quarta-feira, 4 de maio de 2022

O futuro da ciência no Brasil

Pedro Hallal

É epidemiologista, professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.

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Pedro Hallal

As eleições de 2022 serão divisoras de águas para a ciência brasileira

A cada quatro anos, a cada vez que se aproxima um processo eleitoral, os políticos costumam se lembrar das coisas que realmente importam para a vida das pessoas. Eles costumam propor soluções milagrosas para problemas complexos, como saúde, segurança, desemprego, economia, educação, entre outros. Nas eleições desse ano não será diferente.

Os responsáveis pelo fato de o Brasil ter uma mortalidade por Covid-19 cinco vezes maior do que a média mundial fingirão que a culpa não é deles e apresentarão propostas milagrosas para cuidar da saúde do povo brasileiro. Mesmo depois de terem negado a pandemia e debochado da falta de ar dos doentes.

Os defensores das armas irão mentir que estão preocupados com a nossa segurança. E, no dia em que o Brasil começar a conviver com tiroteios nas escolas, eles fingirão que não tem nada a ver com isso.

Urna eleitoral usada no pleito municipal de 2020 - Zanone Fraissat - 14.set.2020/Folhapress

Os culpados pelo fato de o Brasil ter uma das maiores taxas de desemprego de sua história recente fingirão que a culpa é dos outros e apresentarão propostas milagrosas para gerar empregos para todos os desempregados.

Os responsáveis por nos fazerem reviver o fantasma da inflação, que quebra todos os recordes desde a implantação do plano real, vão apresentar soluções geniais para acabar com a inflação no Brasil. Os mesmos que desvalorizaram o real e fazem com que tudo esteja caro vão nos mentir que os preços vão baixar e que a economia vai decolar.

Os culpados pela maior crise educacional da nossa história, que cortaram as verbas da educação brasileira, e geraram o maior escândalo de corrupção da história do Ministério da Educação vão mentir que a educação será prioridade daqui para frente.

Mas nenhuma área enfrentará um divisor de águas tão marcante nessa eleição como a ciência. Enquanto os candidatos de oposição estarão defendendo a ciência, o candidato de situação estará do outro lado, defendendo as trevas, criminalizando os cientistas, defendendo a censura, insistindo em teorias da conspiração que só servem como cortina de fumaça para esconder esquemas de corrupção, compras inexplicáveis que vão de leite condensado a Viagra, passeios de jet ski e motos, e uma incompetência inédita na história do país.

As eleições de 2022 colocarão, em lados opostos, aqueles que reconhecem que a terra é esférica e aqueles que insistem no terraplanismo.

As eleições de 2022 separarão aqueles que acreditam e investem em vacinas daqueles que negam os imunizantes e torcem pelos efeitos colaterais.

As eleições de 2022 dividirão os defensores das universidades e aqueles que as atacam.

As eleições de 2022 vão nos aproximar ou afastar de ver um cientista brasileiro finalmente ganhar um Prêmio Nobel.

As eleições de 2022 vão facilitar ou dificultar que os pobres sigam tendo acesso às universidades.

O que está em jogo é o futuro da ciência brasileira. Não há meio-termo: ou escolhemos a ciência ou escolhemos a barbárie.    

 

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