sábado, 20 de março de 2021

"Precisamos de uma revolução: se o sistema ruir, não vai ficar pedra sobre pedra"

Da educação à economia, passando pela cultura e pela política, tudo tem de mudar para combatermos as alterações climáticas, avisa Manuel Reis, presidente da nova associação ambientalista Agir pelo Planeta

“O grande problema com que nos debatemos são as alterações climáticas. Milhões de pessoas vão sofrer se não fizermos alguma coisa.” Foi esta convicção que levou Manuel Reis a fundar uma nova associação de Ambiente, a Agir pelo Planeta – para dar o seu contributo na mudança que se exige.

Um dos objetivos da organização é lutar contra a desinformação, mesmo numa altura em que praticamente só se fala de pandemia. “Temos um vírus maior entre nós: negar as evidências [das alterações climáticas].” O panorama não é o melhor. “Todos os estudos apontam para um subida de três graus. E ficamos todos na mesma? Ficamos à espera de mais um acordo?”

Mesmo os países mais desenvolvidos, que deviam estar a fazer um esforço suplementar para reduzir as emissões, continuam quase como se nada se passasse, acusa. “Quando ouvimos a notícia de que os japoneses vão inaugurar 22 centrais a carvão… Isso polui mais do que Portugal inteiro.”

O problema, acrescenta, é ser o sistema financeiro a impor as regras. Mudar é caro? É mais caro não mudar. “Precisamos de uma revolução a todos os níveis: cultural, económico, mas também político. Se não houver essa revolução, as pessoas no futuro vão pagar muito mais. Manuel Reis recorda a crise de 1929 e as ditaduras e guerra mundial que se lhe seguiu, para sublinhar que as projeções apontam para perdas económicas duas vezes superiores às da Grande Depressão. “Se o sistema ruir, não vai ficar pedra sobre pedra”, alerta.

Justiça social

Um dos passos mais importantes para pôr o mundo no caminho certo é investir na educação, diz o presidente da Agir pelo Planeta. “Devia haver uma grande transformação dos programas curriculares para passar a ideia de que somos só mais um ser entre os outros, e que a natureza não precisa de nós.”

A luta das próximas décadas, no entanto, não é exclusivamente ambiental: a sustentabilidade faz-se de maior igualdade, conclui Manuel Reis. “Enquanto não houver justiça social, não vamos resolver o problema. Aquela pessoa que tem de lutar todos os dias para colocar comida na mesa, essa eu percebo que não pense nas alterações climáticas. O que não compreendo são os que ganham milhões.”

 

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