domingo, 21 de agosto de 2016

A POUPANÇA EM QUESTÃO

O economista que estudou mais profundamente a questão da importância da (boa) dosagem da poupança da economia foi o inglês John Atkinson HOBSON (1858-1940). Pois bem, a poupança significa, de um lado, um não consumo ou adiamento do consumo presente e, de outro, como consequência, se for excessiva, o incentivo ao superinvestimento – o qual, por sua vez, certamente, resultará numa depressão futura da economia. Em seu livro “A evolução do capitalismo moderno – um estudo da produção mecanizada” ele relata que ‘após cada um dos grandes booms ferroviários do século (XIX), na Inglaterra, por exemplo, por volta de 1847, nos Estados Unidos, antes de 1857 e 1873, na Índia, em 1878 e no continente europeu em 1873, o colapso (da atividade econômica) foi muito violento’ – como consequência do excesso de poupança gerado nessas economias. Conclui ele que tais superpoupanças jamais deveriam ser “tentadas” (investidas) pois não encontrariam “justificativa econômica” (lucratividade) “nas necessidades do comércio” (consumo final das famílias) – em função do “retraimento do consumo corrente” (presente). Assim, para ele, superpoupanças são produtivas no início e “improdutivas” lá na frente.
E, o que verificamos atualmente, de 2007 a 2011, em termos de poupança no mundo? Verificamos que países como Afeganistão, Burundi, Granada, Quirguistão, Libéria, Montenegro, Camarões, El Salvador, Porto Rico, por exemplo, apresentam poupanças negativas. E, países como a Albânia, Estados Unidos, Benin, Etiópia, Ilhas Fiji, Guatemala, Quênia, Líbano, Macedônia, Nepal, Paquistão, Ruanda, Senegal, Sérvia, Serra Leoa, Iêmen, por exemplo, apresentam poupanças positivas mas muito baixas. Tanto as poupanças negativas quanto as positivas mas baixas são maléficas para a economia pois impossibilitam de gerar investimento e emprego. E ainda temos o caso contrário das superpoupanças médias de 53% do PIB no agregado das seguintes economias: Argélia, Bahrein, Brunei, China, República do Congo, Gabão, Kuweit, Líbia, Luxemburgo, Malásia, Omã, Qatar, Cingapura e Turcomenistão. O fato é que estes últimos países superpoupadores têm que urgentemente reduzirem seus níveis de poupança/investimento (e aumentarem o consumo)  pois, do contrário se defrontarão com depressões no futuro (do mesmo modo que, contrariamente, os países de poupanças negativas ou positivas mas muito baixas precisam elevar seus níveis para alavancar a produção e o emprego).
Mas, enfim, qual deve ser o nível ideal de poupança/investimento e consumo das economias do mundo? Economias com solidez, baixa fertilidade, boa distribuição de renda e alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), equilibradas, portanto, como a Austrália, a Áustria, a Bélgica, o Canadá, a Dinamarca, a Alemanha, o Japão, a Holanda e Suécia apresentam poupanças/investimentos girando em torno de 25% do PIB e o restante, consumo das famílias, girando em torno de 75% do PIB. Portanto, o nível ideal de poupança/investimento de uma economia equilibrada deve oscilar em torno de 25% do PIB. O primeiro passo indispensável para atingir esta meta é o controle da natalidade, na medida em que possibilita uma boa distribuição de renda e impede  tanto a formação de subpoupanças (que são inflacionárias, na maioria dos casos, e geradoras de baixa produção e emprego) quanto a formação de superpoupanças (que provocam um grande crescimento no princípio do processo e uma grande depressão no final do mesmo, sendo, portanto, deflacionárias lá na frente – o que também resulta em baixa produção e emprego cíclicos).

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