A biodiversidade em todo o mundo está em forte declínio, em um processo de perda que atinge todas as regiões do planeta. Isso reduz a capacidade da natureza de contribuir para o bem-estar da humanidade, afetando as economias, os meios de subsistência, a segurança alimentar.
Esse é o alerta de quatro relatórios lançados nesta sexta-feira, 23, pelo IPBES, uma plataforma intergovernamental que reúne mais de 500 cientistas para avaliar o estado do conhecimento sobre a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.
O trabalho analisou a situação em todas as regiões do planeta (com exceção dos polos e oceanos) e observou que, com a exceção de alguns casos, a degradação é generalizada, provocada por redução de habitats, super exploração e uso insustentável dos recursos naturais, poluição da terra, do ar e do solo, aumento em número e em grau de impacto de espécies invasoras, além das mudanças climáticas.
Para as Américas, por exemplo, o trabalho estima em mais de US$ 24 trilhões por ano o valor econômico das contribuições da natureza terrestre para as pessoas - o equivalente ao PIB de toda região. Mas 65% dessas contribuições, alertam os pesquisadores, estão em declínio. E 21% estão diminuindo fortemente. Não foram feitas análises específicas por país.
Segundo o trabalho, essa perda ocorre de várias formas. Boa parte da áreas úmidas, por exemplo, está sendo transformada pela expansão da agricultura e da urbanização. A biodiversidade marinha, em especial à relacionada com recifes de corais e mangues, tem sofrido grandes perdas nas últimas décadas, o que reduz a oferta de alimento e meios de subsistência para populações costeiras.
A região das Américas, que abrigam sete dos 17 países mais biodiversos do mundo e têm algumas das mais extensas áreas selvagens do planeta, foi considerada a que tem a maior capacidade em todo o planeta de produzir materiais naturais que podem ser consumido pelos seres humanos. Segundo o levantamento, as América contêm 40% da capacidade dos ecossistemas mundiais de ter essa produção, ao passo que abriga somente 13% da população humana global.
"Essa capacidade resulta em três vezes mais recursos fornecidos pela natureza per capita nas Américas do que os disponíveis para um cidadão global médio. Esses recursos contribuem de forma essencial para a segurança alimentar, segurança hídrica e segurança energética, bem como para o fornecimento de contribuições reguladoras como polinização, regulação climática e qualidade do ar, além de contribuições não materiais como saúde física e mental e 'continuidade cultural'", aponta o estudo.
Este é, porém, um quadro que está sob forte ameaça. De acordo com o relatório, a maior parte dos países usa a natureza de modo mais intensivo que a média global, excedendo sua capacidade de se recuperar. Os 13% da população mundial que vivem na região são responsáveis por 22,8% da "pegada ecológica" global - ou seja, o quanto de impacto a humanidade causa sobre os recursos da Terra.
E a tendência, se o uso dos recursos continuar no mesmo nível, é que a degradação só vai piorar, em decorrência de um outro fator: as mudanças climáticas. A expectativa é que o clima possa afetar negativamente a biodiversidade até 2050 tão fortemente quanto hoje impactam as pressões impostas pelas mudanças no uso da terra.
De acordo com o estudo, hoje, em média, as populações de espécies na região são cerca de 31% menores do que eram antes da chegada dos europeus às Américas. Com os efeitos crescentes da mudança climática adicionados aos outros fatores, essa perda é projetada para atingir 40% até 2050.
O relatório lembra que cerca de 25% das 14 mil espécies que vivem nas Américas são consideradas pelo União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN) como em alto risco de extinção.
Dos grupos de espécies endêmicas avaliados quanto ao risco de extinção, mais da metade das espécies no Caribe, mais de 40% na Mesoamérica e quase um quarto na América do Norte e na América do Sul estão sob alto risco, aponta o estudo.
Fonte: Estadão Conteúdo
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