domingo, 21 de agosto de 2016

EXEMPLOS OPOSTOS DE TAOISMO ECONÔMICO: O BOM E O MAU

O Taoísmo é uma religião oriental de cunho filosófico (sem um Deus por trás dela) que, entre outros postulados, prega a prática da espontaneidade (o deixar-se levar pela ação da Natureza, como, por exemplo, deixar-se levar pela onda do mar, sem mudar seu rumo). Eu até acho tal filosofia bonita, teoricamente. Mas, do ponto de vista prático, ela deveria recomendar a espontaneidade balanceada, equilibrada (ou seja, fazendo-se as intervenções que se fizerem necessárias para a sua otimização). Aqui está uma discordância entre o Taoísmo e o Confucionismo (outra religião oriental de cunho filosófico), que já admite a necessidade de intervenções na conduta humana para se chegar a bom termo.
No caso do taoísmo econômico, ele é representado no grau máximo pelos liberais e, em seguida, pelos neoliberais. Principalmente os liberais, pregam a adoção do Estado mínimo, deixando o restante da economia sob gestão do mercado ou da iniciativa privada (medida que geraria “a riqueza das nações” ou o bem-estar econômico para todos).
Como tudo na vida, o taoísmo econômico tem o seu lado bom e o seu lado mau. São exemplos de lado bom a adoção do câmbio livre ou flutuante, sem qualquer intervenção do governo na sua natural flutuação. Ele é um mecanismo que concorre para o equilíbrio do Balanço de Pagamentos de um país (notadamente a longo prazo), mas, ressalvando, não sendo o único mecanismo. O mecanismo mais importante de todos, de cunho neoconfucionista, é o do controle da natalidade, ou seja, o atingimento de baixa fertilidade das mulheres em TODOS os países do mundo (e não somente nos países mais desenvolvidos). Outro lado bom é intervir o mínimo possível na economia, de forma não forçada ou artificial, com o intuito de se evitar o inevitável: o desenrolar natural do CICLO ECONÔMICO, ou seja, o revezamento entre a alta e a baixa (a prosperidade e a recessão). Medidas forçadas ou artificiais apenas jogam a conta da intervenção ineficaz para o Estado.
Já o lado mau (plena liberdade de intervir) tem muitos exemplos. Um deles trata-se do instrumento utilizado pelo Banco Central chamado de “swap cambial”, uma espécie de derivativo ou aposta entre agentes econômicos envolvendo a cotação futura de moedas. Tal instrumento foi implementado no Brasil pelo ex-presidente do BC, Armínio Fraga, no governo FHC, e seguido pelos governos Lula e Dilma. Mas o fato concreto é que, sob a alegação falsa de que se trata de um instrumento que preserva as reservas em moeda forte do BC e diminui a volatilidade da cotação de moedas estrangeiras, quando na verdade não passa de um instrumento lesa-pátria que transfere renda do Estado para especuladores da iniciativa privada, pois, para se ter uma ideia do problema, só no ano de 2015 o BC brasileiro teve um prejuízo de R$ 89,6 bilhões nessas operações (mais um prejuízo de R$ 16, 7 bilhões, agora em janeiro de 2016). Poderíamos citar outros exemplos, mas vamos ficar por aqui, pois faremos agora uma abordagemESTRUTURAL da origem da avidez por taoísmo econômico mau ou lesivo ao Estado.
O capitalismo (propriedade privada, economia de mercado, superpopulação, baixos salários: concentração de renda) já nasceu muito desigual socialmente e tem ampliado tal desigualdade a níveis impressionantes: as 62 pessoas mais ricas já têm o mesmo que metade da população mundial, ou seja, as 62 pessoas mais ricas têm o mesmo patrimônio que 3,5 bilhões de pessoas das camadas inferiores. Como isso é possível? A resposta está na superpopulação. A mesma torna os trabalhadores cada vez mais abundantes e, por consequência, mais baratos – e, para piorar, os capitalistas ampliam este excedente via automatização cada vez maior da produção (o que aumenta a produtividade e os lucros da vanguarda do mercado, mas afeta negativamente o restante mais atrasado da economia). Esse processo é perfeito para os capitalistas no curto e médio prazos, mas, como apontou Marx, não é sustentável a longo prazo e para a economia como um TODO (porque máquinas e robôs não consomem e exigem a ampliação de unidades vendidas dos produtos por eles co-produzidos – o que resulta em ampliação da produção, de um lado, e diminuição do mercado consumidor, de outro lado; o que, por sua vez, desemboca em crise de superprodução cada vez maior, tanto é assim que já em 2016, para combater a deflação decorrente de tal superprodução, Japão e Suíça, já praticam juros básicos negativos: -0,1% e -0,7%, respectivamente). Em outros termos: a concentração da renda (decorrente da superpopulação) detona uma corrida cada vez mais acentuada pelo progresso tecnológico, resultando, via de regra, em produtos mais caros (pois, já que o consumo de tais produtos é reduzido pela concentração da renda, a saída é inovar cada vez mais, gerar cada vez mais novidades – o que ajuda a fugir da insuficiência de mercado consumidor, em termos globais, e resolver o problema apenas localizadamente, ou seja, apenas microeconomicamente e não macroeconomicamente, vale dizer, apenas para quem está na ponta do progresso tecnológico. Assim, portanto, isto é vantajoso apenas para os que estão na vanguarda de tal processo, enquanto quem fica para trás recorre ao socorro do Estado, o qual, até para amenizar o impacto social do já citado processo, acaba intervindo na economia, vale dizer, arcando com o ônus do combate à contradição grave gerada pela concentração da renda – tanto é assim que o Japão, um dos países de tecnologias mais avançadas do mundo, possui a dívida pública mais alta do mundo em termos de participação no PIB (mais de 200%). Ora, o aumento da renda per capita mundial, e não apenas de poucos países, combateria ou amenizaria satisfatoriamente tal contradição – na medida em a ascensão social das camadas mais carentes e médias aumentaria a demanda por produtos sofisticados, permitindo que se alcance um maior nível de amortização dos investimentos em tecnologias avançadas, ou seja, um maior volume de vendas de tais produtos, antes da mudança para nova matriz tecnológica (pondo um benéfico freio no que HOBSON chamou de “transformações rápidas” – que, combinadas com concentração da renda, são muito problemáticas para a economia como um todo, a longo prazo).
Resumindo o círculo vicioso, temos que: Os capitalistas utilizam diversas ferramentas para garantir a alta taxa de natalidade nas nações periféricas (só no ano passado, detectei umas 5 a 6 propagandas que, sub-repticiamente, disfarçadamente, vendiam dois produtos: um carro, por exemplo, e o apelo para que as brasileiras continuassem a ter muitos filhos, como foi o caso da propaganda do Ford Ranger e do Ford KA, entre outras). Com isto, impede-se a elevação dos salários ao mesmo tempo que se amplia a produtividade (via automatização/tecnificação/robotização). Resultado de longo prazo: mais produção frente a mercados consumidores estagnados. E tem mais: o avanço tecnológico, via de regra, gera produtos e serviços cada vez mais complexos ou sofisticados, que são caros e se contrapõem aos mercados restritos pela concentração da renda. Aí o modelo não fecha, é insustentável, pois resulta, em dados momentos críticos, em crises de superprodução (recessões, em momentos mais suaves; e depressões, em momentos mais graves). Até agora o modelo não se rompeu graças ao mecanismo keynesiano da acumulação de dívida pública – que já está com uma média em torno de quase 70% do PIB das 45 maiores economias do mundo. Portanto, este salva-vidas do capitalismo está quase que totalmente esgotado. Basta uma nova Grande Depressão, que certamente ocorrerá, se nada for mudado urgentemente, para que o povo implemente uma revolução inteligente – baseada em mudanças nas constituições/leis mundiais e criação da Organização do Direito Internacional (e não na revolução armada, que só serve para aumentar os lucros da indústria da destruição ou da morte).
Só para finalizar: Não há como impedir a universalização do socialismo ou a implementação de um SOCIALISMO MUNDIAL (economia de mercado e boa distribuição de renda, via controle da natalidade – gerando um mundo hegemonicamente de classe média alta). Assim, “(...) a imposição de uma igualdade de renda demanda a supressão da desigualdade das pessoas. Mas as pessoas são naturalmente desiguais, possuem motivações desiguais. (...) O que precisa estar garantido, é a igualdade de direitos entre todos os seres humanos, que deve estar acima de tudo e independe de quaisquer classificações como cor de pele, preferências sexuais e afins. A real demanda é garantir as condições necessárias, como oportunidades de educação básica de qualidade a todos, de forma que suas próprias motivações internas, viabilizadas por suas capacidades intrínsecas, construam seu futuro (...)” e, acrescentaríamos, de forma autônoma, soberana, livre (de mentiras religiosas, políticas, ideológicas, econômicas, etc... quando os seres humanos se tornam plenos, cultos, independentes, respeitados).

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