Quase metade dos brasileiros pratica menos atividade física do que deveria para manter a saúde, o que eleva os riscos de desenvolver doenças como diabetes, senilidade e câncer.
A América Latina é a região do mundo que apresentou a maior percentagem da população que não pratica atividade física suficiente para se manter saudável, e o Brasil lidera a lista das nações sedentárias dessa região.
No país, 47% da população não praticava atividade física suficiente para se manter saudável em 2016. Na América Latina, o percentual médio era de 39,1%.
As taxas foram divulgadas nesta quarta-feira (05/09) num estudo encomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e publicado na revista científica The Lancet. A pesquisa analisou 358 sondagens realizadas em 168 países, incluindo dados de 1,9 milhão de pessoas, e considerou o período entre 2001 e 2016.
Apesar de não ter obtido dados completos de todos os países estudados – na América Latina e Caribe, por exemplo, apenas pouco mais de metade dos países tinha dados relativos à atividade física da população – o estudo, "pela primeira vez, apresenta tendências regionais e globais ao longo do tempo" e é "a descrição mais completa de níveis globais, regionais e nacionais de inatividade física".
O Brasil também registrou um dos maiores aumentos mundiais de inatividade física no período estudado, com mais de 15% de acréscimo entre 2001 e 2016 – ocorrência que foi verificada também na Bulgária, na Alemanha, nas Filipinas e em Cingapura. Já os maiores decréscimos (mais de 15%) ocorreram nas Ilhas Cook, na Jordânia, em Toquelau, Ilhas Samoa, Myanmar, Ilhas Salomão e Tonga.
O país com a maior ocorrência de atividade física insuficiente no mundo em 2016 foi o Kuwait, com 67%, enquanto o Uganda registrou a menor prevalência: 5,5%. Em 55 dos 168 países estudados, mais de um terço da população praticou atividade física insuficiente em 2016.
Mulheres são mais sedentárias
Segundo os pesquisadores da OMS, não houve melhorias nos níveis de atividade física entre mulheres e homens em 15 anos. "Nossos dados mostram que o avanço rumo ao objetivo estabelecido pelos países-membros da OMS de reduzir a inatividade física [global] em 10% até 2025 está muito lento e atrasado", diz a conclusão do texto, segundo o qual os níveis de atividade física insuficiente são particularmente altos e continuam aumentando em países de alta renda – "e, mundialmente, as mulheres são menos ativas que os homens".
A única exceção, diz o texto, é a região do Leste e do Sudeste Asiático. Já países como Bangladesh, Eritreia, Índia e Iraque registraram uma diferença de 20% ou mais nos níveis de atividade física entre homens e mulheres.
Os níveis de atividade física recomendados pela OMS por semana são de pelo menos 150 minutos em grau moderado a intenso ou 75 minutos de esforço físico forte.
Em 2016, cerca de 32% das mulheres e 23% dos homens – ou seja, um terço das mulheres e um quarto dos homens – não atingiram esse objetivo. Assim, um quarto da população mundial adulta está aumentando o risco de desenvolver diabetes, doenças cardiovasculares, senilidade e câncer. Os maiores níveis de atividade insuficiente (mais de 40%) entre as mulheres em 2016 foram registrados na América Latina e no Caribe: quase 44%. A maior inatividade masculina também foi dos homens latino-americanos: 34%.
Os autores do estudo observam que essas desigualdades precisam ser abordadas no mundo todo, por exemplo dando às mulheres acesso à prática de exercícios físicos que seja mais barato, seguro e aceito nas suas respectivas culturas.
Países ricos têm população cada vez mais inativa
O estudo mostra também que os níveis de inatividade mais do que dobram em países mais ricos em comparação com países com rendas mais baixas. Nos países ricos, a inatividade até chegou a aumentar 5% no período estudado.
Nos Estados Unidos, cerca de 40% dos adultos eram insuficientemente ativos. No Reino Unido, a taxa registrada foi de 36%. Ao todo, a inatividade em países ocidentais aumentou de 31% em 2001 para 37% em 2016.
A coautora do estudo Fiona Bull comentou que a massificação do uso de aparelhos eletrônicos – como computadores, telefones celulares e tablets, entre outros – também aumentou muito os hábitos sedentários e, consequentemente, os índices de inatividade física. "Todos usamos aparelhos eletrônicos mais frequentemente e por mais tempo, empregamos mais tempo para ir trabalhar, e esses trajetos são feitos de forma sedentária. Todos esses elementos somam", acrescentou Bull.
Outro fator para o aumento do sedentarismo em países como o Brasil, por exemplo, é a rápida urbanização, "que fez com que as pessoas abandonassem lugares onde deviam se exercitar para trabalhar, especialmente na agricultura, para instalar-se em cidades, onde estão desempregadas ou têm empregos na indústria, muito mais sedentários, e nas quais fazem movimentos repetitivos", afirmou a autora principal do estudo e especialista da OMS, Regina Guthold.
A pesquisa estimula os países a adotar políticas nacionais que estimulem a infraestrutura de meios de transporte não motorizados, o aumento da segurança em rodovias e a criação de mais oportunidades para a prática de atividades esportivas em espaços abertos e parques, no local de trabalho e outros locais das respectivas comunidades. "Estas políticas são particularmente importantes em países de urbanização rápida, como Brasil, Argentina e Colômbia, que contribuem para os altos níveis de atividade insuficiente na América Latina e no Caribe", afirma o documento.
Em junho de 2018, a OMS publicou um "plano de ação global de atividade física" entre 2018 e 2030, com o objetivo de prevenir e tratar doenças não transmissíveis, incluindo as cardiovasculares, diabetes, AVCs, câncer e também obesidade. Entre as razões para a inatividade física que resultam do aumento da urbanização, a OMS lista também a violência como um fator que dificulta o acesso à prática de esportes, por exemplo, além de elencar tráfego intenso, baixa qualidade do ar e poluição e falta de parques, calçadas e estruturas de lazer e esportes.
RK/efe/dw/ots
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