Brasil
Especialista da Fiocruz Amazônia afirma que Brasil perdeu a luta para covid-19 lá atrás, em 2020, e que não há a menor chance de reverter situação catastrófica neste semestre.
A guerra contra a covid-19 foi perdida já em 2020 no Brasil, e o país, onde o vírus se espalha de forma descontrolada, se tornou uma ameaça para a humanidade. O alerta foi feito pelo epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia, em entrevista publicada nesta quarta-feira (10/03) pela agência de notícias francesa AFP.
O Brasil vive o auge da pandemia de covid-19. Na terça-feira, registrou quase 2 mil mortes em menos de 24 horas, um recorde. A ocupação dos leitos de UTI do Sistema Único de Saúde (SUS) destinados a pacientes com a doença já supera os 80% em 20 unidades da federação.
"A luta contra a covid-19 foi perdida em 2020 e não há a menor chance de reverter esta trágica circunstância no primeiro semestre de 2021", disse Orellana à agência francesa. "O melhor que podemos fazer é esperar o milagre da vacinação em massa ou uma mudança radical na gestão da pandemia. Hoje, o Brasil é uma ameaça à humanidade e um laboratório ao ar livre onde a impunidade (…) parece ser a regra".
Preocupação internacional
O alerta de Orellana chega no momento em que o mundo olha com preocupação para a situação no Brasil. Na sexta-feira, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que o avanço da pandemia de covid-19 no país é "muito preocupante" e instou o governo federal a tomar medidas "agressivas". "O Brasil deve levar esta luta muito a sério", disse Ghebreyesus, acrescentando que são fundamentais medidas para interromper a transmissão.
Na mesma linha de Tedros, Mike Ryan, principal especialista em emergências da OMS, disse que "agora não é hora de o Brasil ou qualquer outro lugar relaxar".
"Achamos que já saímos disto. Não saímos", disse Ryan. "Países regredirão para um terceiro e um quarto surto se não tomarmos cuidado. A chegada da vacina traz esperança, mas não devemos achar que o pior já passou. Isso só faz o vírus se espalhar mais", disse.
Na mesma semana, o jornal americano The New York Times, em reportagem, tratou a crise da covid-19 no Brasil como um alerta para o mundo todo. "Nenhuma outra nação que sofreu um surto tão grande ainda está lidando com um número recorde de mortes e um sistema de saúde à beira do colapso. Muitas outras nações duramente atingidas estão, pelo contrário, tomando medidas em direção a uma aparente de normalidade”, escreveu o jornal.
Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, também na semana passada, o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis pediu ao mundo que se "pronuncie com veemência sobre os riscos que o Brasil representa” no combate à pandemia.
Temor da variante
Preocupa especialmente especialistas e autoridades no exterior a variante de Manaus. Descoberta no fim de 2020, ela é é chamada de P.1 e está associada ao novo ápice da pandemia no Brasil. Foi devido a ela que inúmeros países restringiram a entrada de viajantes brasileiros.
Mesmo diante desse quadro, o governo de Jair Bolsonaro tem agido para enfraquecer medidas de isolamento impostas por estados e municípios, alegando que isso prejudica a economia. Na semana passada, Bolsonaro afirmou que é preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando?". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.
Ao longo da pandemia, Bolsonaro minimizou frequentemente os riscos do coronavírus, além de promover curas sem eficácia e tentar sabotar iniciativas paralelas de vacinação lançadas em resposta à inércia do seu governo na área.
A
campanha de vacinação do Brasil está progredindo lentamente. Cerca de
8,6 milhões de pessoas (4,1% da população) receberam uma primeira dose
de vacina, e cerca de 3 milhões receberam uma segunda dose.
Na terça-feira, o governo reconheceu que a campanha nacional de imunização contra a covid-19 corre o risco de ser interrompida no Brasil por falta de vacinas. O Ministério da Saúde enviou uma carta ao embaixador da China em Brasília pedindo que ele interceda junto à estatal Sinopharm para liberar 30 milhões de doses de seu imunizante ao Brasil.
rpr (AFP/ots)
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