segunda-feira, 8 de julho de 2019

Desmatamento e aquecimento, combinação mortal para a vida selvagem

Desmatamento e aquecimento, combinação mortal para a vida selvagem
Vista aérea, em 29 de maio de 2019, do Cerrado, que rodeia os campos agrícolas em Formosa do Rio Preto, oeste do estado da Bahia - AFP
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O desmatamento tropical galopante, combinado com a mudança climática, impede que as espécies selvagens se desloquem para climas mais frescos, aumentando seu risco de extinção, alertaram pesquisadores nesta segunda-feira.
Menos de dois quintos das florestas da América Latina, Ásia e África facilitam aos animais e às plantas escapar dos aumentos de temperatura potencialmente intoleráveis, ressaltam os pesquisadores na revista Nature Climate Change.
“O desaparecimento das florestas tropicais entre 2000 e 2012 levou à perda de uma extensão superior ao tamanho da Índia que protegia as espécies dos efeitos da mudança climática”, declarou à AFP Rebecca Senior, professora na universidade de Sheffield.
“Não só a perda de floresta suprime seu habitat, mas torna cada vez mais difícil o deslocamento das espécies”, afirmam.
A ausência de vias que possibilitem aos animais migrarem para habitats mais frescos significa que o aquecimento climático “causará a extinção das espécies vulneráveis no plano nacional e mundial”, acrescentou.
No ritmo atual da mudança climática, os animais e as plantas tropicais, mesmo que consigam se deslocar para zonas atualmente mais frescas, poderiam estar expostos em 2070 a um meio ambiente em média 2,7°C mais quente que durante a segunda metade do século XX, segundo o estudo.
Em uma perspectiva mais favorável, em que a humanidade conseguisse limitar o aquecimento climático global em 2°C em relação ao início da era industrial – perspectiva cada vez mais improvável -, as espécies das regiões tropicais sofreriam um aumento de 0,8°C em 2070.
O Acordo de Paris sobre o clima de 2015 pede às nações manter o aquecimento “bem abaixo” de 2°C.
– Colibris –
O aumento de apenas 1ºC desde a Revolução Industrial já reforçou a frequência e intensidade das ondas de calor, das secas e das tempestades tropicais.
Durante as mudanças climáticas anteriores, as espécies animais e vegetais sempre subiram ou desceram das montanhas, aproximaram-se ou se afastaram dos polos, ou se dirigiram para águas mais frias ou mais quentes.
Mas essas mudanças raramente foram tão rápidas como as atuais e nunca estiveram combinadas com uma fragmentação extrema do habitat.                                                                                                “As espécies tropicais são particularmente sensíveis às mudanças de temperatura”, declara Rebecca Senior. “A maioria não é encontrada em nenhuma outra parte do planeta e representa uma proporção enorme da biodiversidade mundial”, acrescenta.
Muitos estudos mostraram até que ponto o aumento das temperaturas obrigou a fauna e flora a adaptarem seu comportamento, para conservar sua capacidade de se alimentar, se reproduzir ou ambos.
Segundo um estudo recente, alguns colibris tropicais, por exemplo, veem-se obrigados agora a procurar a sombra, enquanto antes sua prioridade era o néctar.  Cerca de 550 espécies – das quais mais de metade já estão ameaçadas de extinção – figuram na lista de vulneráveis à seca e às temperaturas extremas, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza.
Os anfíbios são especialmente vulneráveis. “Vivem em habitats peculiares, não podem ir muito longe e são muito sensíveis ao calor extremo e à seca”, ressalta Rebecca Senior.
Este novo estudo é o primeiro a analisar a interação entre a perda de habitat tropical e a mudança climática em escala mundial durante uma década inteira.

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