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Segundo profissionais, a erotização dos seios faz com que muitas mulheres tenham vergonha de fazer exame de toque que detecta o câncer de mama
Quando falamos do corpo da mulher, ainda existem muitas questões que são um tabu . Há pouco debate, até mesmo entre as próprias mulheres, sobre assuntos ligados à sexualidade feminina, menstruação e até temas relacionados à saúde, como câncer de mama . Pensando nesse contexto, será que o autoexame das mamas também é estigmatizado?
O autoexame das mamas é incentivado em campanhas de conscientização, como o Outubro Rosa, para ajudar na detecção preventiva do câncer. De acordo com Flavia Tarabini, ginecologista e mastologista da clínica Dr. André Braz, é a partir da observação e do toque nos seios que é possível perceber possíveis sinais da doença.
"Em cerca de 90% dos casos em que o câncer é percebido pela própria mulher, o aparecimento de um nódulo (caroço), que é fixo e, geralmente, indolor, é a principal manifestação da doença. Outros sinais são a pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja, alterações no mamilo, pequenos nódulos nas axilas ou no pescoço e a saída de líquido anormal das mamas", explica.
A especialista afirma que a recomendação é que as mulheres comecem a ficar em estado de atenção quando o assunto é a saúde das mamas desde o início da puberdade, mas, para isso, também é necessário incentivar o conhecimento sobre o próprio corpo. "Saber o que é normal em você e quais as alterações consideradas suspeitas de câncer de mama é bastante fundamental para a detecção precoce dessa doença."
Se o autoexame das mamas é tão importante, por que ainda existe tabu?
Flavia afirma que existe, sim, um tabu acerca do autoexame das mamas, principalmente pelo fato de que os seios são extremamente erotizados . Isso pode fazer, inclusive, com que a mulher se sinta desconfortável com os próprios peitos. "Assim como em todos os outros âmbitos da existência feminina, há uma expectativa irreal do corpo feminino que não respeita as diferenças e isso acaba incluindo também as mamas."
Darlane Andrade, professora e pesquisadora do Departamento de Estudos de Gênero e Feminismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA), complementa que essa ideia parte de uma representações da mulher "curvilínea" que geralmente é construída em revistas, propagandas, músicas, televisão, etc. "Isso colabora para colocar os seios neste lugar de objetificação e reforça a ideia de que o corpo da mulher é atrativo sexualmente", explica.
Mas apesar dessa representação do corpo feminino ser bastante difundida, a professora afirma que ainda vivemos em uma cultura que repreende a sexualidade feminina . "Neste sentido, conhecer o próprio corpo, tocá-lo, olhá-lo, apreciá-lo ainda não é prática de muitas mulheres, justamente porque somos ensinadas desde pequena a nos esconder, a cruzar as pernas, a andar com 'roupa direita', e quando nos tocamos, somos reprimidas."
"Por causa dessa cultura repressora, nós não conhecemos o nosso corpo, tanto como um corpo que sente prazer, quanto pela ideia de que ele precisa ser cuidado, porque podemos adoecer se não olharmos para nós mesmas com atenção. Essa repressão internalizada gera um sentimento de vergonha do próprio corpo e, ao meu ver, reflete na dificuldade que muitas tem em fazer o autoexame das mamas", diz.
Como romper com o tabu sobre o autoexame das mamas
Segundo a especialista, o tabu que deve ser quebrado não é sobre o autoexame que detecta o câncer de mama, mas da ideia de que o corpo da mulher é sexualizado. "Precisamos romper com essa construção de que o corpo femino só serve para atender o desejo do outro e de que não podemos nos tocar, por exemplo. Nós, mulheres, podemos aprender que nosso corpo nos pertence, que podemos conhecê-lo e aprender a apreciá-lo como ele é."
Darlane explica que conhecer o próprio corpo significa também ter saúde, se amar, se sentir bem como se é. "O movimento feminista no Brasil tem colaborado no campo da saúde da mulher e o cuidado com a saúde integral da mulher é uma tomada de consciência do que é ser mulher na nossa cultura, e assim, olhar mais para si, para seu corpo, deixando de lado a vergonha e a culpa", comenta a profissional.
Outra questão que pode ajudar nesse "rompimento" são as campanhas de consicentização. "O Outubro Rosa, por exemplo, serve para mostrar que o autocuidado, o toque no seu corpo do autoexame das mamas é importantíssimo para a prevenção de uma doença que atinge majoritariamente as mulheres. Além disso, existem diversas ONG, serviços de saúde e educação que focam em projetos que estimulem ações voltadas para a saúde integral das mulheres e que refletem diretamente nessa conscientização sobre o corpo", completa.
Evolução e importância do autoexame para detecção do câncer de mama
É precio superar tabus e estigmas e, além de conhecer o próprio corpo, usar isso a seu favor quando o assunto é tão sério quanto o câncer de mama. E esse exame ficou até mais simples com o passar o tempo.
Nos anos 80, a orientação era que a mulher deveria fazer a autopalpação das mamas a partir de uma técnica específica de autoexame e, também, em um determinado período do mês. Entretanto, essa regra não existe mais, principalmente pelo fato de que, na prática, muitas não descobriram a doença por métodos predefinidos, mas pela observação de alterações a partir da observação de alterações mamárias no dia a dia.
"A recomendação atual é que a mulher faça o autoexame sempre que se sentir confortável para tal, e esse momento pode ser no banho, na troca de roupa ou em outra situação do cotidiano. Também é importante que ela sempre preste atenção à qualquer alteração", diz a ginecologista e mastologista Flavia Tarabini.
Outra forma de detecção do câncer de mama é através da mamografia. No Brasil, desde 2015, a recomendação é que o procedimento seja oferecido a cada dois anos para mulheres entre as idades de 50 e 69 anos. Por isso, também é importante ter um acompanhamento médico adequado para se ter o auxílio necessário caso encontre algo diferente na mamografia ou no autoexame das mamas .
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