sexta-feira, 5 de março de 2021

A corrida para derrotar o coronavírus no seu ponto de entrada (o nariz)

Pesquisas médicas  

Várias equipes desenvolvem antivirais e vacinas aspiráveis que poderiam evitar a covid-19 e os contágios para terceiros  

Nuño Domínguez  

04 mar 2021 - 12:46

Criança recebe uma vacina nasal contra a gripe, em uma foto de arquivo.
Criança recebe uma vacina nasal contra a gripe, em uma foto de arquivo.Joe Raedle / Getty Images

Aviso aos leitores: o EL PAÍS mantém abertas as informações essenciais sobre o coronavírus durante a crise.

A batalha decisiva entre o novo coronavírus e o nosso organismo é travada nos pulmões. A infecção já avançada pode levar o sistema imunológico a dar uma resposta desequilibrada à presença do agente patogênico ―a já famosa tempestade de citocinas, que pode acabar com a vida do paciente. Mas, dias antes de tudo isso acontecer, ocorre um primeiro contato entre o vírus e o organismo em outro órgão ao qual não se presta tanta atenção e que poderia ser decisivo para cortar pela raiz a infecção pelo SARS-CoV-2: o nariz. É para lá que várias equipes médicas estão voltando sua mira com a esperança de desenvolver medicamentos antivirais e vacinas nasais que não só salvem a vida dos pacientes como também impeçam a transmissão do vírus para outras pessoas.

Uma das perguntas mais urgentes para a comunidade científica é se as vacinas já aprovadas interrompem os contágios. Os ensaios clínicos mostraram que as injeções salvam quase 100% dos pacientes de formas graves da doença e da morte por covid-19. O que não está tão claro é se um vacinado pode continuar portando o vírus em suas vias respiratórias e transmiti-lo às pessoas do seu entorno. Se for assim, os cientistas preveem que o coronavírus permanecerá entre nós para sempre, embora produzindo apenas sintomas leves depois que a maioria da população estiver imunizada.

Alguns estudos recentes mostram dados animadores. O mais destacado foi feito em Israel, líder mundial em vacinação. As cifras ainda preliminares do Ministério da Saúde mostram que a vacina da BioNTech reduziu as infecções assintomáticas em 89%. Se o dado for confirmado, haveria uma importante redução da transmissão. Um segundo trabalho, publicado na revista The Lancet, aponta que a mesma vacina reduziu em 75% os casos assintomáticos entre profissionais sanitários.

Scott Gottlieb, ex-chefe da FDA (agência de medicamentos dos EUA), afirmou esta semana à CNBC que a vacina do laboratório Janssen apresentou resultados similares, embora faltem dados conclusivos. O imunizante da empresa Moderna também parece reduzir o número de casos assintomáticos, mas novamente as cifras não são totalmente claras.

Diante desta situação, algumas equipes científicas estão desenvolvendo novas formas de evitar o contágio e frear a seco a cadeia de transmissão. É algo que pode ser feito com medicamentos antivirais, que bloqueiam a entrada do SARS-CoV-2 nas células, ou com vacinas. Em ambos os produtos, a forma de administração é a mesma: um spray nasal.

Israel, por exemplo, estuda um spray para tratar os sintomas respiratórios da covid-19 “com quase 100% de eficácia”, o aerossol EXO-CD24, mas, apesar de o presidente Jair Bolsonaro demonstrar muita empolgação com o medicamento, a pesquisa deu apenas passos preliminares. A informação disponível sobre o spray que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, chamou de “milagroso” é incompleta. O laboratório do hospital de Tel Aviv ainda não publicou resultados oficiais de sua pesquisa e não se sabe, por exemplo, se foi administrado um placebo a um grupo de controle durante o teste.

 

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