MEIO AMBIENte
Projeto-piloto é implementado em povoado no oeste do país. Pavimento de pastilhas fotovoltaicas transforma velha pista de ciclismo em fonte de energia limpa, que ainda absorve ruídos e faz a neve sobre a via derreter.
Plantações à direita, casas à esquerda e, no meio, uma ciclovia serpenteia através do bairro de Liblar, em Erftstadt, cidade cerca de 30 quilômetros a sudoeste de Colônia. Dois ciclistas sacam seus celulares para fotografar a placa de sinalização: "Inauguração da primeira rota solar da Alemanha".
Muitas pastilhas solares feitas de vidro laminado nodoso formam um tipo de tapete sobre o asfalto. "Esta é uma ciclovia de 35 anos, com desníveis e raízes de árvores", diz o inventor do tapete solar e fundador da startup Solmove, o engenheiro Donald Müller-Judex. "Nós a cobrimos do jeito que estava, colando células fotovoltaicas sobre ela." Usar a ciclovia já existente constitui uma grande vantagem da nova tecnologia, já que construir uma via é bem mais caro.
Cada uma das pastilhas, de 10 por 10 centímetros, é uma célula solar, que é interligada eletricamente e mecanicamente às outras, formando um tecido flexível. Uma camada de borracha absorve o som e conecta o tapete com a parte inferior.
Müller-Judex teve a ideia há alguns anos, quando procurava espaços abertos para sistemas solares na região do Allgäu. Todos os telhados com características apropriadas já estavam ocupados, mas havia muitas ruas pouco movimentadas iluminadas pelo sol. Segundo ele, somente na Alemanha há 1,4 bilhão de metros quadrados de ciclovias disponíveis para a produção de energia, situadas em locais de pouca sombra. Essa áreas poderiam ter, assim, dupla utilização.
Nos módulos horizontais, a radiação solar não é ideal para produção fotovoltaica. "A estrada solar gera menos eletricidade do que o modo tradicional, sobre o telhado", explica o pesquisador Lukas Renken, da Universidade Técnica da Renânia do Norte-Vestfália (RWTH), em Aachen. O instituto onde ele pesquisa testou em laboratório o revestimento criado pela Solmove, assim como tecnologias semelhantes, como a SolaRoads, da Holanda.
Usinas de geração de energia em rodovias estão surgindo em diversos países, e os projetos diferem sobretudo na construção e na disposição dos painéis.
Renken vê benefícios sobretudo na multifuncionalidade da nova pavimentação: os ladrilhos permitem a associação com circuitos de aquecimento para o inverno, iluminação LED e também de circuitos de indução para o carregamento de veículos elétricos, ou até mesmo de sensores para monitorar e controlar o tráfego – para fazer funcionar, por exemplo, um semáforo.
Na ciclovia solar, a administração da cidade não precisa gastar com o serviço de limpeza de neve e gelo durante o inverno. A pista se autodescongela com a eletricidade gerada por ela mesma. O restante da energia vai para a rede e pode ser consumida pelos moradores locais. Müller-Judex avalia que poderão ser gerados cerca de 15 mil quilowatt-hora (kWh) por ano, mais ou menos o consumo de uma família de quatro pessoas na Alemanha.
"Nós vamos, nos próximos meses, olhar para o monitor e comparar os rendimentos com a produção fotovoltaica normal, vai demorar dois a três invernos só para testarmos a calefação." Também será necessário algum tempo para se saber como o sistema resiste à geada, à sujeira e ao peso do trânsito.
A superfície deve ser autolimpante devido à estrutura de nódoas: a sujeira se acumula nas junções e é lavada pela chuva. Mas isso funciona na prática? "Há certas coisas que não conseguimos testar em laboratório", pondera Renken.
A construção-piloto, de 90 metros de extensão e cerca de 200 metros quadrados, custou cerca de 800 mil euros e foi financiada pela Iniciativa Nacional para Proteção do Clima, do governo alemão. A ministra alemã do Meio Ambiente, Svenja Schulze, se disse satisfeita por não precisar ir a Amsterdã ou Copenhague – duas das cidades mais famosas do mundo pelo amplo uso de bicicletas para o transporte urbano – para conhecer um exemplo de inovação ambiental.
Apoio estatal
Müller-Judex pede mais apoio estatal para startups de tecnologia limpa. "O que recebemos de incentivo é cerca de um décimo do disponibilizado na França ou na China", afirma, lembrando que, nesses países, estradas solares são construídas em grande estilo. Até 2020, a startup Wattway instalará na França mil quilômetros de rodovias para produção de energia solar. Para financiar o projeto, o governo aumentou o imposto sobre a gasolina.
A administração de Erftstadt também está fazendo muito para reformar sua malha de ciclovias, assumindo cerca de 10% dos custos. "Temos muitos caminhos históricos e antigas linhas ferroviárias para escoamento de minério e investimos muito dinheiro nelas", diz o prefeito Volker Erner. "Há três anos ninguém teria pensado que tal coisa seria possível." A ciclovia solar também é um projeto que serve de contraponto à exploração de minério de carvão nas proximidades.
Críticos do projeto dizem que, com o mesmo dinheiro, poderiam ser construídas ou renovadas inúmeras ciclovias convencionais. Já antes da inauguração, vândalos quebraram algumas pastilhas de vidro. Mas é claro que a pista de teste é muito mais cara do que uma rota solar produzida em grande escala.
Müller-Judex avalia que, com produção em série, o custo será de 250 euros por metro quadrado, e esse investimento daria retorno de 12 a 14 anos. Depois, o pavimento geraria eletricidade por mais dez anos. A longo prazo, a ciclovia solar deve ser mais barata que a normal, que só tem custos.
A demanda já é alta, especialmente no exterior. Na China, ônibus devem percorrer 190 quilômetros nos Jogos Olímpicos de 2022 e se carregarem indutivamente. Esta rota pode ser pavimentada com os módulos da Solmove.
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