Primeira transgênero a ancorar telejornal no Paquistão, jornalista defende mais direitos para comunidade trans e maior apoio de familiares.
28 mar 2018
Rejeitada pela própria família quando ainda estava na escola, a
paquistanesa Marvia Malik, de 21 anos, estudou jornalismo, financiando
seus estudos trabalhando como modelo. Ela foi escolhida pela TV Kohenoor
como a primeira apresentadora de telejornal trans do Paquistão.
Em entrevista à Deutsche Welle, Malik afirma que, durante sua carreira,
foi vítima de provocações e assédios constantes e que sua vida teria
sido mais fácil se tivesse recebido o apoio familiar.
"Quero transmitir esta mensagem a todos os pais: nunca rejeite seus
filhos, mesmo que sejam transgêneros. Ame-os, eduque-os e apoie-os. Se
você aceitá-los, a sociedade também os aceitará", diz.
DW: Parabéns por se tornar a primeira transgênero a apresentar notícias no Paquistão. Como a notícia foi recebida em seu país?
Marvia Malik:
A resposta foi esmagadora e acolhedora. Estava esperando uma reação
normal, mas as respostas e comentários que estou recebendo dos
espectadores paquistaneses e de pessoas ao redor do mundo são
extraordinários. Estou muito contente por receber tanto amor de todos.
Muitos jornalistas paquistaneses também me enviaram mensagens de
congratulações.
DW: Junaid Ansari, dono da TV Kohenoor, disse em entrevista recente
que o canal escolheu você por seu trabalho e que isso não tinha nada a
ver com seu gênero. Mas, obviamente, você não pode se livrar da imagem
de uma apresentadora de TV transgênero. Como você se sente ao ser
rotulada?
Marvia Malik:
Eu venho lutando pelos direitos da comunidade trans há muito tempo e
talvez tenha que conviver com esse rótulo. Isso é apenas um começo. Se
me oferecerem uma posição no governo, estou disposta a aceitá-la, pois
isso me dará a oportunidade de contribuir para o bem-estar de minha
comunidade, que enfrenta muitos problemas no Paquistão.
DW: Como você vê a situação da comunidade transgênero no Paquistão?
Marvia Malik:
Pessoas trans enfrentam discriminação no Paquistão e não são acolhidas
pela sociedade. Queremos ser aceitos como cidadãos iguais. Temos o
direito ao emprego e de herdar propriedades.
Também deve haver uma cota de emprego para nossa comunidade. No
Paquistão, há uma reserva parlamentar de assentos para minorias
religiosas e mulheres. Eu reivindico que o governo nos reserve cadeiras
tanto na câmara alta quanto na câmara baixa do Parlamento. Isso deveria
acontecer antes das próximas eleições gerais deste ano.
DW: Você estudou jornalismo e também trabalhou como modelo. Que dificuldades você enfrentou em sua carreira?
Marvia Malik:
Lutei muito para ser aceita. Minha família rompeu comigo quando estava
na escola, então tive que trabalhar num salão de moda para financiar
meus estudos. Trabalhei como modelo, me formei em jornalismo e consegui
um emprego na TV Kohenoor, depois de passar três meses como estagiária
lá.
A parte triste da história é que as pessoas [em geral] nunca me
apoiaram. Eu nunca recebi o respeito que a sociedade normalmente dá a
homens e mulheres. Fui vítima de provocações e assédios constantes.
Acho que as coisas teriam sido mais fáceis para mim se eu tivesse
recebido apoio da minha família. Quero transmitir esta mensagem a todos
os pais: nunca rejeite seus filhos, mesmo que sejam transgêneros.
Ame-os, eduque-os e apoie-os. Se você aceitá-los, a sociedade também os
aceitará, e eles contribuirão para o progresso do país.
Pessoas transgêneros geralmente acabam trabalhando na indústria do
entretenimento. Têm que trabalhar como dançarinas ou mesmo como
prostitutas porque suas famílias as abandonam.
DW: Você acha que, como âncora, você poderá ajudar a sua comunidade?
Marvia Malik:
Eu sou otimista. Lutaremos até conseguir nossos direitos fundamentais.
Espero que minha escolha possa motivar outras pessoas trans a trabalhar
duro. A comunidade transgênero no Paquistão deve se unir por seus
direitos.
Marvia Malik é a primeira apresentadora de notícias transgênero do
Paquistão. Ela é formada em jornalismo e trabalhou como modelo.
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