domingo, 28 de julho de 2019

Obsessão por felicidade pode deixar você extremamente infeliz



E pior: ainda nos faz interpretar qualquer sensação ruim como fracasso.

felicidade é algo tão subjetivo quanto científico. 
Biologicamente, poderíamos falar em serotonina e 
ocitocina, ou outros nomes difíceis de neurotransmissores 
(mensageiros químicos) que estão relacionados com a 
existência dessa sensação. Mas psicologicamente a 
história é outra. Como a maioria dos sentimentos, 
substantivos abstratos, felicidade representa algo 
diferente para cada ser humano. De acordo com a 
“psicologia positiva”, não precisamos esperar que a 
felicidade dê as caras: ela está ao alcance das 
nossas mãos.
Mas até que ela virou uma ditadura não tão feliz assim. 
Essa obrigação de ser feliz não é novidade, mas ninguém 
realmente sabe quem primeiro cunhou essa regra – e como 
ela se tornou o objetivo de vida de quase todo mundo. O que 
se sabe é que ela vem machucando: “a depressão é o mal 
de uma sociedade que decidiu ser feliz a todo preço”, diz o 
escritor francês Pascal Bruckner no livro A Euforia Perpétua
E ele estava certo: um novo estudo da Universidade de 
Melbourne, Austrália, finalmente concluiu que a infelicidade 
de muita gente é causada pela tentativa incessante de ser feliz.
A pesquisa, publicada na revista Emotion, descobriu que a 
“superenfatização” da felicidade, como uma pressão social, 
pode tornar as pessoas mais suscetíveis ao fracasso e muito 
mais frágeis a emoções negativas. A “regra” de procurar a 
todo custo emoções positivas e evitar ao máximo as 
negativas está aumentando significativamente o estresse 
a longo prazo.
Para chegar a essas conclusões, os cientistas fizeram um 
teste: separaram três grupos de estudantes de psicologia 
australianos, que precisavam realizar anagramas. O 
primeiro grupo, A, precisava resolver 35 anagramas em 
3 minutos. Os participantes não sabiam, mas, dentre os 
35 anagramas, havia 15 que eram impossíveis de 
solucionar – ou seja, eles iriam fracassar. Os estudantes 
foram colocados em uma sala decorada com dezenas de 
cartazes motivacionais, notas coloridas, livros de auto-ajuda. 
O instrutor da sala falava alegremente e fez até discurso 
sobre a importância da felicidade antes da tarefa começar.   
Enquanto isso, o grupo B precisava completar o mesmo 
teste, mas em uma sala absolutamente neutra. O instrutor 
também era neutro e não fez discursinho nenhum. Já o 
grupo C, diferente dos outros dois, precisava resolver 
apenas anagramas possíveis. A sala e o instrutor desses 
últimos eram como os do grupo A, felizões.
Após os grupos terminarem suas tarefas, os pesquisadores 
pediram que todos os alunos fizessem um exercício de 
respiração (quase uma meditação), durante o qual eles 
eram periodicamente questionados sobre seus pensamentos. 
Dentre todos, os estudantes do grupo A eram os mais 
arrasados com o fracasso. Os do grupo B, mesmo também 
tendo falhado, não apresentavam tanta tristeza assim. E, no 
grupo C, o único com possibilidade de sucesso na tarefa, 
também não se via desânimo.
“Quando as pessoas colocam uma grande pressão sobre si 
mesmas para se sentirem felizes, ou pensam que os outros 
ao seu redor fazem isso, elas estão mais propensas a ver 
suas emoções e experiências negativas como sinais de 
fracasso”, diz Brock Bastian, co-autor do estudo. “Isso só 
vai gerar mais infelicidade”.
Mas os pesquisadores não pararam por aí. Em um 
segundo experimento, eles perguntaram a 200 adultos 
americanos quantas vezes eles sentiram e pensaram em 
emoções negativas, bem como suas visões sobre como 
a sociedade percebe essas emoções. Resultado: os 
voluntários que disseram sentir uma pressão popular 
pela felicidade enfatizaram bem mais as consequências 
negativas. Eles alegaram ficarem estressados quando 
sentem emoções ruins, além de sentirem uma redução 
no seu bem-estar e na sua satisfação com a vida.
“O perigo de achar que devemos evitar experiências 
negativas é que respondemos mal a elas quando surgem”, 
disse o co-autor. E, querendo ou não, elas sempre surgem. 
No fim, o que a pesquisa constatou é que a busca incessante 
pela felicidade e a não aceitação da tristeza/fracasso só 
traz mais infelicidade. Saber lidar com as bads inevitáveis 
da vida pode ser o segredo para o nirvana que tanto se 
busca.

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