O hidrogênio verde tem sido visto como uma das soluções para um futuro neutro em gás carbônico
01 de janeiro de 2022 | 08h00
A Conferência do Clima da ONU (COP-26), que se realizou na primeira semana de novembro na Escócia, depositou grandes esperanças no hidrogênio verde, o combustível que poderia, em princípio, apressar a substituição dos produtos de origem fóssil.
Mas falta muito para garantir que seja o caminho a ser trilhado na peripécia da descarbonização do planeta. Este é um tema que esta Coluna já tratou no dia 29 de julho de 2021 (A vez do hidrogênio verde), mas, dado o protagonismo esperado pelos ambientalistas, é preciso avaliar melhor do que se trata.
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As principais fontes de energia renovável, como a eólica e a solar (exceção feita à energia nuclear, que enfrenta outros problemas), têm duas importantes limitações: são intermitentes e, em grande escala, não podem ser armazenadas. Quando há pouco vento, como neste ano na Europa, ou pouco sol, a produção de energia elétrica por essas fontes é baixa. É o fator que compromete sua confiabilidade. Uma vez gerada, tem de ser imediatamente transmitida e consumida. É o que tentou explicar a então presidente Dilma Rousseff quando disse que não dá para estocar vento. Nisso, a geração hidrelétrica tem uma vantagem porque sempre se pode estocar água nos reservatórios. Mas também depende das chuvas.
O hidrogênio é uma poderosa fonte de energia. É o principal combustível dos foguetes espaciais. Mas tem de ser obtido por hidrólise da água, que é a quebra da molécula H2O submetida a uma corrente elétrica. Pode parecer inviável usar volumes colossais de eletricidade para produzir energia elétrica. No entanto, o processo tenta superar o problema da intermitência da energia renovável. A proposta é usar a energia eólica e solar (enquanto houver vento e sol) para a eletrólise, que, por sua vez, vai produzir hidrogênio verde, este, sim, armazenável.
Mas, atenção, armazenável em termos. O hidrogênio é altamente inflamável. Foi o combustível que pegou fogo em um dos mais impressionantes desastres da história, a destruição do dirigível Hindenburg, em 1937, quando morreram 37 pessoas, em New Jersey. Foi o fim da Companhia Zeppelin.
Ainda não foi desenvolvido um sistema altamente seguro e economicamente viável de transporte e armazenamento. Quando isso acontecer, o hidrogênio poderá substituir o carvão mineral e o óleo combustível em atividades intensivas em carbono.
Com alto potencial de energia eólica e solar, o Brasil é forte candidato a ser produtor e exportador de hidrogênio verde e segue tentando. Recente regulamentação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deu aval para o funcionamento de usinas híbridas, o que tende a tornar as energias renováveis mais competitivas e, consequentemente, ajudar na produção do hidrogênio verde, que já conta com plantas em instalação no País, no Complexo do Pecém (Ceará). O plano é iniciar o projeto-piloto, que conta com a parceria da White Martins e da australiana Enegix, em dois anos e as plantas de maior escala, até 2025.
A opção pelo hidrogênio verde só enfrenta um adversário potencial: o de que se encontre um meio de produzir baterias baratas capazes de armazenar energia elétrica em grande escala.
*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA
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