A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.
Alerta é do subdiretor-executivo de fundo de investimentos em clima da ONU; as secas serão mais intensas, e as enchentes, mais constantes
Se nada for feito, os efeitos das mudanças climáticas vão trazer um cenário de grandes desafios para a América Latina e para o Caribe nos próximos anos.
A região vai presenciar secas mais constantes, chuvas mais intensas e inundações de maiores proporções. E um dos setores mais prejudicados será a agropecuária.
As preocupações são de Javier Manzanares, subdiretor-executivo do Fundo Verde do Clima (Green Climate Fund), o maior fundo de financiamento climático do mundo, criado pela Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.
Um dos principais setores entre os mais prejudicados será a agricultura, com perda de produtividade, devido a extremos de seca e de frio.
O cenário do ano passado já mostrou isso. Enquanto algumas culturas foram castigadas pelo excesso de calor e pela seca, outras foram prejudicadas pelo frio intenso, como ocorreu com o café.
Para Manzanares, é necessária uma mudança de gestão ou o processo produtivo de alimentos será afetado. Para dar respostas às mudanças climáticas, o fundo quer participar mais nas Américas com investimentos em mitigação da emissão de gás de efeito estufa e na busca de maior resiliência climática.
Nesta segunda-feira (18), quando Manuel Otero assumiu o segundo mandato à frente do IICA (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura), o instituto e o FVC anunciaram uma iniciativa de redução da emissão de gás metano na pecuária, com recursos de US$ 100 milhões. A carteira do FVC é de US$ 20 bilhões.
O IICA é uma das entidades credenciadas pelo fundo para implementar projetos financiados pela sua carteira. No Brasil, o Funbio, o BNDES e a Caixa Econômica Federal também são credenciados.
Apesar de a agropecuária ser responsável por 25% das emissões de
gases, é também um setor muito sensível às mudanças climáticas, e acaba
interferindo na economia como um todo, diz Manzanares.
O setor é responsável por aproximadamente 5% do Produto Interno Bruto e
23% das exportações da região. Além disso, é responsável por 70% da água
consumida.
"Isso nos obriga a ter uma agenda prioritária na avaliação dessas mudanças climáticas, e uma administração mais eficiente da água", afirma o subdiretor do fundo.
Mas a região não é só problemas. Graças aos seus recursos naturais e à sua biodiversidade, ela pode se converter em um líder mundial em preservação, segundo Manzanares.
Economias verdes podem ter um papel central, e o bom uso e a boa administração de recursos naturais geram um poder geopolítico importante. São duas partes da mesma moeda, segundo ele.
O fundo, por meio de entidades parceiras, financia projetos que visem a redução de emissões de gases e busquem dar maior resiliência aos fatores climáticos em países em desenvolvimento. O Brasil teve sete projetos aprovados, com financiamentos de US$ 380 milhões.
Manzanares diz que os projetos aprovados em mais de uma centena de países abrangem vários setores, entre eles agricultura, florestas, uso racional da água, uso da terra, indústria e geração de energia renovável.
As exigências para que um projeto seja aprovado englobam uma série de critérios de investimentos definidos pelo fundo.
Entre elas estão a participação de comunidades beneficiárias na formulação do projeto, quanto vai ser mitigado e a que custo, como o projeto beneficia grupos vulneráveis, cofinanciamento e estimativas de benefícios ambientais, sociais e econômicos.
Além disso, benefícios gerados para mulheres, população indígena e aceitação do projeto pelo governo do país.
O subdiretor do FVC não deixa de ter preocupações com o futuro da América Latina e do Caribe. "Se não conseguirmos desenvolver mecanismos mais flexíveis e mais ágeis de controle dos efeitos do clima, não vamos dar soluções para os produtores, principalmente para os pequenos", afirma ele.
Os esforços têm de gerar mecanismos de apoio a agricultores e pecuaristas, por meio de um fluxo melhor de financiamento e pela busca de processos mais eficientes de produção.
Entidades de apoio, como o IICA, têm papel preponderante nesse quesito, segundo ele. "Se não encontrarmos solução, os efeitos das mudanças climáticas vão afetar cada dia mais a agricultura e a pecuária.
Geada prejudica plantações de café em Minas
Café A safra de 2022 renderá 55,7 milhões de sacas de café, 17% a mais do que em 2021. Apesar da alta, a produção poderia ser ainda maior, não fossem os estragos provocados pela seca e por geadas nos cafezais no ano passado.
Café 2 A produção e café arábica deverá ficar em 38,8 milhões de sacas, conforme a primeira previsão de safra da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Se confirmado, o volume terá aumento de 23%, em relação a 2021.
Café 3 A safra de café do tipo conilon sobe 4,1% neste ano, atingindo 17 milhões de sacas. Enquanto a principal produção de arábica está em Minas Gerais (27 milhões de sacas), Espírito Santo tem a liderança no conilon (11,6 milhões).
Soja Em janeiro de 2021, o produtor de soja de Mato Grosso precisava de 12,1 sacas para comprar uma tonelada de fertilizantes. Neste mês, necessita de 28,5 sacas. O aumento foi de 136%, segundo dados da MacroSector.
Soja 2 A saca passou de R$ 170,72 para R$ 176,16 no mesmo período, com evolução de 3%. Em relação a janeiro de 2020, no entanto, o aumento é de 102%. Sobre janeiro de 2019, atinge 133%. Os dados são do Cepea.
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