Estudo mostra que País perde R$ 480 bi em arrecadação por ano por causa da sonegação fiscal; ideia é punir mesmo após dívida ser saldada
                            
                            
                                                                        
                                                                        
                            18 set 2018 
                        
                            
                                                                                                        atualizado às 09h30
                                                            
                        
 BRASÍLIA - Na esteira da reforma tributária, um projeto em tramitação 
no Senado que acaba com a impunidade criminal de sonegadores de impostos
 que quitam seus débitos deve ganhar força no Congresso.
 Calcula-se que o Brasil perde por ano cerca de R$ 480 bilhões de arrecadação em decorrência de sonegação fiscal.
 E o País integra o grupo dos mais benevolentes com os sonegadores, ao 
lado de Colômbia, Malásia, Panamá, Portugal, República Checa e 
Cingapura, revela estudo da Fundação Getúlio Vargas realizado pelo 
coordenador de Fiscalização da Receita Federal, Flávio Campos.
 A reforma prevê simplificar o caótico sistema tributário nacional, mas 
em troca endurecer a punição contras os fraudadores. A situação 
brasileira foi agravada, nos últimos anos, pelos sucessivos Refis 
(programas de refinanciamento de dívida), que vêm permitido a empresas e
 pessoas físicas parcelar débitos - o que inclui os investigados em 
operações policiais, como Lava Jato, Zelotes e Ararath. Além do 
parcelamento, os Refis costumam oferecer descontos generosos e 
prorrogação de prazo para o pagamento. Os acordos livram os acusados de 
responder a processos por crime fiscal.
 O projeto que revoga a chamada "extinção da punibilidade dos crimes 
fiscais" nasceu durante a CPI da Previdência Social e tem o apoio da 
Receita Federal. O relator do projeto na comissão, senador Antônio 
Carlos Valadares (PSB-SE), informou ao Estadão/Broadcast que
 após a eleição vai fazer uma grande audiência pública para debater o 
projeto. O momento, disse ele, é o ideal por causa da mudança de 
governo.
 O estudo do coordenador de fiscalização da Receita mostra que mais da 
metade de 39 países listados não extingue a punição com o pagamento da 
dívida. A retirada total da culpa em caso de pagamento só acontece no 
grupo de oito países do qual o Brasil faz parte.
 Nos Estados Unidos, há possibilidade de regularização voluntária, mas a
 adesão ao programa não é garantia de que o contribuinte ficará livre da
 prisão. Dados da Receita americana, o temido IRS, mostram que, em 2016,
 80% dos infratores foram condenados à prisão. O tempo médio das penas é
 de 38 meses.
Legislação
Para o diretor da Associação Nacional dos Auditores Fiscais 
(Unafisco), Mauro Silva, que trabalhou na elaboração do projeto, o nível
 elevado de sonegação está associado à legislação que não coloca os 
infratores na cadeia. Silva destaca que a mudança na legislação não vai 
atingir o contribuinte que cometeu erro na declaração, ou seja, sem a 
intenção de sonegar.
 Ele lembra que Organização para a Cooperação e Desenvolvimento 
Econômico (OCDE), grupo de países que o Brasil quer integrar, tem 
cobrado uma ação mais firme para que as infrações fiscais sejam 
criminalizadas. Ele vê como agravante os Refis, que têm diminuído o 
potencial de risco e de arrecadação. "Para que o contribuinte vai pagar 
regularmente, se pode depois ter o Refis?", alerta Silva.
 O projeto em tramitação no Senado tomou por base a pena do crime de 
corrupção e a forma qualificada do delito a estipular a "dose" das 
penas, fixando de 2 a 12 anos de reclusão aos sonegadores. O diretor da 
Unafisco destaca que o projeto prevê redução de pena de metade, um terço
 e um quarto com o recolhimento total dos valores devidos, como 
incentivo ao pagamento.
 Para o coordenador da Receita, a mudança na legislação é fundamental, 
principalmente no momento em que viraram "febre" fraudes com o uso de 
"noteiras" (empresas de fantasma) para a geração de crédito tributário. 
"O problema é que o Brasil põe tudo dentro da mesma vala. O sujeito 
monta todo tipo de fraude, paga e fica livre da ação pena", critica.
Nem personalidades escapam em países com leis mais duras
 Em países com legislação mais rigorosa que a brasileira, como EUA, 
Alemanha e França, a prisão de sonegadores atinge celebridades e pessoas
 com grande poder econômico. O ator Wesley Snipes, que estrelou a 
trilogia 'Blade, o caçador de vampiros' e atuou em mais de 50 filmes, 
foi sentenciado em 2010 a três anos de prisão por evasão de impostos 
entre 1999 e 2001. Foi solto em 2013.
 Os craques do futebol mundial Lionel Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar 
enfrentam problemas com o Fisco da Espanha, um dos países com legislação
 dura.
 Os advogados de Cristiano Ronaldo, horas antes da Copa da Rússia, este 
ano, propuseram à Advocacia do Estado espanhol aceitar uma condenação de
 dois anos de prisão e o pagamento de multa de 18,8 milhões de euros, 
segundo fontes falaram ao jornal El País.
 No entanto, o atacante não será preso. Pela lei da Espanha, penas 
menores de dois anos podem ser cumpridas em liberdade. Messi e seu pai 
depositaram 5 milhões de euros ao Fisco espanhol este mês, ainda segundo
 a imprensa espanhola.
 Já Neymar e seus pais são acusados de corrupção, fraude e simulação de 
contratos envolvendo a compra de seu passe, então do Santos, pelo 
Barcelona. A suposta sonegação teria ocorrido entre 2011 e 2013.
 
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