Experimento de 1974 mostrou que, quando se trata de reconhecer sentimentos, nosso cérebro às vezes se confunde
7 jul 2019
Todo mundo que já se apaixonou alguma vez na vida é capaz de
identificar alguma dessas sensações: os batimentos cardíacos aceleram, a
respiração fica ofegante e as palmas das mãos podem ficar mais úmidas
quando alguém arrebata nosso coração.
Se a presença de alguém lhe provoca tudo isso, pode ser que sinta uma enorme atração por essa pessoa.
Pode também ser mais que atração. Pode ser amor. Ou até medo, ansiedade ou estresse.
Mas como é possível confundir emoções tão diferentes entre si?
O psicólogo Stanley Schachter descobriu na década de 1960 que as
emoções não são tão espontâneas tampouco tão claras como acreditamos ou
esperamos que sejam.
Segundo Schachte, dois fatores são determinantes: um estado de
excitação psicológica e, em seguida, o rótulo que damos a esse
sentimento específico.
O rótulo depende do contexto e da pessoa. Às vezes, nosso sistema falha
e acontece o que o psicólogo chama de "atribuição errônea da excitação"
(arousal), quando um rótulo emocional deriva-se da fonte errada.
Assim, sentimentos como o de estar apaixonado, na verdade, podem ter uma origem bem diferente.
A ponte do amor
Em 1974, os psicólogos canadenses Donald Dutton e Arthur Aron iniciaram
um experimento que demonstrou como a atribuição errônea da excitação
pode afetar nossos sentimentos relacionados à atração.
Homens que visitavam um parque em Vancouver foram entrevistados por uma mulher belíssima.
Metade dos entrevistados estava atravessando uma ponte suspensa quando a
mulher pediu que participassem da pesquisa. A outra metade passava por
uma ponte baixa e sólida.
Foi pedido a todos os participantes que olhassem uma foto, por exemplo,
de uma mulher rindo enquanto cobria o rosto. Em seguida, eles tinham
que imaginar uma história por trás da foto.
A desculpa era explorar os efeitos de um belo cenário, como o de um parque, sobre a criatividade.
No final da entrevista, a mulher dava o número de telefone aos
participantes e pedia que ligassem se tivessem perguntas sobre a
pesquisa.
Segundo os pesquisadores, a maioria dos que ligaram para a mulher tinha
atravessado a ponte suspensa - mais que o dobro do que passava pela
ponte mais robusta e segura.
As histórias desses homens que telefonaram tinham conteúdo mais romântico e sexual.
Quando o mesmo experimento foi feito com um entrevistador homem, quase ninguém ligou.
A explicação dos especialistas nos anos 1970? Muitos homens que haviam
atravessado a ponte suspensa confundiram os sentimentos - o coração
disparado e a respiração acelerada fizeram com que um possível medo de
cair da ponte fosse confundido com atração.
O estudo Donald Dutton e Arthur Aron ganhou o título de Alguma evidência de maior atração sexual em condições de alta ansiedade. Mas o trabalhou ficou mesmo conhecido como "A ponte do amor".
Por que confundimos sentimentos
Ao longo dos anos, diferentes estudos têm mostrado que o fenômeno da
atribuição errônea da excitação não apenas nos faz confundir sentimentos
como medo, atração e amor. Também entra na lista de rótulos equivocados
uma elevada gama de emoções como nojo, euforia, humor, medo, incômodo e
erotismo.
Existe uma explicação biológica por trás dessa confusão de sentimentos.
Ainda que estar apaixonado e estar com medo pareçam, à primeira vista,
sentimentos quase opostos, ambos provocam mudanças fisiológicas muito
parecidas no nosso corpo.
Ambos ativam o sistema nervoso simpático, encarregado de nos dizer se devemos lutar ou escapar.
Para preparar o corpo para diferentes cenários, o sistema simpático
ativa uma série de mudanças no ritmo cardíaco e pulmonar. Libera
hormônios como adrenalina e noradrenalina que afetam nosso sistema
digestivo, provocando aquele frio na barriga ou borboletas no estômago.
Curiosamente, é o mesmo processo para quando estamos apaixonados ou nos
sentimos atraídos por alguém. Se o contexto não está claro, paixão e
atração podem ser facilmente confundidos.
Do terror ao amor
Esse fenômeno também pode explicar por que os filmes de terror são tão populares quando se está num encontro amoroso.
A excitação compartilhada pode realçar os sentimentos de atração.
No entanto, a atribuição errônea da excitação também explica por que
muitas vezes parecia amor à primeira vista se dissolve em pouco tempo e a
pessoa que nas primeiras semanas te tirava do sério já não mais provoca
arrepios.
Especialistas em reações descobriram que a teoria do psicólogo Stanley
Schachter também pode ajudar a fortalecer um vínculo, uma vez que mostra
que a experiência emocional é maleável.
Assim, da mesma forma que a excitação pode criar uma falsa sensação de
afeição entre duas pessoas que realmente não se amam, quando há amor mas
o casal está desgastado pela monotonia, é possível reviver essa
centelha compartilhando atividades que geram excitação.
Em particular, descobriu-se que os casais que compartilham experiências
novas e desafiadoras tendem a sentir maiores níveis de atração do que
aqueles que não saem da rotina.
Mas cuidado: os psicólogos também advertem que casais que subsistem
apenas com base em experiências fortes, instabilidade ou perigo, são
certamente vítimas da atribuição errônea de excitação e não estão
realmente apaixonados.
Fonte: SITE PORTAL TERRA
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