quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Como as empresas pequenas (micromultinacionais) entram em mercados globais

No início de 2003, um dinamarquês chamado Janus Friis e um sueco chamado Niklas Zennström conceberam um aplicativo e fundaram uma empresa com a ajuda de três desenvolvedores de software da Estônia. Assim nasceu uma multinacional, embora pequena e desconhecida. Eles registraram um domínio de internet e se prepararam para lançar a versão Beta do aplicativo no final daquele ano. Em 2011, a empresa foi comprada pela Microsoft por astronômicos US$ 8,5 bilhões. O aplicativo deles, o Skype, tinha se popularizado. Na verdade, eu mesmo tenho o aplicativo no smartphone que trago no meu bolso enquanto escrevo este artigo e tenho certeza de que o mesmo acontece com muitos de vocês, leitores.
Esse foi apenas um dos primeiros casos de “micromultinacionais” – empresas pequenas e empreendedoras que “nascem globais” ou que aproveitam plataformas de negócios on-line e a crescente abertura da economia mundial para entrar em mercados globais. O que viabilizou a ascensão das micromultinacionais é a realidade de que, no século 21, uma empresa não precisa ser grande para se globalizar. Hoje, bastam um dispositivo móvel, uma plataforma de envios e uma grande ideia. Mesmo a menor das empresas pode ter acesso a inovações na área de comunicação e informática que, apenas 15 anos atrás, eram inacessíveis até às grandes empresas. E esse acesso acontece quase sem custo ou a custo zero.
Trata-se de uma mudança radical: Hal Varian, economista-chefe do Google, acredita que isso revolucionará a economia mundial e a cultura do início do século 21. Penso que ele não está exagerando. Ao combinarem redes virtuais (internet de alta velocidade, comunicação móvel e outras tecnologias digitais) e redes físicas (sistemas de transporte e plataformas logísticas), as micromultinacionais têm o potencial de mudar indústrias quase que de um dia para o outro. Elas definirão nossa era da mesma forma que as grandes corporações multinacionais definiram os negócios globais no final do século 20.
Mas o que as micromultinacionais têm de especiais? Para começar, por definição, micromultinacionais são empresas de pequeno a médio porte (PMEs), um elemento criticamente importante da economia global. As PMEs representam cerca de 90% de todas as empresas do mundo, e mais de 50% dos postos de trabalho mundiais. Têm as mesmas vantagens das outras PMEs, como agilidade para responder às mudanças no mercado, um DNA colaborativo que fomenta a inovação e estão livres da inércia institucional que costuma flagelar as organizações maiores. Assim, como não poderia de ser, a escala da oportunidade representada pelas micro, pequenas e médias empresas (ou MPMEs) chamou a atenção dos observadores. Já em 2012, a McKinsey previu que, ao atenderem as MPMEs de mercados emergentes, os bancos poderiam aumentar suas reservas em 20% ao ano de 2010 a 2015.
Entretanto, embora as micromultinacionais sejam uma parte bastante importante da categoria de PME, existe uma diferença entre as micromultinacionais e as demais PMEs. As micromultinacionais têm vantagens que não estão disponíveis às PMEs que operam em um único mercado, como a capacidade de explorar as variações globais em termos de conhecimento, habilidades e custos de mão de obra. Elas podem operar seu negócio no mundo todo, ininterruptamente, em múltiplos fusos horários. Em essência, as micromultinacionais têm todos os benefícios tradicionais de serem pequenas e ágeis, além de outros que resultam da capacidade de operar e vender seus produtos e serviços em múltiplos mercados globais.
No contexto da América Latina, o Chile é um bom exemplo disso. O país tem os maiores índices de criação de novos empreendimentos voltados a essa oportunidade dentre as economias latino-americanas, e se beneficiou de um crescimento sustentável, políticas fortes e direcionadas e orientação internacional. As empresas de pequeno porte representam 99% de todas as empresas do Chile, gerando 75% dos empregos. Embora a escassez de recursos e a limitação do acesso a serviços financeiros e a fontes de inovação dificultem a atuação no mercado global, as pequenas empresas chilenas apresentam níveis cada vez mais altos de atividade internacional.
Claro que as micromultinacionais enfrentam as mesmas realidades comerciais que as demais empresas. Algumas quebrarão ou serão compradas por outras. A maioria delas não será a “próxima Skype”. Elas provavelmente serão muito mais parecidas com a Vast.com, uma provedora de soluções de big data para compradores residenciais. A empresa tem 25 funcionários que atuam em cinco fusos horários, quatro países e dois continentes. Seus executivos ficam em São Francisco, o CTO está baseado na República Dominicana e a equipe de desenvolvimento em Belgrado. Segundo o CEO, “estamos construindo a empresa de uma forma que teria sido impossível até dois anos atrás”.
Outro exemplo é a Local Motors (foto), uma empresa automotiva do Arizona que possui um diferencial. Ela não tem equipe de projetos e faz pouca pesquisa e desenvolvimento internamente. Em vez disso, possui uma rede on-line de 12 mil projetistas autônomos, em 121 países, que colaboram no desenvolvimento de projetos automotivos futurísticos. Ao contrário da maioria das montadoras, a Local Motors não possui grandes fábricas ou sofisticados escritórios globais. A empresa produz carros usando uma rede de microfábricas. Ela já projetou e fabricou 50 veículos off-road e planeja produzir outros 1.500. Baixas despesas gerais fazem com que esse modelo de negócio seja altamente bem-sucedido: a empresa possui apenas 15 funcionários em tempo integral.
Acreditamos que as micromultinacionais mudarão a forma dos negócios globais em diferentes setores industriais e fronteiras geográficas. O setor de logística tem um papel fundamental no sucesso dessas empresas e estamos nos preparando para apoiá-las fornecendo, além de uma logística rápida e confiável, muita expertise em regulamentos de importação e exportação e gestão da cadeia de suprimentos. Afinal, a promoção do comércio internacional promove também os interesses das micromultinacionais, contribuindo para a saúde das economias nacionais. E, quando isso acontece, as micromultinacionais, seus funcionários, clientes e comunidades – enfim, todos – prosperam.
 *Vice-presidente executivo de marketing e comunicação global da FedEx Services

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