O meu blog é HOLÍSTICO, ou seja, está aberto a todo tipo de publicação (desde que seja interessante, útil para os leitores). Além disso, trata de divulgar meu trabalho como economista, escritor e compositor. Assim, tem postagens sobre saúde, religião, psicologia, ecologia, astronomia, filosofia, política, sexualidade, economia, música (tanto minhas composições quanto um player que toca músicas de primeira qualidade), comportamento, educação, nutrição, esportes: bom p/ redação Enem
quarta-feira, 21 de julho de 2021
Explosão do garimpo ilegal na Amazônia despeja 100 toneladas de mercúrio na região
Problemas ambientais
Metal
encontrado em 2019 e 2020 na região de terras indígenas contamina água,
solo e ar. Estudo achou altas concentrações em quatro a cada 10
crianças menores de cinco anos nas regiões Yanomami
O incentivo ao garimpo ilegal promovido pelo Governo brasileiro nos últimos dois anos provocou uma enxurrada de mercúrio
nas águas amazônicas. Um volume estimado em 100 toneladas do metal
neurotóxico foi utilizado em 2019 e 2020 para extrair ouro ilegalmente
da região, de acordo com estimativas feitas com base em um levantamento
oficial.Esse ouro foi exportado pelo Brasil para países como Canadá, Reino Unido e Suíça.
Em
levantamento produzido em conjunto com a Universidade Federal de Minas
Gerais, o Ministério Público Federal (MPF) detectou uma quantidade de 49
toneladas de ouro lavado (extraído ilegalmente, mas documentado para parecer legalizado) com agentes comerciais que atuam na Amazônia obtido em colaboração com facções criminosas que invadem áreas protegidas em busca do metal precioso. A falsificação é feita com base em declarações fraudulentas de origem.
Dessas
49 toneladas, 17 foram lavadas no Pará —especialmente na região do
médio Tapajós, área onde vivem os indígenas da etnia Munduruku. O
prejuízo socioambiental da região, segundo o MPF, chegou a 9,8 bilhões
de reais. E o cálculo é de que a extração desse ouro foi responsável
pelo desmatamento de 21.000 hectares de floresta —derrubada para a procura do metal.
O mercúrio é um metal neurotóxico presente na natureza, mas o desmatamento, as queimadas e, principalmente, o garimpo liberam e aumentam sua concentração na atmosfera.
Seus danos costumam ser graves e permanentes. Ele pode causar
alterações diretas no sistema nervoso central, gerando problemas de
ordem cognitiva e motora, perda de visão, além de implicações renais,
cardíacas e no sistema reprodutor.
Largamente usado no
garimpo para separar o ouro de outros sedimentos não há controle oficial
sobre a quantidade usada no Brasil, mas ambientalistas estimam que para
cada grama de ouro extraído, 1,3 a 1,5 grama de mercúrio são usados.
Existem no país ao menos 2.500 lavras ilegais, a maioria delas em terras indígenas.
No vizinho Peru, que também compartilha a Amazônia, a quantidade usada
do metal chega a 185 toneladas por ano, segundo dados fornecidos pelo
WWF-Brasil.
Usado e descartado sem controle, o metal acaba por contaminar rios, peixes e quem se alimenta deles.
Segundo dados do Inventário Nacional de Emissões e Liberações de
Mercúrio, publicado em 2018 pelo Ministério da Tecnologia, Ciência,
Inovações e Comunicações, 70% do mercúrio usado no garimpo é emitido
para a atmosfera e 30% para solos, água e rejeitos. A concentração de
mercúrio costuma ser maior nos peixes em rios mais próximos a regiões de
garimpo, mas também pode ser encontrada em maior ou menor grau em
locais mais distantes.
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“Existe muito chute em relação à
quantidade de mercúrio. Não sabemos com exatidão, mas podemos dizer, com
certeza, que é muito”, aponta a bióloga Sandra Hacon, especialista em
saúde pública da Fiocruz.
“Mesmo que um garimpo seja desativado hoje, por ação policial ou de
fiscalização, o mercúrio usado ali vai continuar contaminando. Ele não
tem cheio nem cor. Não tem como mitigar isso”, explica Hacon.
A
partir desta semana, em parceria com a WWF-Brasil e o Centro de
Innovación Científica Amazónica (CINCIA), a Fiocruz lança uma plataforma
georreferenciada capaz de localizar lavras de garimpo, contaminação da
fauna e presença do mercúrio em terras indígenas. O Observatório do Mercúrio
também traz uma revisão sistemática da literatura científica sobre o
tema de 1980 a 2021, com cerca de 200 artigos e pesquisas listadas.
Mesmo em regiões sem mineração, como na bacia do rio Negro, no Amazonas,
há incidência acima do normal. Pelo Observatório do Mercúrio, é
possível perceber que se trata de um fenômeno integrado: as extensas
lavras ilegais do Peru, da Bolívia e do Equador afetam diretamente
regiões sem garimpo no Brasil. “Quanto menor a nanopartícula de
mercúrio, maior a capacidade de transporte. Seja pelos rios, seja pela
atmosfera, seja pela chuva”, completa a bióloga.
Em
muitas comunidades indígenas ou ribeirinhas de regiões amazônicas com
garimpo, as concentrações em humanos já superam o limite estabelecido
pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
—de dois microgramas de mercúrio para cada grama de cabelo. A agência
ambiental norte-americana, por sua vez, usa como parâmetro aceitável
apenas um micrograma. A Fiocruz identificou comunidades indígenas Yanomami
com medianas entre 3,2 e 15,5. “São concentrações alarmantes,
diretamente ligadas à presença do garimpo”, explica Paulo Basta,
pesquisador da Fiocruz e autor do estudo.
Segundo o
especialista em conservação do WWF-Brasil Marcelo Oliveira há uma
relação direta entre os níveis crescentes de mercúrio na região e o
avanço do garimpo e das queimadas em terras indígenas. “Tirar da
invisibilidade os danos causados pelo mercúrio é essencial para aumentar
a pressão social sobre medidas legais que interrompam esse ciclo”, diz.
O
problema, no entanto, não é exclusivo dos municípios do Norte do país.
Segundo apontam os estudos reunidos na plataforma, a contaminação por
mercúrio se espalha pela Amazônia Legal e atinge não só os rios
amazônicos, mas também os rios Cuiabá e Paraguai, já na região norte do Pantanal.
Segundo
Oliveira, o grande benefício da plataforma é combinar 13 níveis
diferentes de informação que, sobrepostos, permitem visualizar com
precisão o problema causado pelo metal. Há desde georreferenciamento de
rios e terras indígenas passando por informações sobre lavras
registradas e ilegais em áreas protegidas, até as ações ajuizadas pelo
Ministério Público Federal contra garimpeiros irregulares.
É possível visualizar, nos mapas disponíveis pela plataforma, extensas áreas de exploração mineral onde a demarcação da terra indígena é ignorada pelos garimpeiros.
A terra indígena mais afetada é da etnia Munduruku, no médio Tapajós
(PA), onde o Observatório do Mercúrio identificou 600 registros de
garimpo legalizado ou com pedido de autorização de lavra na Agência
Nacional de Mineração.
Estão identificadas áreas
contínuas de exploração em vários afluentes do Tapajós, como os rio das
Tropas, Pacu, Kabitutu, Cadariri, Kaioruá e outras dezenas de igarapés.
Ali, comunidades indígenas tentam preservar seus territórios da invasão e
permanecer imunes à contaminação pelo mercúrio. Outra terra indígena
bastante afetada pelo mercúrio é da etnia c, na fronteira do Amazonas
com a Venezuela.
Perigo silencioso
A
plataforma permite cruzar os dados geográficos do garimpo com estudos
científicos que revelam o impacto do mercúrio nas populações e na fauna
local, especialmente nos peixes
usados como alimentação pelos indígenas e ribeirinhos. Os ícones de
acesso aos artigos com a contaminação em humanos e animais são
classificados por cores: quanto mais escuros, maior o nível de
concentração de mercúrio nos organismos.
A exploração das TIs é exclusiva das populações originárias, mas os projetos de lei 191 e 490, em tramitação no Congresso,
pretendem liberar a exploração de ouro em territórios demarcados,
alterar os critérios de demarcação e permitir a passagem de estradas,
entre outras medidas —a iniciativa é defendida publicamente pelo
presidente Jair Bolsonaro, que frequentemente diz que manter os índios
isolados em suas terras é tratá-los como animais em zoológicos. Diante
do discurso permissivo do próprio Governo federal, a estratégia dos
garimpeiros, segundo o especialista do WWF-Brasil, tem sido pedir
permissão de lavra garimpeira (PLG) antes mesmo da aprovação da lei,
como forma de pressionar pela mudança.
O usufruto das
terras indígenas demarcadas é garantido pelo Estatuto do Índio a 66
territórios que abrigam cerca de 70.000 pessoas em toda a Amazônia. O PL 490 foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
da Câmara dos Deputados no final de junho, numa votação marcada por
agressões às manifestações contrárias ao projeto do lado de fora do
Congresso. Com a liberação da CCJ, o PL já pode ser votado nem Plenário.
“A questão se agrava com o acúmulo desse metal ao longo dos anos por quem se alimenta frequentemente dos peixes com algum teor de contaminação,
ainda que baixa. O organismo humano, pela frequência da ingestão, não
tem tempo suficiente para eliminar o metal, como acontece com quem
ingere peixe com algum teor de mercúrio apenas de vez em quando”,
explica Paulo Basta. Outro item da pesquisa de Basta encontrou altas
concentrações de mercúrio em quatro a cada 10 crianças menores de cinco
anos nas regiões Yanomami. Segundo estudos, indígenas da etnia consomem,
em média, cerca de 70 gramas de peixe por dia. O pescado é a principal
proteína animal consumida por eles.
Ainda que seja
difícil mensurar os danos causados pelo mercúrio no corpo humano, há
evidências de seu potencial tóxico. “O mercúrio, ao ser absorvido, afeta
diretamente o sistema nervoso central. E, nas crianças menores de cinco anos, isso é particularmente mais preocupante porque o cérebro ainda está em desenvolvimento”, explica Basta.
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