terça-feira, 23 de julho de 2019

Por que a AMAZÔNIA é vital para o mundo?

Por Priscila Jordão, Deutsche Welle





Floresta produz imensas quantidades de água para restante do país — Foto: Arquivo TGFloresta produz imensas quantidades de água para restante do país — Foto: Arquivo TG
Floresta produz imensas quantidades de água para restante do país — Foto: Arquivo TG
decisão do governo brasileiro neste mês de extinguir a Reserva 
Nacional de Cobre e Associados (Renca), abrindo uma área na
Amazônia do tamanho do território da Dinamarca para exploração
mineral, recebeu críticas acirradas não só de ambientalistas, mas
também repercutiu fortemente na mídia internacional antes de ser 
suspensa pela Justiça Federal.
A CNN, por exemplo, criticou a medida e lembrou que o
desmatamento e a mineração estão destruindo a floresta
num ritmo impressionante. Mas, afinal, por que a preservação
da Floresta Amazônica interessa tanto ao mundo? O 
fato é que a Amazônia influencia o equilíbrio ambiental de
todo o planeta e tem papel fundamental na economia do Brasil. 
Entenda por quê.

Regime de chuvas

A área da Floresta Amazônica, ao contrário de ser improdutiva,
produz imensas quantidades de água para o restante do país. 
Os chamados "rios voadores", formados por massas de ar carregadas 
de vapor de água gerados pela evapotranspiração na Amazônia, levam 
umidade da Bacia Amazônica para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul 
do Brasil.
Esses rios voadores também influenciam chuvas na Bolívia, no
Paraguai, na Argentina, no Uruguai e até no extremo sul do Chile.
A umidade vinda da Amazônia e os rios da região alimentam regiões
que geram 70% do PIB da América do Sul.
  
Segundo estudos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 
uma árvore com copa de 10 metros de diâmetro pode bombear para a atmosfera mais de 300 litros de água em forma de vapor por dia – mais 
que o dobro da água usada diariamente por um brasileiro. Uma árvore 
maior, com copa de 20 metros de diâmetro, pode evapotranspirar mais 
de 1.000 litros por dia, bombeando água e levando chuva para irrigar 
lavouras, encher rios e as represas que alimentam hidrelétricas no resto 
do país.
Assim, preservar a Amazônia é essencial para o agronegócio – o mesmo
que devasta a floresta –, para a produção de alimentos e para gerar
energia no Brasil.
O desmatamento prejudica a evapotranspiração e, por consequência, a
rota desses rios, podendo afetar assim o regime de chuvas no restante do
país e diversas atividades econômicas. Como resultado do desmatamento,
até 65% da Amazônia corre o risco de se transformar em savana ao longo
dos próximos 50 anos.
Além disso, o Rio Amazonas é responsável por quase um quinto das águas doces levadas aos oceanos no mundo.

Mudanças climáticas

A Amazônia e as florestas tropicais, que armazenam de 90 bilhões
a 140 bilhões de toneladas métricas de carbono, ajudam a estabilizar 
o clima em todo o mundo. Só a Floresta Amazônica representa 10% 
de toda a biomassa do planeta.
Já as florestas que foram degradadas ou desmatadas são as maiores
fontes de emissões de gases do efeito estufa depois da queima de 
combustíveis fósseis. Isso porque as florestas saudáveis têm uma 
imensa capacidade de reter e armazenar carbono, mas o desmatamento 
para o uso agrícola ou extração de madeira libera gases do efeito estufa 
para a atmosfera e desestabiliza o clima.
Vale lembrar que 2016 foi o terceiro ano consecutivo a ser considerado
mais quente da história. O Acordo de Paris, cujo objetivo é manter o aquecimento da temperatura média do planeta abaixo de 2°C, passa necessariamente pela preservação de florestas.   
Dados da ONU de 2015 mostram o Brasil como um dos dez países
que mais emitem gases do efeito estufa no mundo, com 2,48% das
emissões. Para cumprir suas metas de redução de emissões dentro
do acordo internacional, 
o Brasil se comprometeu a alcançar, na Amazônia brasileira, o
desmatamento ilegal zero até 2030 e a compensação das emissões
de gases de efeito de estufa provenientes da supressão legal da
vegetação até 2030.

Equilíbrio ambiental

Como a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia possui a maior biodiversidade, com uma em cada dez espécies conhecidas. Também
há uma grande quantidade de espécies desconhecidas por cientistas, principalmente nas áreas mais remotas. Assegurar a biodiversidade é importante porque ela garante maior sustentabilidade natural para todas 
as formas de vida, e ecossistemas saudáveis e diversos podem se 
recuperar melhor de desastres, como queimadas.
Preservar a biodiversidade amazônica, portanto, quer dizer contribuir
para estabilizar outros ecossistemas na região. O recife dos corais da Amazônia, por exemplo, um corredor de biodiversidade entre a foz do Amazonas e o Caribe, é um refúgio para corais ameaçados pelo 
aquecimento global por estar em uma região mais profunda.
Segundo o biólogo Carlos Eduardo Leite Ferreira, da Universidade
Federal Fluminense, esse recife poderá ajudar a repovoar áreas
degradadas dos oceanos no futuro, mas petroleiras Total e BP têm
planos de explorar petróleo perto da região dos corais da Amazônia,
ameaçando assim esse ecossistema.
A biodiversidade também tem sua função na agricultura: áreas
agrícolas com florestas preservadas em seu entorno têm maior
riqueza de polinizadores, dos quais depende a produção de 
alimentos, como café, milho e soja.

Produtos da floresta

As espécies da Amazônia também são importantes pelo seu uso
para produzir medicamentos, alimentos e outros produtos. Mais de 
10 mil espécies de plantas da área possuem princípios ativos para 
uso medicinal, cosmético e controle biológico de pragas.  
Neste ano, uma pesquisa da Faculdade de Medicina do ABC, em São
Paulo, mostrou que a planta unha-de-gato, da região Amazônica, além
de ser utilizada para tratar artrite e osteoartrose, reduz a fadiga e 
melhora a qualidade de vida de pacientes em estágio avançado de 
câncer.
Produtos da floresta são comercializados em todo o Brasil, como açaí, 
guaraná, frutas tropicais, palmito, fitoterápicos, fitocosméticos, couro
vegetal, artesanato de capim dourado e artesanato indígena. Produtos
não-madeireiros também têm grande valor de exportação: castanha do
Brasil, jarina (o marfim vegetal), rutila e jaborandi (princípios ativos),
pau-rosa (essência de perfume), resinas e óleos.

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