Durante a crise, a Taoca apostou nos conterrâneos que vivem em Sidney
Mesmo estando no outro lado do mundo, foi em um ingrediente
tipicamente brasileiro que Bruno Homero e Renata Santoniero encontraram a
inspiração para empreender na Austrália. Desde 2019, a dupla comanda a
Taoca, marca que se propõe a levar a tapioca para Sidney.
Bruno conta que, antes da pandemia, o negócio estava ainda nos seus
primeiros passos. Naquele momento, o foco inicial era consolidar o
produto em feiras com foco em produtos veganos e vegetarianos. “Nossa
estratégia foi começar a fazer feiras no Sydney Vegan Market, que é uma
feira enorme que acontece uma vez por mês e é frequentado por 10 mil
pessoas. Fizemos nosso primeiro market e foi um sucesso, vendemos tudo e
o feedback foi incrível. Ficamos superfelizes e decidimos seguir na
ideia mantendo nossos trabalhos, eu como engenheiro e a Renata como
arquiteta”, lembra.
Com a chegada da Covid-19 no país, os empreendedores tiveram de
adaptar o produto. O foco que antes era de comercializar as tapiocas já
preparadas, passou a ser no produto para preparo em casa. “Em março de
2020, estávamos com tudo preparado para o market de domingo, e, no
sábado, a Austrália entrou em lockdown. Todo mundo em casa, restaurantes
e comércio fechados, praias e parques fechados, apenas mercados,
farmácias e lojas de delivery ou take-away abertas. Optamos,
então, por desenvolver um produto que pudéssemos entregar na casa das
pessoas. Começamos a vender a tapioca hidratada em embalagens de 500g.
O público-alvo passou a ser a comunidade brasileira que já conhece
tapioca e tem o hábito de fazer em casa. Nos sentimos abraçados pela
comunidade, amigos e grupos de Facebook, que deram um apoio enorme, e
conseguimos manter a marca viva”, comemora Bruno, salientando que não
foi somente o apoio dos brasileiros residentes no país que fez o negócio
ganhar fôlego no período mais restritivo da pandemia.
Segundo ele, o governo australiano prestou auxílio aos
empreendedores para que os negócios continuassem vivos, a fim de
garantir a manutenção dos empregos. “O governo australiano foi incrível.
Como a economia estava parando com tudo fechado, o governo criou um
plano chamado job-keeper, que distribuía AU$3,000 / mês por funcionário
para qualquer negócio que tivesse decaído 30% das vendas desde que a
empresa não demitisse esse funcionário. A Taoca recebeu esse benefício
por meses e isso manteve o fluxo de caixa positivo enquanto os markets
não voltavam. Penso que sem esse apoio talvez o business não tivesse
sobrevivido”, acredita Bruno.
O apoio do governo, aliás, fez parte da construção da Taoca. Ainda
em fase de elaboração, a dupla recebeu uma mentoria para estruturar e
lapidar o negócio. “O governo australiano subsidia quatro sessões de
coaching para empreendedores que gostariam de abrir uma empresa. O sonho
inicial era criar uma rede de tapioca e café para franquear no futuro. A
coach a testar o produto nos markets de rua, pois assim teríamos um
custo mais baixo para descobrir como o paladar australiano receberia a
nossa famosa tapioca”, relata Bruno, que considera um desafio inserir um
produto tão típico do Brasil na rotina dos australianos. “O desafio é
educar os estrangeiros sobre o que é o nosso produto. Precisamos mostrar
que fazer tapioca em casa é fácil e divertido", pondera.
Hoje, a vida no país se aproxima da normalidade. Desde o início da
pandemia, a Austrália registrou 29 mil casos e 910 mortes por
coronavírus. Cerca de 2 milhões de pessoas já foram vacinadas no país,
que tem uma população estimada em 25 milhões. Esses números refletem na
vida de quem mora por lá. “Tudo funciona aqui dentro: boates, bares,
restaurantes e até eventos esportivos sem limite de pessoas. Contudo, as
fronteiras seguem fechadas para visitantes estrangeiros. Como residente
ou cidadão, não podemos sair do país sem uma autorização do governo,
que só é dada em casos especiais, e para retornar precisamos ficar de
quarentena por 15 dias em um hotel pagos por nós. Se tem algum caso novo
de Covid, o lockdown vem no mesmo dia para o bairro onde teve esse
caso, e a partir daí a situação se controla rapidamente”, relata Bruno,
que lamenta a situação dos empreendedores brasileiros na pandemia. “Fico
triste de acompanhar o cenário no Brasil, principalmente pelo que tem
acontecido durante a pandemia. A sensação que tenho é que, aqui, o
governo se coloca junto da população e governa para os australianos.
Quando olho para o que vem acontecendo no Brasil, penso que o governo
governa para si e os brasileiros acabam ficando em segundo plano.
Empreender aqui é ótimo, pois você se sente cidadão, o apoio aparece
quando você mais precisa”, afirma.
Isadora Jacoby - repórter do GeraçãoE
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