segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

A economia e o Ambiente: como conciliar?


Maurício Novaes Souza
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), é professor do IF Sudeste campus Rio Pomba.

Em todo o mundo, mas particularmente no Brasil, a preocupação está voltada para a crise financeira que atravessamos. Contudo, a questão ambiental, que deveria ser prioridade posto ser a fonte de todos os recursos utilizados nos processos produtivos, vem sendo relegada ao segundo plano. Na prática, o antigo discurso da necessidade de crescimento econômico para a geração de emprego e renda acaba prevalecendo. Ou seja, continua vigorando a visão de curtíssimo prazo, cujos resultados finais são conhecidos e previsíveis. De fato, a economia global está perdendo mais dinheiro com a destruição dos recursos naturais do que com a atual crise financeira global.
Calcula-se que os desperdícios anuais, apenas com o desmatamento, variam de US$ 3 trilhões a US$ 6 trilhões. O número inclui o valor de vários serviços oferecidos pelas florestas, como água limpa e a absorção do dióxido de carbono. Já estimado, o custo resultante da degradação da natureza ultrapassa o dos mercados financeiros globais. Cabe ainda uma consideração sobre os custos ambientais: pelo fato de serem contínuos, seus reflexos no longo prazo serão ainda maiores e de difícil quantificação. Na verdade, os economistas desconhecem ou simplesmente desconsideram os serviços ambientais prestados pela natureza.
Tais serviços ou funções, como o armazenamento de água e a regulação do ciclo de carbono, cria condição para um meio ambiente saudável, oferecendo não só água e ar limpos, chuvas, solo fértil e elasticidade das bacias fluviais, como também certas funções imprescindíveis para a manutenção da sustentabilidade, tais como: a) o processamento de resíduos (naturais e industriais); b) a proteção contra os extremos do clima; e c) a regeneração atmosférica. Por estas questões, o homem em suas atividades produtivas deve sempre considerar que os ecossistemas são sistemas abertos e integrados por todos os organismos vivos, inclusive ele próprio, e os elementos não viventes de um setor ambiental, cujas propriedades globais de funcionamento e controle derivam das relações entre todos os seus componentes, tanto pertencentes aos sistemas naturais, quanto aos criados ou modificados pelo Homem.
De fato, o desconhecimento dos profissionais da área econômica e da maioria de nossos gestores sobre conceitos básicos de ecologia e de economia dos recursos naturais e renováveis, os impedem de perceber que existem limites ao crescimento. O homem, na ânsia de sucesso e maximização de suas atividades, força o ambiente a realizar um esforço amplificador a fim de produzir um determinado resultado desejado; contudo, os ecossistemas têm sua capacidade de suporte e de regeneração que dependerá da sua resistência e da sua resiliência. Ocorrido um estresse, caso seja ultrapassado o seu limite, podem-se criar efeitos secundários que acabam reduzindo o ritmo e as chances de sucesso que uma determinada atividade vinha alcançando. Percebe-se então, que o importante é não forçar o crescimento, mas sim conhecer o ambiente e conviver dentro da possibilidade e dos fatores que o limitam.
Considere-se a situação dos ecossistemas aquáticos. De fato, a qualidade das águas de praticamente todos os rios do Brasil piorou nos últimos anos. Esse fato é o resultado do modelo de desenvolvimento atual e que afeta drasticamente as populações. É preciso apresentar respostas para escassez do recurso provocada pelo crescimento da população, o desperdício, o consumo excessivo e o aumento da necessidade de energia. Aumentar indefinidamente a demanda por água, nos dias atuais, além de colocar em perigo o meio natural, torna-se cada vez mais caro o seu tratamento e distribuição em um contexto de mudança do clima e crise financeira.
Apesar das inúmeras iniciativas governamentais e organizacionais, os efeitos efetivos ainda são discretos. Devemos refletir sobre a necessidade urgente de abandono às concepções antiquadas ligadas à produção e ao consumo, adotando a sustentabilidade socioambiental nas ações públicas e privadas, em todos os níveis, do local ao global. É preciso que sejam conhecidos e respeitados os limites do crescimento. Essas deverão ser as propostas de um novo modelo guiado pelos princípios do “Desenvolvimento Sustentável”. Contudo, o seu sucesso dependerá da participação e esforço de cada um dos habitantes, de cada comunidade, posto que o somatório das atitudes individuais trará soluções sustentáveis para os problemas relativos às questões sociais e ambientais.

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