*Antônio Cerqueiro
02 de julho de 2021
O termo open banking tem se tornado muito conhecido. A inovação será responsável pela abertura digital do sistema financeiro e das informações dos usuários. Emerge em diferentes geografias, impulsionado por diversas forças, desde mudanças na regulamentação, passando pelo desenvolvimento de novas tecnologias e incluindo a mudança nas necessidades e expectativas dos clientes.
Em regiões como Reino Unido e União Europeia, a regulamentação tem sido o catalisador principal na adoção do open banking. Já em outros lugares, como na Índia, a tecnologia tem sido o motor da abertura dos serviços financeiros. Um exemplo disso são os novos players, que geram disrupção na indústria bancária e alavancam a digitalização de identidades dos cidadãos, dos pagamentos e de novos produtos e serviços. Enquanto isso, nos Estados Unidos e na China, o movimento é liderado pela concorrência e pelas demandas dos clientes, cada vez mais acostumados aos serviços e experiências digitais.
Em um ano em que a importância da digitalização em todos os setores e negócios ficou evidente, o open banking ganha ainda mais força. No Brasil, a iniciativa do Banco Central vai permitir novos modelos de negócios e integrar os dados e serviços dos bancos e de terceiros. Com isso, a competição com fintechs, big techs, varejistas e outros negócios não tradicionais vai acontecer de forma mais intensa e efetiva, por meio de conexões com APIs abertas e, em múltiplos casos, padronizadas. Tudo isso visando modernizar o sistema financeiro e fomentar a inclusão e a educação financeira no País.
É, de fato, a revolução aberta. E isso deve facilitar, e muito, o surgimento de novos produtos e serviços para os clientes. É uma corrida contra o tempo, na qual estão sendo criados caminhos e regulações no mesmo momento em que são enfrentados os desafios – comuns a vários setores – de mais um pico da pandemia de covid-19. É nesse contexto que os players do setor estão – ou deveriam estar – se preparando para as próximas fases do open banking no Brasil.
O open banking trará implicações aos bancos em diferentes graus, de acordo com seu tamanho. Para os bancos maiores, pode gerar intensa concorrência e perda do relacionamento primário com os clientes, fragmentação e comoditização da cadeia de valores, e uma compressão dos profit pools tradicionais. Todos esses elementos forçarão mudanças relevantes nos modelos operacionais.
Confrontados com esse cenário de mudanças, os bancos podem adotar abordagens variadas, e com ambições crescentes, visando:
Cumprir com as exigências: Assegurar, no mínimo, a conformidade regulamentar (ex.: consenso, informação de conta corrente, iniciação de pagamentos, informações de investimentos etc.).
Defender os negócios
existentes: Defender-se contra outros bancos e players puramente
digitais e melhorar a experiência do cliente em jornadas críticas (ex.:
onboarding, confirmação de identidade, consultas etc.).
Otimizar
modelos de score de crédito, prevenção a fraudes e cobrança, para
alcançar públicos subatendidos e rentabilizar as operações.
Crescer além dos negócios atuais: Lançar iniciativas para fidelizar relacionamentos, ganhar share-of-wallet, aprimorar o cross-sell e captar novos clientes, aproveitando o acesso aos novos canais.
Transformar completamente o negócio: Posicionar-se como um agregador, concentrar o relacionamento com o cliente além dos serviços puramente bancários e, para tanto, desenvolver ecossistemas que incluam casos de uso mais relevantes para as necessidades do consumidor-alvo e para a estratégia do banco.
Dada à amplitude de opções, é importante para os bancos colocar o open banking no centro de sua agenda estratégica e definir quais oportunidades perseguir e como realizá-las. Isso inclui: balancear iniciativas para otimizar o modelo de negócios já existente e melhorar a experiência do cliente; possíveis reduções de custos; criação de novas fontes de receita; mitigação de riscos; entre outras. Também é necessário buscar o desenvolvimento de novos negócios ou oportunidades, alavancar desde uma diversificação ampla de canais de distribuição até o desenvolvimento de ecossistemas com serviços abrangentes.
No que tange às novas oportunidades, a integração dos serviços do banco, para ser distribuídos por terceiros, abrange temas como: facilitação de processos de onboarding, com acesso a dados do cliente; autenticação e autorização de transações, incluindo a iniciação de pagamentos; e oferta de crédito com diversos modelos de divisão dos riscos.
Já do lado oposto, no desenvolvimento de um ecossistema ancorado na relação do banco com os clientes, se daria a integração de produtos e serviços bancários e de terceiros em uma única plataforma própria da instituição financeira, para permitir experiências de ponta a ponta mais ricas para os clientes.
Para fazer isso acontecer, a instituição financeira deve repensar seu modelo operacional e revisar suas capacidades tecnológicas, abrir o acesso a seus sistemas e garantir a utilização de metodologias de desenvolvimento ágil e flexível. Dessa forma, vai se adaptar rapidamente às mudanças do mercado e reforçar a habilidade de fechar parcerias com empresas de diversas naturezas e portes, que são fundamentais na configuração dos ecossistemas.
São muitas as possibilidades que o open banking oferece ao sistema financeiro do País. As portas estão abertas, então, também é hora de abrir os olhos e as mentes para as oportunidades.
*Antônio Cerqueiro é sócio da Bain & Company
Nenhum comentário:
Postar um comentário