compartilhe
A escola precisa acolher a discussão do machismo e da cultura do estupro. Foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil

Machismo
No Brasil, ocorrem anualmente cerca de 50 mil casos de estupros, mais da metade das vítimas são menores
O estupro vivido por uma adolescente, no Rio de Janeiro, colocou a discussão em torno desse tipo de violência na pauta dos recentes debates da grande mídia e das redes sociais. O esforço de algumas pessoas em promover uma reflexão responsável em torno do tema teve que rivalizar com um conjunto de discursos falaciosos e posições preconceituosas que se disseminaram com contornos que beiraram a histeria. 

Em muitos desses discursos surpreende o fato de que um dos princípios básicos que deve marcar as relações entre as pessoas foi quase que completamente ignorado: a ideia do respeito à dignidade humana. Talvez, não seja demais supor que o momento de imoralidade política que o país experimenta contribua para a legitimação de discursos dessa ordem, reforçando que é possível manter uma posição de relativismo diante de semelhantes crimes.
Alguns dados estatísticos parecem reforçar isso. No Brasil, ocorrem anualmente cerca de 50 mil casos de estupros, mais da metade das vítimas são crianças e adolescentes. O constrangimento da situação e a dificuldade de se comprovar o crime mantêm boa parte dos agressores, muitas vezes pessoas próximas às vítimas, livres. Nessas circunstâncias, é inevitável que elas se vejam sujeitas a uma segunda violência, a violência da impunidade.
Nossa sociedade machista e patriarcal institui e valoriza práticas sociais que desqualificam ou preterem as mulheres. Essas práticas contribuem para o que muitos chamam de cultura do estupro, um espaço em que homens são levados a crer que têm o direito de cometer diversos tipos de violência contra a mulher, inclusive sexual.
Nesse sentido, meios de comunicação, instituições públicas e a própria família sistematicamente vão legitimando papéis que meninos e meninas desde cedo são convidados a desempenhar. A instituição escolar não está isenta dessas práticas. O assédio a alunas e professoras é mais frequente do que se supõe, com circunstâncias que vão desde simples insinuações até abordagens mais agressivas, pautadas por ameaças ou violação da intimidade.
Os dados sobre a violência contra a mulher são absurdos e exige de todos uma crescente consciência do seu significado e de como atuar para mudá-los. A escola como espaço privilegiado de formação e socialização precisa acolher essa discussão, ajudando os estudantes a compreender esse tema em toda a sua complexidade e extensão, implicando-os como possíveis sujeitos transformadores.
Isso pode começar dentro da escola com a proposição de uma vivência cotidiana que reflita um compromisso efetivo com o respeito à todas as mulheres em tudo aquilo que elas mesmas reconhecem como aspectos marcantes de sua identidade.