Foi um argumento parcial,
já que do final dos anos 1980 até 2008 o ritmo de destruição anual da
floresta oscilou entre o dobro e o triplo do atual, de acordo com o
próprio Inpe. O que o ministro desconsiderou é que o monitoramento
mensal é preliminar e, quando revisto, costuma apontar um estrago até
maior, já que as medições finais são mais precisas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário