O cérebro é um órgão complexo, responsável por nossos movimentos, raciocínio, inteligência, controle das emoções, do sono, da fome e de todas as atividades necessárias para nossa sobrevivência, interpretando os sinais que nosso organismo dá e os recebidos pelo ambiente. Mas diante de suas inúmeras funções, será que só usamos 10% do nosso cérebro como dizem por aí?
Vamos conferir a seguir se realmente usamos somente 10% do nosso cérebro:
1) A teoria dos “10% do cérebro”?
Muitas teorias sobre o ser humano utilizar somente 10% de seu cérebro foram criadas ao longo dos anos. Alguns indícios dessa teoria foram:
- Inicialmente, um dos fundadores da ciência cognitiva moderna, Jean Pierre Flourens, demonstrou como funcionava os hemisférios cerebrais, chamando a massa cinzenta do cérebro de “córtex silencioso”, o que fez muitos outros pesquisadores acreditarem que essa região não tinha nenhuma função.
- Posteriormente, os psicólogos William James e Boris Sidis, na década de 1890, em seus estudos informaram que todo ser humano tinha reservas escondidas de recursos mentais e físicos, desenvolvendo apenas 10% de sua habilidade mental.
- Karl Lashley, também psicólogo americano, entre 1920 e 1930, realizou pesquisas sobre o cérebro onde sugeriu que o aprendizado é governado exclusivamente pelo córtex cerebral, não existindo regiões específicas para este aprendizado adquirido, o que pôde ter dado origem à teoria dos 10%.
- Especialistas em fenômenos paranormais defendem que o cérebro só usa 10% de sua capacidade, pois se usasse mais do que isso o ser humano seria capaz de se teletransportar, levitar, ler mentes, entortar talheres com o pensamento, etc. Porém, a ciência nunca comprovou a existência desses fenômenos.
O entendimento sobre o cérebro naquela época era muito inconstante, em que se conhecia muito pouco sobre como investigá-lo, mas a teoria dos 10% era e ainda é atraente para muitas pessoas, uma vez que diz que poderíamos ser muito mais inteligentes e criativos se usássemos os outros 90% do cérebro.
2) A plasticidade de nosso cérebro
Conforme foram avançando novos estudos sobre o cérebro, descobriu-se sua plasticidade, ou seja, a capacidade dele em se remodelar de acordo com as experiências, necessidades, percepções, ações e aspectos do ambiente do ser humano. Ele é maleável e possível de se regenerar quando uma área é lesada, substituindo as funções afetadas pelas células vizinhas.
O sistema nervoso é plástico e quanto mais estimulado for, mais se aumenta seu potencial, ou seja, todas as pessoas podem usar o cérebro para fazer mais coisas do que já se sabe fazer, permitindo adaptações e aprendizagens ao longo da vida, o que torna o ser humano mais eficaz.
Assim, pode-se afirmar que o cérebro está em constante mudança. Porém, não significa que estamos explorando novas áreas do cérebro, mas sim realizando novas conexões entre as células nervosas e perdendo as velhas quando não precisamos mais delas.
3) Usamos ou não somente 10% do nosso cérebro?
Os estudos sobre o cérebro se aprofundaram mais nos últimos 30 anos, principalmente quando exames de imagens mostraram como ele funciona. Então, os indícios que provam que usamos mais do que 10% do nosso cérebro são:
- A ressonância magnética, por exemplo, é a melhor forma de investigar como o cérebro funciona, mostrando quais áreas dele estão ativas quando pensamos ou fazemos algo, como as áreas da linguagem, raciocínio, leitura, repouso, etc.
- Cada neurônio faz 20 mil contatos com outros neurônios e recebe 20 mil também de outras células, somando 40 mil envolvimentos entre eles no total.
- Para realizar coisas simples no dia-a-dia, como, por exemplo, falar poucas palavras, o cérebro faz uma grande integração de diferentes áreas, ou seja, isso requer muito mais do que 10% de uso do cérebro.
- Até mesmo quando estamos em repouso, o cérebro trabalha constantemente, controlando nossa respiração, memória e atividades do coração.
- Quando uma célula nervosa deixa de funcionar, ela morre e é colonizada por outras áreas próximas, ou seja, o cérebro nunca fica ocioso.
- O cérebro constitui 1/40 da massa total do ser humano e o seu tecido consome 20% de todo o oxigênio que respiramos, ou seja, usa 20% da energia do corpo, o que torna impossível dizer que só usamos 10% dele.
- Vários estudos de imagem sobre o cérebro mostram que nenhuma área do cérebro é totalmente silenciosa ou inativa, ou seja, todo o cérebro está ativo o tempo todo, até mesmo durante o sono.
Com tudo isso, conclui-se que a gente usa bastante nosso cérebro para tudo o que fazemos, ou seja, é impossível que os outros 90% não sejam usados, tornando a “teoria dos 10%” um mito.
4) E se só usássemos 10% do cérebro?
Vamos pensar na possibilidade de retirar os outros 90% de nosso cérebro. O que aconteceria? Se 90% fosse removido, sobraria cerca de 140 gramas de tecido cerebral, equivalente ao cérebro de uma ovelha, por exemplo. Isso causaria vários tipos de deficiências.
Mas e as doenças degenerativas, como a doença de Parkinson, por exemplo, que afetam áreas específicas do cérebro? Também não impede o cérebro de funcionar corretamente? Sim, mas esse dano é bem menor do que remover 90% dele.
Assim, sem os 90%, seríamos incapazes de fazer atividades simples, como falar, pensar, processar informações, andar, etc. Diante disso, é uma ideia equivocada pensar em usar somente os 10% do cérebro, uma vez que ele está em constante atividade e mudanças.
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