O autoritarismo de governantes mancha quase à totalidade da história humana. Figuras anacrônicas do terror podem ser vistas no Museu da Maldade. De um modo ou de outro, mais ou menos intensa a violência do dono do poder, nenhuma das práticas extremistas da repressão, como método de solucionar questões humanas, políticas e sociais, deixou de precipitar-se no caos.
Adolf Hitler, Josep Stalin, Napoleão Bonaparte, Átila, Herodes, Basílio II, Rainha Rawavalana, Kim Il-Sung, Muammar Al-Kadafi e Augusto Pinochet têm suas deploráveis figuras expostas numa única, entre as muitas, salas de exposição desse deprimente museu.
Presente em várias eras, desde as mais primitivas até nossos mais próximos dias, demonstra irreprochavelmente que a violência governamental das fardas é a mais antiga e a mais irresponsável e deplorável maneira de se fazer política; em geral, vem à tona em momentos de desgaste físico e espiritual dos povos, a pretexto de combater os dissídios das lâminas e das pólvoras que corroem o tecido social.
E muitos irmãos brasileiros retomam, neste momento crítico, essas figuras monstruosas, em que sinais tanatológicos nos olhos são arranhaduras apavorantes, como “o novo”.
É preciso compreender que selfies desses mostrengos, que ousam se habilitar à presidência da República, com uma retórica que se valem de nossas justas emoções, diante da ousada e generalizada criminalidade, ainda que se comprometam permanecer nos limites dos ditames democráticos, é o mais elevado estelionato eleitoral dos últimos tempos.
Profunda filosofia sustenta que nenhum fato é isolado ou determinado por uma única causa. Felizes dos homens que conhecem a complexidade das causas dos fenômenos. A causa imediatamente antecedente dos fatos só nos dá uma explicação superficial. A insana facada desferida sobre o candidato Jair Bolsonaro, obviamente deplorável sob todas as óticas, não assenta sua raiz somente na insanidade do agressor, ainda que seja um lobo solitário. O radicalismo do candidato sempre foi reconhecido por ele mesmo, o ferro que fere como arma política. Certamente, entre outros fatores causais,avulta sua conduta provocativa reiterada nesse complexo de determinação dos acontecimentos. Um psicótico sem tratamento – cujo custo estava para além das possibilidades de seus familiares – encarnou na figura do provocador das frases temerárias, depois ditas descontextualizadas, o ódio contra o inimigo que corroía as entranhas psíquicas e físicas de sua degradada existência.
Não muito longe dessa psicose miserável está a imagem do candidato internado, de sua cama hospitalar,ao posar de dedos de um atirador. Pior, a decisão de publicitário que o apóia de prosseguir na campanha a exibir uma camisa ensaguentada e a exploração da imagem do dramático incidente.
E o Herodes que se apresenta não se distingue, ainda, das velhas políticas demagógicas, puras e torpes enganações do povão de Deus. O crime organizado movimenta perto de 6 trilhões de dólares por ano no mundo. Não é tema de um só país ou de um só governo. De braços com o narcotráfico, floresce o comércio ilegal de armas. Metade das armas leves, produzidas pela Taurus em nosso País, é objeto de evasão não contabilizada dessa magna indústria da morte. Está nas mãos de garotos sem educação básica e de egressos das penitenciárias. A solução proposta pelo salvador da pátria e seus prosélitos consiste em aumentar ainda mais essas armas, provocadoras da letalidade massiva já em toda a extensão do território nacional.
Extinguir o narcotráfico e inibir, nos marcos do direito, essa infame indústria de armamentos, ou injetar energia suja na produção do vilipêndio à desvaliosa vida humana, neste século XXI, que um dia já imaginamos ser o belo cosmos de nossas odisseias espaciais?
Amadeu Garrido de Paula – Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados
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