Os estudos dos espermatozoides começaram a avançar
quando um pesquisador cedeu à curiosidade e analisou o conteúdo de sua própria
ejaculação; hoje, pesquisas indicam que alimentos e roupas íntimas podem
influenciar a capacidade reprodutiva masculina.
9 set
2018
Pode ser
difícil acreditar, mas ainda há muito a ser descoberto sobre o sêmen e os
espermatozoides, inclusive como fabricar contraceptivos masculinos eficientes.
Crendices
dos anos 1600 especulavam que 'cada espermatozoide continha um pequeno humano
adulto pré-formado, enrolado em seu interior'
Foto: iStock/Getty Images / BBC News Brasil
Mas
também é certo dizer que muito se avançou desde o início desses estudos, há
alguns séculos - quando o mero interesse por temas ligados à sexualidade era
considerado indecente.
E você, o
quanto sabe dessa substância fundamental para nossa reprodução?
A BBC
News Mundo, serviço em espanhol da BBC, levantou cinco aspectos curiosos sobre
o espermatozoide e o líquido que o contém: o sêmen.
1. Chegou-se a pensar que o sêmen transportava
miniadultos
Na
reportagem A longa e sinuosa história da ciência do esperma... E por que ela
finalmente está indo na direção correta, publicada na revista online do
Instituto Smithsonian, a jornalista científica Laura Poppick pesquisou as
primeiras teorias sobre o sêmen, datadas dos séculos 17 e 18.
Poppick
conta que foi graças ao microscópio, aparelho à época revolucionário, que os
biólogos finalmente conseguiram ver a composição do sêmen.
Anton van
Leeuwenhoek é autor de pesquisa pioneira na área de reprodução humana
Foto: iStock/Getty Images / BBC News Brasil
"Recaiu
sobre esses primeiros pesquisadores do sêmen a tarefa de responder as perguntas
mais básicas, como por exemplo: os espermatozoides são animais vivos? São
parasitas? Cada espermatozoide contém um pequeno humano adulto pré-formado,
enrolado em seu interior?", relata a autora.
Segundo a
pesquisa de Poppick, o primeiro cientista que se dedicou a estudar o sêmen foi
o holandês Anton van Leeuwenhoek, que passou à história como o pai da
microbiologia por seu trabalho pioneiro nesse campo.
Tudo
começou quando Van Leeuwenhoek usava o microscópio para analisar piolhos e
amostras de água de lagos, em meados da década de 1670, e foi instado por
amigos a analisar os fluidos sexuais masculinos.
"Mas
não avançou, preocupado que escrever sobre o sêmen e o coito pudesse ser
indecente. Finalmente, em 1677, ele cedeu. Ao examinar sua própria ejaculação,
ele ficou imediatamente impactado pelos pequenos 'animálculos' (animais só
visíveis no microscópio) que encontrou se retorcendo ali dentro", relata
Poppick.
Cuecas
menos apertadas são benéficas à produção de espermatozoides
Foto:
iStock / BBC News Brasil
Van
Leeuwenhoek não quis compartilhar suas descobertas com seus colegas. Mas
decidiu informar a Real Sociedade de Londres (principal instituição científica
da Inglaterra) sobre suas pesquisas.
"Se
os senhores creem que essas observações podem enojar ou escandalizar os
eruditos, lhes rogo encarecidamente que as tratem como privadas e as publiquem
ou as destruam, conforme achem mais oportuno", escreveu o cientista.
A
Sociedade escolheu publicar as descobertas, em 1678, e assim nasceu um novo
campo de estudo da biologia.
Até
então, havia muitas teorias sobre a reprodução humana.
Segundo o
biólogo Bob Montgomerie, da Universidade Queen, no Canadá (também entrevistado
por Poppick), chegou-se a pensar que "o vapor emitido pela ejaculação
masculina de alguma maneira estimulava as mulheres a fazer bebês, enquanto
outros acreditavam que os homens é que fabricavam os bebês e os transferiam às
fêmeas para incubação".
E, mesmo
após as descobertas de van Leeuwenhoek, passaram-se aproximadamente 200 anos
até que os cientistas entrassem em consenso sobre como se formam os seres
humanos, afirma Bob Montgomerie.
2. A roupa íntima afeta sua qualidade
Para melhorar
a qualidade de seus espermatozoides, a recomendação atual é usar cuecas do tipo
boxers.
É que um
estudo da Escola de Saúde Pública de Harvard, publicado em 8 de agosto, parece
confirmar que o uso de cuecas mais folgadas poderia ser uma forma simples de
homens melhorem sua contagem de espermatozoides e os hormônios que os
controlam.
"As
evidências estão se acumulando na literatura de que mudanças no estilo de vida,
como um padrão dietético saudável, podem ajudar na concepção", diz
cientista
Foto:
iStock / BBC News Brasil
Participaram
do estudo 656 homens, e os que usaram boxers tiveram uma concentração de
esperma 25% maior do que os que usaram roupas íntimas mais justas.
Acredita-se
que isso se deva à temperatura mais branda ao redor dos testículos favorecida
pelos boxers, que beneficiaria a produção de esperma e no controle hormonal.
"Além
de trazer mais evidências de que roupa íntima pode impactar a fertilidade,
nosso estudo oferece provas, pela primeira vez, de que uma escolha
aparentemente casual de vestimenta pode ter efeitos profundos na produção
hormonal masculina", afirmou em comunicado Jorge Chavarro, um dos autores
do estudo.
3. A comida afeta sua qualidade
Oleaginosas
podem ajudar a manter o sêmen saudável, segundo um estudo da Universidade
Rovira i Virgili de Tarragano, na Espanha.
Os homens
que comeram cerca de dois punhados mistos de amêndoas, avelãs e nozes
diariamente por 14 semanas melhoraram sua contagem de espermatozoides e tiveram
mais "nadadores" viáveis para a fecundação, dizem os pesquisadores.
O estudo,
publicado em julho, foi feito em meio a uma preocupação de cientistas quanto a
uma aparente redução na contagem de espermatozoides em todo o mundo ocidental,
devido, em parte, à poluição, ao tabagismo e aos maus hábitos alimentares.
Segundo a
pesquisa, há evidências cada vez maiores de que uma dieta saudável pode
aumentar as probabilidades de um casal engravidar.
Entre os
119 homens de 18 a 35 anos participantes do estudo, os que comeram oleaginosas
com frequência melhoraram sua contagem de espermatozoides em 14% e a vitalidade
em 4%.
Quantidade
de espermatozoides carregada pelo sêmen pode variar enormemente
Foto:
iStock / BBC News Brasil
Segundo
os autores, isso reforça pesquisas prévias que indicavam que uma dieta rica em
ácidos graxos, ômega-3, antioxidantes e ácido fólico contribuem para a
fertilidade.
"As
evidências estão se acumulando na literatura de que mudanças no estilo de vida,
como um padrão dietético saudável, podem ajudar na concepção", afirmou o
diretor do estudo, o médico Albert Salas-Huetos.
4. Nem sempre se transporta a mesma quantidade de
espermatozoides
A
quantidade de espermatozoides produzida pelos homens varia bastante: "Em
geral, diz-se que os homens podem produzir entre 2 ml e 5 ml de sêmen cada vez
que ejaculam", explicam o biólogo Mike Leahy e a professora Hilary
MacQueen, do departamento de Vida, Saúde e Ciências Químicas da Universidade
Aberta da Inglaterra.
"E
cada mililitro pode conter de 20 milhões a 300 milhões de
espermatozoides", agregam os pesquisadores no artigo A ciência do
esperma, no site da universidade.
Isso
significa, portanto, que um homem fértil pode produzir entre 40 milhões e cerca
de 1,5 bilhão de espermatozoides no total, "embora a maioria produza entre
40 milhões e 60 milhões de espermatozoides por milímetro, resultando em uma
média de 80 a 300 milhões de espermatozoides por ejaculação", diz o
artigo.
5. Ninguém nasce produzindo
Os homens
não nascem sendo capazes de produzir esperma
Foto:
iStock / BBC News Brasil
Os homens
não nascem com a capacidade de produzir sêmen.
Essa
capacidade se desenvolve no início da puberdade, quando o sêmen começa a ser
fabricado em pequenos vasos dentro dos testículos, conhecidos como túbulos
seminíferos.
Ao serem
produzidos, os espermatozoides começam a amadurecer no epidídimo, um tubo
estreito situado na parte posterior do testículo, e no ducto deferente. De lá
eles passam à uretra.
"Todo
o processo de produção e amadurecimento dentro do corpo masculino dura até 74
dias, mas a média habitual é de cerca de 9 semanas (63 dias)", dizem os
pesquisadores da Universidade Aberta.
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